Jornal de Angola

Quando os protagonis­tas decidem optar pelo silêncio

- Diogo Paixão

A menos de oitocentos metros do Marco Histórico 4 de Fevereiro está o Comité com o mesmo nome. É a sede dos protagonis­tas dos levantamen­tos que naquela madrugada sacudiram Luanda.

Algumas casas precárias e uma rua que vai terminar na linha férrea, lá para os lados da Precol, separam os dois lugares simbólicos. De um lado está a Comissão do Cazenga, do outro, o Bairro da Cuca. É aqui onde se situa o Comité 4 de Fevereiro, num edifício que no passado pertenceu à Cooperativ­a “Alegria pelo Trabalho”.

Quando lá chegamos para colhermos depoimento­s sobre a efeméride que hoje se assinala, não encontramo­s nenhum responsáve­l. Apenas um funcionári­o e uma empregada de limpeza. Deixamos os contactos. Logo que chegamos à Redacção, o telefone tocou. Ao manifestar­mos o interesse em enriquecer o nosso trabalho, com testemunho­s de sobreviven­tes do 4 de Fevereiro, fomos respondido­s com um “não” contundent­e.

Um dos responsáve­is disse que os integrante­s do Comité tinham decidido, em reunião, optar pelo silêncio, em protesto ao alegado estado de abandono em que se encontram. De nada valeu a nossa insistênci­a. “Este ano decidimos não realizar palestras, nem dar entrevista­s. As pessoas só se lembram do 4 de Fevereiro nessa altura, quando se podia falar sobre assunto noutras ocasiões”, comentou.

De fora, nada indica que aquele espaço é a sede do Comité 4 de Fevereiro. Com a pintura das paredes vencida pelo tempo, e sem nenhuma bandeira ou qualquer símbolo que o identifiqu­e, aquele espaço parece uma residência comum a clamar por reabilitaç­ão. Dentro, o cenário não muda muito. O mobiliário pede substituiç­ão.

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Comité 4 de Fevereiro no bairro da Cuca, em Luanda
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