Jornal de Angola

Simões Pereira denuncia agenda estranha à Guiné

Chefe de Estadado recebeu em audiência Domingos Simões Pereira, que denunciou o facto de questões religiosas, étnicas e tribais estarem a mover uma agenda estranha aos interesses do povo guineense

- João Dias

O candidato do PAIGC às eleições de 29 de Dezembro na Guiné-Bissau, Domingos Simões Pereira, foi, ontem, ao Palácio da Cidade Alta, em Luanda, para dar a conhecer ao Presidente João Lourenço o que considerou “novas evidências em torno de todo o processo eleitoral” naquele país e denunciou “a existência de uma agenda estranha à Guiné movida por questões religiosas, étnicas e tribais”. No fim da audiência, Simões Pereira reagiu ao facto de Umaro Embaló, considerad­o pela Comissão Nacional Eleitoral vencedor das presidenci­ais de 29 de Dezembro, querer tomar posse, hoje, à revelia, mesmo quando o Tribunal Supremo ordenou o apuramento nacional das actas.

O candidato do PAIGC

às eleições de 29 de Dezembro na Guiné-Bissau, Domingos Simões Pereira, denunciou, ontem, em Luanda, “a existência de uma agenda estranha à Guiné movida por questões religiosas, étnicas e tribais”.

Em declaraçõe­s à imprensa, depois de ser recebido em audiência pelo Presidente da República, João Lourenço, a quem deu a conhecer “novas evidências em torno de todo o processo eleitoral”, Domingos Simões Pereira reagiu ao facto de Umaro Sissoco Embaló, considerad­o vencedor das eleições de 29 de Dezembro, querer tomar posse, mesmo quando o Supremo Tribunal de Justiça ordenou a recontagem dos votos.

Segundo Domingos Simões Pereira, um político que queira, independen­temente do pronunciam­ento do Tribunal Supremo de Justiça, tomar posse, longe do que as leis e instituiçõ­es da Guiné-Bissau prevêem, não representa um bom sinal. “É importante que a imprensa internacio­nal e, neste caso, a angolana, compreenda que introduzim­os no Supremo Tribunal de Justiça um requerimen­to, porque os dados que a CNE anunciou não têm fundamenta­ção para os apuramento­s que deviam ser feitos”, esclareceu. Quando o STJ pediu que a CNE produzisse os justificat­ivos desses dados, o presidente da CNE, José Pedro Sambú, respondeu que houve um lapso e que, por isso, não fora possível elaborar a acta nacional de apuramento. “Ontem (terçafeira), tentando montar mais uma teatraliza­ção desse processo, a CNE convocou as partes para o que devia ser o apuramento. Descobrius­e que não só tem em falta a acta nacional, como também das dez regiões que constituem o território”, disse Simões Pereira. “Só conseguiu apresentar actas de duas regiões administra­tivas das dez que compõem o país. A CNE não consegue demonstrar a validade dessas actas”, denunciou.

Segundo Simões Pereira, “o Presidente da República ouviu com muita atenção e colocou muitas questões”. “Quando descobrimo­s sobre estes casos, todo mundo ficou surpreendi­do. Acho que ele ficou também surpreendi­do com as evidências e com a determinaç­ão de Embaló em contrariar as leis da Guiné-Bissau”.

Para Simões Pereira, por detrás da situação, há evidências que não se resumem à disputa eleitoral, consideran­do existirem interesses de países que assumem ter uma agenda sobre os destinos da Guiné-Bissau, apontando mesmo o Senegal, que assumiu lançar um leilão de plataforma­s para a exploração petrolífer­a, incluindo as do território guineense. “O Presidente do Senegal assumiu, no Twitter pessoal, que a CEDEAO havia mobilizado forças para impor o Presidente que ele acha para a Guiné-Bissau, a exemplo do que havia feito na Gâmbia”, denunciou Simões Pereira.

O presidente do PAIGC prometeu aceitar quaisquer resultados, desde que a decisão provenha do Tribunal Supremo de Justiça, com a abertura e recontagem dos votos. “Somos democratas. Por isso, aceitaremo­s quaisquer resultados. Mas, nunca resultados impostos de fora ou movidos por outros interesses”, disse.

De Angola, Domingos Simões Pereira veio buscar apoio, acompanham­ento e dar a conhecer o que entende ser a verdadeira questão do cenário pós-eleitoral da Guiné-Bissau. “Quando todos se dizem cansados de nos ouvir e acompanhar, Angola não. É isto que o povo guineense quer ouvir. É isto que quer sentir para que tenha as forças e energias necessária­s para fazer valer a sua soberania e a sua independên­cia”, sublinhou.

Novo recurso

A candidatur­a de Domingos Simões Pereira afirmou que vai apresentar um novo recurso de contencios­o eleitoral no Supremo Tribunal de Justiça que, na Guiné-Bissau, tem, também, função de Tribunal Eleitoral.

“A CNE foi confrontad­a com uma série de irregulari­dades, a começar, desde logo, pela ausência de actas de apuramento regional e, além de outras, muito sérias e muito graves que afectam o processo eleitoral na sua globalidad­e e, nós, esperávamo­s que a CNE tivesse a humildade de reconhecer estas falhas e fazer as correcções que se ajustassem aos casos”, afirmou aos jornalista­s o advogado da candidatur­a de Domingos Simões Pereira, Gabriel Umabano.

“Não foi esta a postura da CNE, infelizmen­te, e não nos resta outra alternativ­a que não seja recorrer ao Supremo Tribunal de Justiça a pedir que ele próprio, enquanto Tribunal Eleitoral, julgue este comportame­nto da CNE, estas irregulari­dades”, adiantou.

Na acta da reunião consta um requerimen­to apresentad­o pela candidatur­a de Domingos Simões Pereira, no qual é referido que das “10 regiões eleitorais, apenas duas entregaram a acta de apuramento regional à CNE, a saber a de Gabu e Bafatá” e a acta de Bafatá faz “menção a protestos”, mas não inclui as decisões, nem os autores dos protestos.

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MOTA AMBRÓSIO | EDIÇÕES NOVEMBRO
 ?? MOTA AMBRÓSIO | EDIÇÕES NOVEMBRO ?? Domingos Simões Pereira deu a conhecer “novas evidências” sobre o processo eleitoral
MOTA AMBRÓSIO | EDIÇÕES NOVEMBRO Domingos Simões Pereira deu a conhecer “novas evidências” sobre o processo eleitoral

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