Atracção obsessiva por Angola
A atracção, que chega a ser obsessiva, pelos problemas angolanos por parte de certos meios e indivíduos estrangeiros, jornais, rádios, televisões, de jornalistas a comentadores, passando pelos que fazem da política profissão, reflecte amiúde sintomas neocolonialistas.
Portugal, pelas afinidades com Angola, é das nações onde mais sobressaem aqueles sinais motivados por uma série de circunstâncias, entre elas o complexo de superioridade que, ainda hoje, na segunda década do século XXI, prevalece em muitas mentalidades não apenas naquele país, sublinhe-se, em abono da verdade, como na generalidade do que vulgarmente se designa por Ocidente, mas, também, noutras zonas do globo, sobre tudo que se relaciona com a África.
Aquele “complexo de superioridade” apenas aparente por jamais conseguir esconder o sentimento de inferioridade próprio de ressabiados, incapazes de entenderem que, no nosso caso, somos um país soberano e como tal tem de ser tratado. Nunca com altivez, tão-pouco com paternalismo, porventura, a pior forma de discriminação, humilhação que, infelizmente, há quem aceite com sorriso de agradecimento.
O Ocidente tem de começar a entender aquilo que, desde sempre, não lhe conveio perceber, que não pode, para seu próprio bem, teimar em querer impor modelos e soluções desajustados ao nosso continente, aos nossos países, sequer “programas de ajuda” interesseiros. Que o tempo de pilharem nossas riquezas em troca de pequenos espelhos, missangas de vidro, encantarem-nos com qualquer bugiganga já lá vai, mesmo que recentemente, no caso de Angola, novos piratas, já não transportados em naus, nem alimentados a carne seca guardada em porões quentes e mal cheirosos como eles, em viagens de meses por mares tenebrosos, mas em jactos moderníssimos, alguns privados, em voos de curtas horas, a emborcarem bebidas caríssimas a acompanharem caviar, lagostas, ostras, tudo servido por atenciosas hospedeiras.
Os novos piratas, não cheiravam mal como os antepassados deles, mas a águas de colónia com odores desconhecidos a nossos olfactos, não vestiam calças e casacos de lã, mas roupa de seda, nem cobriam a cabeça com gorros do mesmo tecido grosso e quente substituídos por geles. Ao contrário dos primitivos não provaram na pele a quentura do nosso sol. Os automóveis que os levavam de um lado para o outro tinham ar condicionado, como os hotéis onde ficavam, restaurantes que frequentavam, gabinetes onde negociavam chorudas e fáceis negociatas. E foram essas aparências de “vida boa” que deslumbraram alguns de nós que se juntaram à pilhagem em redes interligadas com nós criminosos. Uns e outros, amparados na imunidade dominante, alargaram campos de acção, estenderam-nos ao país todo. Uns e outros mandaram vir de fora miseráveis, para praticamente todos os sectores, transformados em mulas de divisas. Que iam e vinham numa roda viva descarada. E quando demos por isso, foi o que se sabe. Quando a crise económica mais do que anunciada chegou, sem estarmos minimamente preparados, alguns dos saqueadores dos tempos modernos foram embora, para onde tinham contas a abarrotar de dinheiro que roubaram e ajudaram a roubar, como “guarda de honra avançada” de comparsas angolanos que corromperam e ensinaram a ser corruptos. Na esperança de ainda lhes trazerem mais umas tantas malas de notas.
Angola volta a estar, desta vez por culpa dos rapinadores do erário, nas “bocas do mundo” e a ser manchete de várias publicações, abertura de espaços noticiosos de emissoras radiofónicas e televisivas, além de tema de debates, em vários países ocidentais, principalmente Portugal. Como se à volta deles fosse tudo um “oceano de rosas”.
O Ocidente tem de começar a entender aquilo que, desde sempre, não lhe conveio perceber, que não pode, para seu próprio bem, teimar em querer impor modelos e soluções, desajustados ao nosso continente