O Senhor das noites da Terra do Cristo Rei
Miguel Lemos é um dos principais impulsionadores de espectáculos na província Huila. Os concursos de Miss levam a sua marca e as principais noites do fim-de-semana são aquecidas pelo espaço que dirige, o Kopus Club, que no ano passado bateu na concorrência as principais casas nocturnas do país e arrebatou o prémio que, na sua opinião, deveria elevar o orgulho dos huilanos. O homem da noite, como se auto intitula, que teve de fazer uma opção importante na sua vida, entre jogar futebol e manter o negócio, mostra o sentimento que lhe vai na alma.
É conhecido como empreendedor de sucesso na província da Huíla. Afinal de contas, quem é o Miguel Lemos? É sempre a pergunta mais difícil que me fazem. Não digo que seja difícil falar de mim. Prefiro que sejam os outros a darem o seu parecer a cerca da minha pessoa. Gosto apenas de mostrar aquilo que sou: amigo dos meus amigos, focado no trabalho para contribuir no desenvolvimento da sociedade onde estamos inseridos. Sou, também, pai babado e chefe de família. Uma pessoa muito ligada à família. É possível desvendar a sua naturalidade?
Nasci em Portugal. Sou o único filho dos meus pais que nasceu fora da Huíla e de Angola. O meu pai é natural do município de Caconda e a minha mãe é de Quipungo, ambos na província da Huíla.
Os meus irmãos nasceram no Lubango e eu vim ao mundo, em Portugal, por várias circunstâncias. Ainda assim considero-me lubanguense de gema.
Tem memória do em ano que veio para o Lubango?
Vim ao Lubango com cinco anos. Foi onde cresci e me tornei homem. A primeira introspecção que um homem faz, fiz na cidade do Lubango.
Tem boas memórias da escola onde começou os seus estudos nesta cidade?
Tenho uma memória muito viva. Fiz o ensino primário na escola nº 98, no bairro da Laje, no Lubango. Na altura, ía para a escola com o meu banquinho porque a nossa turma era debaixo da árvore. Vivi essa experiência bastante marcante para qualquer criança. Não é boa, mas ensina-nos muitas coisas na fase de crescimento. Até hoje, quando passo nessa rua, sinto uma nostalgia muito grande.
Qual foi o passo seguinte?
Depois do ensino primário, na escola 98, segui para a escola Mandume, na altura, do segundo nível, para depois frequentar o III nível, na Escola “27 de Março”. Frequentei o ensino médio no IMEL e conclui a 12ª classe na Escola Portuguesa do Lubango. Nessas escolas fiz bons amigos.
Quem é o Miguel Lemos hoje? É uma pessoa focada no trabalho, com grande noção de família, que desempenha um papel importante na sociedade. Todos devemos pensar assim, porque cada um desempenha um papel fundamental na sociedade onde está inserido.
Como enveredou pelo mundo do empreendedorismo?
Acabei a minha formação em Relações Públicas e Comunicação de Marketing, em Portugal, em 2004. Quando voltei para o Lubango, senti que havia uma lacuna no que diz respeito a espaços nocturnos. Tínhamos a discoteca “O Til” que ainda funcionou até 2003, se não estou enganado. Depois disso, ficamos muito tempo sem uma casa nocturna na cidade do Lubango.
É daí que começa tudo neste ramo. Tínhamos um espaço, na altura, chamado “Café Candando”, que abrimos em 2001, no local onde se realiza anualmente a feira do Gado, no Complexo Turistico e Desportivo da Nª Srª do Monte, e pensei logo em dar o espaço para rapidamente abrir uma casa nocturna.
É assim que nasce o KopusBar, em 2005. Antes disso realizava pequenas festas e as coisas corriam bem. Era ainda um espaço muito pequeno. À medida que o tempo foi passando, fomos aumentando o local.
Era preciso ter paixão pela noite?
Sempre tive uma paixão pela noite. Gostei sempre de música e da relação que as pessoas têm com a noite, diferente da que existe durante o dia.
Às noites estamos mais e bem relaxados, até esquecemos do problema que tivemos durante o dia. Acho que durante a noite somos muito mais nós. Essa relação sempre me apaixona muito. É dai onde surge o Kopus-bar, que foi crescendo rapidamente. Fomos trabalhando dia-a-dia e sentindo essa necessidade de crescer. Dai termos a casa nocturna de referência que temos hoje. Sinto esse empreendedorismo no sangue. Isso é que me alimenta.
Em 2015, o Kopus-Club completou 10 anos de existência.
Como celebrou a primeira década?
Senti necessidade de criar uma coisa nova. Normalmente as casas nocturnas têm uma esperança de vida de 3 a 4 anos, no máximo, e depois começam a decair. Graças a Deus chegamos aos 10 anos com muito orgulho e achei que deveriamos oferecer uma coisa nova para o Lubango. É assim que em 2015 fizemos um investimento muito grande que permitiu criar uma casa completamente nova. Maio ou Junho de 2015, a única coisa que tinha do Kopus anterior a esta data era o chão. Tiramos tudo. Fizemos um pavilhão novo. Entretanto, sobrou-nos um espaço que não tínhamos ideia do que fazer. Lembreime que no Lubango não havia “suchi”, que é uma febre muito grande a nível mundial. Abrimos o Kopus-Privé, anexado ao Kopus-Club, que é um pequeno restaurante de suchi, Gyn club, um sítio onde as pessoas vão, sentam-se e não têm barulho. Nesse lugar não se toca música muito alta. É um sítio para conversar e relaxar.
Kopus-Club consegue albergar tanta gente assim?
Em 2005, tínhamos capacidade para 200 pessoas, naquelas noites muito cheias. Esse número já era considerado de pico. Hoje, o Kopus-Club tem capacidade para mil pessoas, mais ou menos. Temos a zona normal, a VIP e o hall de entrada, que tudo cheio ronda cerca de mil pessoas. Já tivemos mais do que isso, o que vai contra as normas de segurança. É um risco ter mais de mil pessoas dentro de uma casa nocturna.
Onde adquiriu a experiência?
Enquanto estudante em Portugal, saia muito à noite e fui colhendo ideias. Mas, no meu regresso de Portugal, não vim com a ideia de abrir uma casa nocturna na cidade do Lubango. A ideia veio, porque senti que havia essa necessidade na urbe, para acolher, animar e divertir os jovens. Quando abri o espaço, não havia jogo de luzes. Tínhamos apenas quatro colunas pequenas e um robozinho, que ficava a girar a noite toda e não havia sistema de luz algum.
Então, o que é o mais importante ter num espaço igual?
O mais importante num espaço, às vezes, é a alma que transmitimos para os outros. Na altura, tinha muitos amigos que se juntavam ao espaço e não queriam saber se tinha luz, som ou outros coisas. Era um sítio agradável.
“Sempre tive uma paixão pela noite. Gostei sempre de música e da relação que as pessoas têm com a noite