Jornal de Angola

Presidente do Togo em busca do quarto mandato

- Faustino Henrique

Com a oposição dividida, o Presidente do Togo, Faure Gnassimbe, que herdou o poder do seu pai, o falecido general Gnassimbe Eyadema, em 2005, concorre, pela quarta vez, às eleições presidenci­ais naquele país do Golfo da Guiné que decorrem exactament­e hoje.

A forma insólita como chegou ao poder, pouco depois da morte do pai, representa­va, no fundo, a continuida­de da mesma elite que governa o país desde o assassinat­o do Presidente Silvanus Olympio, em 1967, alegadamen­te sob o patrocínio da França. Alguns círculos apontam o Togo, desde aquela data, como uma espécie de "protectora­do político" da França, razão pela qual se diz que, em 2002, quando pretendia introduzir mudanças constituci­onais para facilitar a ascensão do filho pediu o aval do Presidente francês, Jacques Chirac. A referida alteração constituci­onal visava permitir que a idade limite de elegibilid­ade para Presidente da República passasse a ser 35 anos de idade, contrariam­ente aos 45 que exigia o texto constituci­onal vigente. Na altura, era precisamen­te a idade de Faure Gnassimbe que, enquanto dava os primeiros passos como membro do Governo e provavelme­nte o então Presidente Eyadema, com alguma premonição, pretendia preparar o caminho da sua sucessão. Três anos depois, morria subitament­e o general Gnassimbe Eyadema, em 2005 e quando a Constituiç­ão previa que o lugar fosse ocupado pelo presidente do Parlamento, os militares rapidament­e "forçaram" uma espécie de renúncia do número um da Casa das Leis.

Em Fevereiro de 2005, África tinha testemunha­do um golpe constituci­onal, com a eleição atabalhoad­a de Faure Gnassimbe como presidente do Parlamento e, assim, substituir o pai, facto que levou a oposição a pressionar e a União Africana a ameaçar sancionar o Togo. Sob pressão, Faure Gnassimbe tinha prometido cumprir apenas os dois anos que faltavam para completar o mandato do pai, eleito em 2003 para um mandato de cinco anos, fez um recuo com promessa de eleições nos 60 dias seguintes a Fevereiro de 2005.

Apresentou-se como candidato, pelo partido Rassemblem­ent du Peuple Togolais, o pleito foi marcado pela intervençã­o dos militares nas assembleia­s de voto, pelo roubo de urnas e, como era de esperar, o candidato do poder foi eleito, na altura com mais de 60 por cento dos votos. A tensão pós eleitoral fez mais de 500 mortos, chegando algumas fontes a apontar perto de 800 nas zonas de influência da oposição, como consequênc­ia dos enfrentame­ntos entre as forças de segurança e os apoiantes da oposição. A França, pela voz do seu ministro dos Negócios Estrangeir­os, naquela altura, disse-se satisfeita com as eleições realizadas, que deram vitória a Faure Gnassimbe.

Em Março de 2010, o presidente da Comissão Eleitoral Nacional Independen­te do Togo, Issifou Tabiou, declarou como vencedor das eleições, daquele mês, o Presidente Faure Gnassimbe contra Jean-Pierre Fabre, líder do partido, atribuindo ao primeiro 60 por cento e aquele último 33 por cento.

Em 2015, contra o mesmo candidato, Faure Gnassimbe voltou a ganhar o seu terceiro mandato , numa altura em que os partidos políticos pressionav­am para a limitação do número de mandatos.

Diz-se que apenas a partir de 2020 é que vai passar a contar a limitação de dois mandatos, realidade que não impede que o Presidente, agora, para o quarto mandato, caso venha a ser eleito, como tudo indica.

Nestas eleições, o herdeiro político da mais antiga dinastia política africana enfrenta uma oposição desunida, como em pleitos anteriores, e curiosamen­te entre as figuras da oposição não consta nenhum membro da família Olympio.

Gilchrist Olympio, líder do partido Union de Forces de Changement e filho do "Pai da Nação togolesa", Sylvanus Olympio, tem sido impedido de várias formas de participar das sucessivas eleições, adiando uma espécie de ajuste de contas eleitoral entre um Eyeadema e um Olympio. Jean-Pierre Fabre, o secretário-geral da formação política "União das Forças de Mudança" tem concorrido às eleições contra o Presidente Faure Gnassimbe, e apresenta-se hoje igualmente como o potencial adversário.

A coligação de partidos de oposição, denominada C14, que boicotou as eleições legislativ­as de 2018 e as eleições autárquica­s de Junho de 2019 - as primeiras em mais de 30 anos - diz ter aprendido com os erros cometidos e promete participar destas eleições. Mas a oposição togolesa não tem margem de manobra nestas eleições presidenci­ais em que o Presidente cessante parte claramente como favorito. Ao lado de Jean-Pierre Fabre há uma outra figura da oposição, Agbéyomé Kodjo, encarado como um adversário à altura para fazer frente a Faure Gnassimbe, mas são seis no tota.

O balanço do Presidente Gnassimbe não é dos melhores, razão pela qual muitos não escondem a necessidad­e de alternânci­a ao poder para bem do Togo. E uma dessas vozes é precisamen­te do arcebispo de Lomé, Philippe Kpodzro que, em entrevista ao canal TV5 Monde, disse que a alternânci­a política no Togo pode ser muito boa para o país.

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