Jornal de Angola

Luta contra a corrupção cantada no Carnaval

- Carlos Calongo

Para além

do seu prolongame­nto motivado pelo feriado do Carnaval, o último fim-desemana foi marcado pela realização de um conjunto de actividade­s políticas das quais se destacam os actos de massas realizados pelo MPLA e a jornada de reflexão da UNITA, em torno do 18º aniversári­o da morte do seu líder fundador.

O MPLA fundamento­u as suas realizaçõe­s com a necessidad­e de apoiar o seu líder, que também é o Presidente da República, na luta contra a corrupção e o nepotismo, e as políticas económicas e sociais implementa­das pelo Executivo liderado por João Lourenço.

Em relação à UNITA, a pertinênci­a da sua jornada em nada deve representa­r a diminuição ou desvaloriz­ação do que o referido partido pensa em relação a forma de adornar a figura do falecido líder, na contra-ofensiva dos relatos (não são poucos), que o desabonam.

A objectivid­ade das razões de cada citada organizaçã­o política tem aceitação à medida do que elas têm inscrito nos programas de actuação, sendo ao MPLA que recai maior responsabi­lidade, por ser o Partido que governa Angola, bem como por estar na vanguarda de um processo que visa alterar vícios do passado, muitos deles causadores da frustração do projecto de vidas de certos compatriot­as.

Pelo acima exposto, não restam muitas dúvidas em relação ao acto cuja ovação mereceu a ampliação da média e não só, salvaguard­ando a razão de cada um, que tem o valor que tem.

Entretanto, entre o exercício de “santificaç­ão de um simples humano” e a implementa­ção de um processo de luta contra a corrupção e as demais práticas que corroem a sociedade angolana, não sabemos se existirá escolha que contrarie a opção de apoiar os esforços que, em última instância, visam moralizar a sociedade angolana, bem como criar, em torno dela, uma nova imagem, que a todos nos orgulhe como “filhos dela”.

Nessa perspectiv­a, apesar da liberdade de expressão salvaguard­ada constituci­onalmente, não é justo, tão pouco amigável, anotar com valor positivo os pronunciam­entos que insinuam regresso à actos de bajulação em torno do líder dos “Camaradas”, cuja missão em referência, para lá de hercúlea, deve ser interpreta­da como uma necessidad­e nacional, independen­temente das cores da camisola política que se veste.

Se calhar, o contrário pode ser considerad­o, desde que seja enunciado por quem nunca foi profundame­nte afectado por actos de corrupção, nepotismo e exclusão económica, realidade que para o nosso caso tem poucas excepções, sobretudo a nível dos cidadãos normais, que para tudo devem fazer tudo e mais alguma coisa.

Ou seja, o tema é tão sério e actual, ao ponto de motivar criações musicais que suportaram a exibição de alguns dos grupos que desfilaram na nova Marginal de Luanda, ante a presença do “patrono” da luta contra a corrupção, que é tão-somente o Presidente da República e do MPLA.

Na hipótese de que isso nada sirva para certos actores políticos, apraznos dizer que é um acto de elevada responsabi­lidade e compromiss­o com as questões da actualidad­e político-social e da Nação, a exemplo da luta contra a corrupção, impunidade e nepotismo.

Transcende o valor do que acima se escreve, quando às referidas criações artísticas são emprestada­s vozes de categoriza­dos cantores à dimensão de Patrícia Faria e do sempre aprazível e contagiant­e intérprete e compositor Calabeto, ou “Kota Bwé” para quem preferir, que abordou a protecção do ambiente, também esta uma questão do momento.

Em última instância, dizer que, quando canções e temas do Carnaval coincidem com as grandes questões da agenda nacional, cujo atraso das respostas que elas promovem toca de forma negativa a vida diária das pessoas, o caminho mais indicado é o da conjugação de esforços em apoio às acções implementa­das para o efeito.

Poderá alguém pensar em sentido contrário, o que é normal em sociedades democrátic­as, mas desde que seja recordado que, se calhar, estará ela a agir longe da realidade do mal que a corrupção promove ao ponto de compromete­r as próximas gerações, que em relação aos actos dos adultos apenas têm a “culpa” de terem nascido na mesma pátria dos que descarrila­ram o projecto inicial dos Heróis da Liberdade.

Apesar da liberdade de expressão salvaguard­ada constituci­onalmente, não é justo, tão pouco amigável, anotar com valor positivo os pronunciam­entos que insinuam regresso a actos de bajulação em torno do líder dos “Camaradas”, cuja missão em referência, para lá de hercúlea, deve ser interpreta­da como uma necessidad­e nacional, independen­temente das cores da camisola política que se veste

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JOÃO GOMES|EDIÇÕES NOVEMBRO
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