Luta contra a corrupção cantada no Carnaval
Para além
do seu prolongamento motivado pelo feriado do Carnaval, o último fim-desemana foi marcado pela realização de um conjunto de actividades políticas das quais se destacam os actos de massas realizados pelo MPLA e a jornada de reflexão da UNITA, em torno do 18º aniversário da morte do seu líder fundador.
O MPLA fundamentou as suas realizações com a necessidade de apoiar o seu líder, que também é o Presidente da República, na luta contra a corrupção e o nepotismo, e as políticas económicas e sociais implementadas pelo Executivo liderado por João Lourenço.
Em relação à UNITA, a pertinência da sua jornada em nada deve representar a diminuição ou desvalorização do que o referido partido pensa em relação a forma de adornar a figura do falecido líder, na contra-ofensiva dos relatos (não são poucos), que o desabonam.
A objectividade das razões de cada citada organização política tem aceitação à medida do que elas têm inscrito nos programas de actuação, sendo ao MPLA que recai maior responsabilidade, por ser o Partido que governa Angola, bem como por estar na vanguarda de um processo que visa alterar vícios do passado, muitos deles causadores da frustração do projecto de vidas de certos compatriotas.
Pelo acima exposto, não restam muitas dúvidas em relação ao acto cuja ovação mereceu a ampliação da média e não só, salvaguardando a razão de cada um, que tem o valor que tem.
Entretanto, entre o exercício de “santificação de um simples humano” e a implementação de um processo de luta contra a corrupção e as demais práticas que corroem a sociedade angolana, não sabemos se existirá escolha que contrarie a opção de apoiar os esforços que, em última instância, visam moralizar a sociedade angolana, bem como criar, em torno dela, uma nova imagem, que a todos nos orgulhe como “filhos dela”.
Nessa perspectiva, apesar da liberdade de expressão salvaguardada constitucionalmente, não é justo, tão pouco amigável, anotar com valor positivo os pronunciamentos que insinuam regresso à actos de bajulação em torno do líder dos “Camaradas”, cuja missão em referência, para lá de hercúlea, deve ser interpretada como uma necessidade nacional, independentemente das cores da camisola política que se veste.
Se calhar, o contrário pode ser considerado, desde que seja enunciado por quem nunca foi profundamente afectado por actos de corrupção, nepotismo e exclusão económica, realidade que para o nosso caso tem poucas excepções, sobretudo a nível dos cidadãos normais, que para tudo devem fazer tudo e mais alguma coisa.
Ou seja, o tema é tão sério e actual, ao ponto de motivar criações musicais que suportaram a exibição de alguns dos grupos que desfilaram na nova Marginal de Luanda, ante a presença do “patrono” da luta contra a corrupção, que é tão-somente o Presidente da República e do MPLA.
Na hipótese de que isso nada sirva para certos actores políticos, apraznos dizer que é um acto de elevada responsabilidade e compromisso com as questões da actualidade político-social e da Nação, a exemplo da luta contra a corrupção, impunidade e nepotismo.
Transcende o valor do que acima se escreve, quando às referidas criações artísticas são emprestadas vozes de categorizados cantores à dimensão de Patrícia Faria e do sempre aprazível e contagiante intérprete e compositor Calabeto, ou “Kota Bwé” para quem preferir, que abordou a protecção do ambiente, também esta uma questão do momento.
Em última instância, dizer que, quando canções e temas do Carnaval coincidem com as grandes questões da agenda nacional, cujo atraso das respostas que elas promovem toca de forma negativa a vida diária das pessoas, o caminho mais indicado é o da conjugação de esforços em apoio às acções implementadas para o efeito.
Poderá alguém pensar em sentido contrário, o que é normal em sociedades democráticas, mas desde que seja recordado que, se calhar, estará ela a agir longe da realidade do mal que a corrupção promove ao ponto de comprometer as próximas gerações, que em relação aos actos dos adultos apenas têm a “culpa” de terem nascido na mesma pátria dos que descarrilaram o projecto inicial dos Heróis da Liberdade.
Apesar da liberdade de expressão salvaguardada constitucionalmente, não é justo, tão pouco amigável, anotar com valor positivo os pronunciamentos que insinuam regresso a actos de bajulação em torno do líder dos “Camaradas”, cuja missão em referência, para lá de hercúlea, deve ser interpretada como uma necessidade nacional, independentemente das cores da camisola política que se veste