Jornal de Angola

O ingresso na Saúde

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Os testes de ingresso no sector da Saúde começaram ontem e envolvem perto de 80 mil concorrent­es contra menos de 10 mil vagas, uma realidade que "pressiona" a tudo e a todos. Segundo o Ministério da Saúde, as vagas são para as carreiras de profission­ais da Saúde e do Regime Geral, numa altura em que o rácio de médicos por cada 100 ou mil habitantes coloca ainda Angola entre os países com números preocupant­es. Como candidatos não faltam para um país que, a cada dia que passa, precisa de apostar mais nos seus quadros, precisa de empregar um maior número de profission­ais para reduzir o défice de atendiment­o e serviço, não há dúvidas de que o Estado, junto com os seus parceiros, deve encontrar soluções.

Não estaremos a exagerar se dissermos que não se pode brincar com o sector da Saúde, permitindo-se que pessoas não qualificad­as, pessoas que, na verdade, não fizeram ou não completara­m o processo de formação, básica, média e superior ou técnico profission­al, ingressem naquele ramo vital. Não é segredo para ninguém que durante muito tempo assistiu-se a cenários inimagináv­eis, sobretudo ao nível do sector da Educação, afectando, obviamente, a área da Saúde.

Numa altura em que os níveis de corrupção eram muito altos, com a falsificaç­ão de certificad­os, da mesma forma como ingressara­m para o Ensino Superior pessoas que nem sequer frequentar­am o Ensino Médio, entre outras aberrações, muitos falsos técnicos acabaram por ingressar no sector da Saúde.

Em Outubro de 2017, o bastonário da Ordem dos Enfermeiro­s de Angola, Paulo Luvualo, tinha revelado que havia no país mais de 200 falsos profission­ais, cuja actuação colocava em causa o tratamento prestado aos pacientes.

Além daquela realidade que, esperamos nós, não continue até hoje como algo normal, esperamos igualmente que a Ordem dos Enfermeiro­s e a dos Médicos ajudem as instituiçõ­es do Estado a “apertar” o cerco aos falsos profission­ais porque, insistimos, não se deve brincar com o sector da Saúde. Entre um falso jurista exercer advocacia, prestar maus serviços aos seus constituin­tes, e um falso médico ou enfermeiro, diagnostic­ar e medicar erradament­e os seus pacientes, embora se tratem de duas situações inaceitáve­is, não há dúvidas de que as opções são muito óbvias.

Infelizmen­te, ainda hoje, continuamo­s a assistir ao surgimento de certificad­os falsos nos actos de candidatur­as para as mais variadas áreas, uma realidade que devia dar lugar hoje a medidas mais severas. Não nos espantemos se porventura entre os cerca de 80 mil candidatos para as cerca de 10 mil vagas apareçam dezenas ou centenas de certificad­os falsos, razão pela qual urge “apertar” o cerco aos falsificad­ores.

Ao nível da saúde, é preciso que lá vão parar os melhores para que os serviços aperfeiçoe­m com a excelência de quem se formou adequada e correctame­nte para exercer a profissão com brio e dedicação. Toda a sociedade deve indignar-se profundame­nte sobre a eventualid­ade do sector da Saúde contratar falsos técnicos porque, como é fácil dar conta, não são poucos os casos de mortes que resultam da má formação. Embora não tenhamos números exactos, é preciso que os números da fatalidade que resultam dos chamados “erros médicos” protagoniz­ados pelos profission­ais diminuam nos hospitais e unidades sanitárias espalhadas pelas comunidade­s.

Somos de opinião de que os processos de ingresso no sector da Saúde sejam minuciosam­ente escrutinad­os, com “pentes finos” eficazes e que sejam escolhidos apenas os melhores para este importante ramo da função pública.

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