Surto com impacto na economia
O índice composto da Bolsa de Xangai, reaberta depois de uma paralisação de duas semanas em consequência do surto de coronavirus, caiu ontem em quase 8,00 por cento, o patamar mais baixo em quatro anos.
O economista da Academia de Ciências Sociais da China Caixin, Zhang Ming, prevê, citado pelo jornal espanhol “Cínco Dias”, que o crescimento do PIB chinês pode baixar pelo menos em 1,00 ponto percentual no primeiro trimestre de 2020, em consequência do surto coronavírus declarado a 31 de Janeiro pelas autoridades daquele país.
O banco norte-americano Citi refere que a resposta das autoridades chinesas para travar o vírus vai provocar uma importante quebra na produção industrial. A previsão é de que o PIB chinês cresça este ano apenas 5,5 por cento, contra a estimativa inicial de 5,8 por cento.
A União de Bancos Suíços (UBS) também prevê uma expansão de apenas 5,5 por cento, recordando que, em 2003, durante a epidemia do SARS, a economia chinesa crescia a taxas superiores a 10 por cento.
Desde 2003, o peso da China multiplicou-se por quatro: representava 4,00 do PIB mundial e hoje equivale quase 17 por cento. A agência de “rating” Scope considera que “se o crescimento da China reduzir mais do que o previsto, poderá pôr em risco o compromisso de comprar 200 mil milhões de dólares adicionais de produtos norte-americanos nos próximos dois anos”, o primeiro passo na recente trégua comercial assinada com os Estados Unidos.
Um estudo recente do Fundo Monetário Internacional (FMI) conclui que uma descida de 1,00 por cento do PIB chinês (o número que agora está em cima da mesa) traduzir-se-ia numa retracção de 0,3 por cento em Hong Kong, Coreia do Sul e Tailândia e de 0,2 no Japão e Austrália. A transformação da China num país de serviços (o sector terciário equivale já a 54 por cento do PIB), impulsionada pelo auge da classe média, expõe países com fortes laços comerciais, como é o caso do Japão, que tem na China o seu segundo maior mercado de exportação, além de que são chineses um terço dos turistas que recebe.
A Moody’s alerta que o impacto do coronavírus no turismo chinês vai contagiar outros países da área ÁsiaPacífico e a S&P acrescenta que a expansão da epidemia poderá comprometer “a posição orçamental dos governos da Ásia”.
A decisão de Pequim de prolongar os feriados do Ano Novo vai afectar as multinacionais que têm fábricas no país. A Tesla, por exemplo, foi já obrigada a encerrar a nova mega-fábrica de Xangai. O fecho de 30 lojas do gigante sueco Ikea ou de 50 por cento da cadeia de cafés Starbucks são apenas alguns dos inúmeros exemplos do impacto da epidemia no volume de negócios e nas contas das empresas estrangeiras.