Quando os protagonistas decidem optar pelo silêncio
A menos de oitocentos metros do Marco Histórico 4 de Fevereiro está o Comité com o mesmo nome. É a sede dos protagonistas dos levantamentos que naquela madrugada sacudiram Luanda.
Algumas casas precárias e uma rua que vai terminar na linha férrea, lá para os lados da Precol, separam os dois lugares simbólicos. De um lado está a Comissão do Cazenga, do outro, o Bairro da Cuca. É aqui onde se situa o Comité 4 de Fevereiro, num edifício que no passado pertenceu à Cooperativa “Alegria pelo Trabalho”.
Quando lá chegamos para colhermos depoimentos sobre a efeméride que hoje se assinala, não encontramos nenhum responsável. Apenas um funcionário e uma empregada de limpeza. Deixamos os contactos. Logo que chegamos à Redacção, o telefone tocou. Ao manifestarmos o interesse em enriquecer o nosso trabalho, com testemunhos de sobreviventes do 4 de Fevereiro, fomos respondidos com um “não” contundente.
Um dos responsáveis disse que os integrantes do Comité tinham decidido, em reunião, optar pelo silêncio, em protesto ao alegado estado de abandono em que se encontram. De nada valeu a nossa insistência. “Este ano decidimos não realizar palestras, nem dar entrevistas. As pessoas só se lembram do 4 de Fevereiro nessa altura, quando se podia falar sobre assunto noutras ocasiões”, comentou.
De fora, nada indica que aquele espaço é a sede do Comité 4 de Fevereiro. Com a pintura das paredes vencida pelo tempo, e sem nenhuma bandeira ou qualquer símbolo que o identifique, aquele espaço parece uma residência comum a clamar por reabilitação. Dentro, o cenário não muda muito. O mobiliário pede substituição.