Uma Ceia de Natal longe da tradição
Pela primeira vez, em muitos anos, Teresa Cacama teve uma Ceia de Natal sem o tradicional cozido de bacalhau à mesa. A família contentou-se com um jantar comum, de frango no forno, com batatas coradas, uma salada básica, sumos e bolos de chocolate e cenoura. Já Marcelina Paixão, vendedora ambulante, nunca teve à mesa e nem tem ideia do que seja um cozido de bacalhau. Disse que nunca ouviu falar do prato típico português. Até às 12 horas de ontem, a senhora, que vive em Cacuaco, não sabia que tipo de peixe havia de acompanhar o funge na véspera de Natal.
Em meio à crise financeira e económica, preços altos, escassez de produtos, a cada ano que passa, as famílias tomam consciência de que o mais importante na véspera do Natal é a união familiar, ao invés da fartura à mesa. Hoje, a Ceia de Natal deixou de ser aquela mesa repleta de vários tipos de pratos e passou para um jantar familiar mais comedido, sem exageros. Devido à crise, muitos procuram poupar mais e comprar o fundamental.
Kátia Carvalho contou à nossa reportagem que teria de tudo à sua mesa, mas em quantidades muito reduzidas, comparativamente à fartura dos anos anteriores. Para ela, o Natal sem o cozido de bacalhau não é Natal.
“Sem aquela fartura! Ainda temos o bacalhau, que não pode faltar, o funge, peixe no forno, quitutes da terra e outros pratos, além dos bolos e bebidas”, adiantou Kátia Carvalho, que contou com uma ceia junto com a família, depois de participar na tradicional Missa do Galo.
A cachupa foi o prato principal da Ceia de Natal de Laureta Matias, jovem vendedora ambulante, dona de casa, que há muito tempo deixou de sentir o gostinho do bacalhau à mesa, na véspera de Natal.
“Nem me dei ao trabalho de tentar ver o preço do bacalhau. Sei que está muito caro. Este, com certeza, é o Natal mais difícil que já passámos”,disse,acrescentandoque,depois da ceia, em Viana, o caminho será a Ilha de Luanda, para um passeio com as crianças.
Na família de Maria Emília houve a rifa, ou seja, o sorteio de pratos diversos. A senhora, que vive na Ilha de Luanda, contou que a pessoa que ficou com o bacalhau reclamou muito por causa do preço alto. Num supermercado, um quilo de bacalhau (quatro postas pequenas) chega a custar mais de 16 mil kwanzas.
Além da ceia, Maria Emília contou sobre a troca de presentes. “Sou enfermeira e o meu salário não chega para quase nada. O custo de vida subiu e o poder de compra diminuiu muito. Muita coisa vai faltar, mas o que importa é a Palavra de Deus e a união entre as famílias”, afirmou.
Paulo Vemba já coordenou tudo com a esposa para a Ceia de Natal e, apesar das dificuldades, vão ter o possível à mesa, sem contar com aqueles miminhos habituais. Felizmente, para Paulo Vemba, o bacalhau ainda faz parte da ceia. Hoje, segue o almoço com a família, na Ilha de Luanda. Em relação aos anos passados, Paulo Vemba disse que este é o período de festas mais difícil que já teve.