Menor perde as mãos na recolha de metais
Deflagração de mina na recolha de ferro para vender numa lixeira deixou mutilado adolescente que queria ajudar a mãe
O dia 18 de Janeiro seria mais um de brincadeira para o pequeno Rafael Kamalata Saviemba e amigos, moradores do bairro São João, na cidade do Huambo. Mas a busca por meios para a sua sobrevivência e da família, levou o pequeno a perder, abruptamente, as duas mãos. A deflagração de uma mina, quando recolhia materiais metálicos para vender, mudou a condição física do pequeno Rafael.
Numa cama do Hospital Geral do Huambo, acompanhado pela mãe, estava deitado Rafael Kamalata Saviemba, de apenas 13 anos. Cabisbaixo e e com a voz mansa, Rafael descreveu, pausadamente, o drama vivido, na lixeira próximo a uma grande superfície comercial no bairro São Pedro. “Fui à procura de metal para vender. Foi tudo muito rápido, só vi muito fumo”, disse.
Emocionado, mostra dificuldades para continuar a descrever a tragédia e começa a chorar. “Só queria ajudar a minha mãe, recolher os ferros do lixo e ir vender, para conseguir ter dinheiro para comprar comida”. O relato do menor derruba a firmeza da mãe, Felícia Sindovala, 45 anos, que tem sob a sua guarda mais sete filhos. “Fui fazer biscate. Deixei-o, com os outros, em casa”.
Separada do marido há quase seis anos, a lavadeira de profissão tentava manter a calma e não chorar. Na língua umbundu, fielmente traduzida pelo jornalista Alfredo Kutabiala, a progenitora disse: “É mesmo muito azar. Primeiro foi o marido que me deixou com as oito crianças e foi para Luanda. Agora esta desgraça com o Saviemba. É azar!”.
Apesar da desgraça, o menor conversa calmamente com a equipa médica e os familiares. “Já não vou poder estudar. Este ano iria estudar a sétima classe. Mas agora sem mãos tudo acabou”, desabafou, virando, em seguida, a cabeça para o lado.
“Está vivo por milagre. O menor chegou a esta unidade em estado de choque hipodérmico. Foi amputado a nível do bloco operatório e permaneceu quatro dias na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI),” disse o médico Domingos Eduardo Catuquessa, chefe de secção da ortopedia do Hospital Geral do Huambo, que esteve de serviço no fatídico dia 18 de Janeiro. “O estado do paciente, à entrada, foi muito grave, um caso de emergência. O menor sofreu amputações traumáticas dos dois membros superiores, do dedo grande da perna direita e múltiplos ferimentos a nível das duas pernas, coxas e lesão na bolsa escrotal”, detalhou.
Felícia Sindovala clama por apoios da sociedade. “É muita responsabilidade para uma pessoa só. Ajudem-me, por favor, com um serviço. Sou lavadeira, são oito filhos para sustentar sozinha. As pessoas de boa vontade ajudem-me, por favor, com alguns bens para sobreviver”, suplicou, com olhos lacrimejantes.
“Ajudem-me, por favor, com um serviço. Sou lavadeira, são oito filhos para sustentar sozinha. As pessoas de boa vontade ajudem-me”, apelou Felícia, a mãe do menino