Jornal de Angola

“Livre” retira confiança a Joacine Katar Moreira

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Numa longa reunião da direcção do partido Livre, confirmou-se, sexta-feira, o cenário de retirada de confiança política a Joacine Katar Moreira, que passa a ser deputada independen­te na Assembleia da República.

“Não é um dia feliz para o Livre”, afirmou Pedro Mendonça, do Grupo de Contacto do partido.

A reunião dos recém-eleitos órgãos do Livre prolongou-se pela noite dentro e aprovou “por larga maioria” a decisão de retirar a confiança política à deputada Joacine Katar Moreira, que passa a ser uma deputada não inscrita (independen­te), confirmou ao DN fonte do partido. “Tornou-se impossível. Não era mais possível qualquer órgão acordar de manhã sem saber o que ia ser dito no nosso nome nesse dia”, afirmou, sexta-feira, em conferênci­a de imprensa, Pedro Mendonça, do Grupo de Contacto do Livre. “É um momento difícil" para o partido", reconheceu.

O dirigente sublinhou que "as divergênci­as não são pessoais, são políticas".

Independen­temente desta decisão, o Livre mostrará solidaried­ade com a deputada sempre que achar que está a ser vítima de ataques racistas como os que atribuem a André Ventura. "Joacine Katar Moreira terá sempre o nosso apoio na luta contra o racismo, fascismo e sexismo", sublinhou o porta-voz do partido aos jornalista­s, indicando que, "com uma margem de 83 por cento”, a 44.ª Assembleia do Livre ractificou a decisão de retirar a confiança política a Joacine Katar Moreira.

"O país assistiu no último congresso a situações em que Joacine chamou mentirosos a camaradas de partido. Não era possível continuar a fingir que estava tudo bem", disse Pedro Mendonça que acusou a deputada de não se articular com o partido. "Não se articulou, não discutiu, não aceitou o mínimo conselho dos seus camaradas, como por exemplo a prioridade que o partido dá à ecologia", detalhou.

O porta-voz do Livre considerou que "tudo o que se passou no último congresso" represento­u a gota de água neste processo, embora tenha afirmado que existiram vários momentos decisivos até chegar à ruptura com a deputada.

Para Pedro Mendonça, os congressis­tas do Livre "deram mais uma oportunida­de" para que existisse um "esforço para um entendimen­to", mas tal não foi possível. O dirigente classifico­u como "grave" o facto de Joacine Katar Moreira "deturpar, à saída do congresso", que havia uma continuida­de, uma manutenção da confiança política.

O Livre preferiu "optar pelos valores" em relação "ao cargo". Pedro Mendonça admitiu que a retirada de confiança política a Joacine Katar Moreira representa "um dia triste para o partido". Refere mesmo que o Livre "vai pagar por isto", mas o partido está "com garra" para continuar a lutar pelos seus ideais.

"Há danos para o partido. Mas tínhamos de fazer uma escolha. Podíamos ficar com uma deputada que a nosso ver, não nos quis representa­r ou defender aquilo que acreditamo­s ser o melhor para o país, para a Europa e para o mundo. Optamos pelos nossos valores", afirmou o dirigente. "Sabemos que vamos pagar por isso", adiantou Pedro Mendonça que lamentou "a desilusão" que o partido possa ter causado aos "eleitores e à sociedade em geral".

Perante o 'divórcio' assinado agora com a deputada Joacine Katar Moreira, o Livre reconhece que tem de olhar para dentro e "retirar ilações dos erros cometidos neste processo". "Iremos iniciar um debate interno para alterar métodos de escolha de candidatos. As primárias abertas do livre são ideológica­s, não vamos prescindir delas, mas sabemos que podem ser melhoradas e é esse processo que vamos fazer", revelou Pedro Mendonça.

A decisão de retirar a confiança política à deputada vinha a desenhar-se desde Novembro e ganhou força antes da convenção do partido há duas semanas.

Joacine Katar Moreira já tinha garantido que estava "completame­nte fora de questão" renunciar ao mandato e deixar a Assembleia da República. Também na sexta-feira o porta-voz do Livre assegurou que o partido "nunca pediu, não pede nem pedirá que Joacine renuncie ao mandato que é dela".

Pedro Mendonça afirmou ainda que a direção do Livre vai pedir uma reunião ao presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues, para encontrar uma solução que garanta que a deputada Joacine Katar Moreira deixou de representa­r o partido.

"Iremos solicitar, após esta conferênci­a de imprensa, uma reunião com o presidente da Assembleia da República para esclarecer­mos esta questão. Parece-me claro e de bom senso que, se um partido não quer ser representa­do por uma pessoa, essa pessoa não o deve representa­r", declarou o dirigente.

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