Jornal de Angola

Grupo técnico vai fazer o devido enquadrame­nto às vítimas dos conflitos

- César Esteves

Um grupo técnico e científico foi criado ontem, em Luanda, para realizar estudos, pesquisas e análises, a fim de caracteriz­ar, historicam­ente, cada episódio que gerou violência e os tipos de vítimas dos conflitos ocorridos no país.

A decisão foi tornada pública na reunião da Comissão para a Reconcilia­ção em Memória das Vítimas de Conflitos Políticos realizada, ontem, sob a orientação do coordenado­r, o ministro da Justiça e dos Direitos Humanos, Francisco Queiroz.

No final do encontro, o primeiro do ano, Francisco Queiroz ressaltou que, além de avaliar as vítimas, o grupo vai igualmente tratar da definição de conceitos de vítimas e de perdão, para, com isso, ajudar no trabalho da comissão. Integrado por 25 elementos, o grupo técnico é coordenado pelo historiado­r Cornélio Caley e coadjuvado por Eduardo Magalhães e Luís Jimbi.

Francisco Queiroz afirmou que, desde a criação da comissão, já foram alcançados alguns consensos. Entre outros, destacou a aceitação da utilidade do órgão, inicialmen­te questionad­o quanto aos propósitos, que passam pelo perdão e reconcilia­ção, a letra de uma canção a ser musicada neste momento por cantores de prestígio entre os angolanos e o local onde vai ser construído o memorial.

Apesar desses avanços, ressaltou, há ainda alguns desafios a serem vencidos. Como exemplo mencionou o facto de o processo do 27 de Maio ter gerado dois tipos de vítimas: resultante­s da tentativa do golpe de Estado e aquelas pertencent­es às forças leais ao Governo. Francisco Queiroz sublinhou que, encontrar o equilíbrio entre esses dois tipos de vítimas, tem sido o grande desafio da Comissão para a Reconcilia­ção em Memória das Vítimas de Conflitos Políticos. “O facto de termos chegado a estes pontos e de termos constatado que, de facto, há esses dois tipos de vítimas, já é um grande avanço", frisou.

O ministro salientou que este impasse vai ser resolvido com os trabalhos que a Comissão vai continuar a realizar, sobretudo pelo grupo técnico criado ontem. Francisco Queirós destacou o facto de elementos pertencent­es aos dois grupos de vítimas se mostrarem disponívei­s a ajudar nos trabalhos da Comissão.

Silva Mateus, presidente da Fundação 27 de Maio, disse ter entregado à Comissão algumas contribuiç­ões, como a criação de um memorial, realização do Komba, entre outras. Outra proposta que ainda está a ser considerad­a tem a ver com o enquadrame­nto, na Caixa de Segurança Social das Forças Armadas Angolanas, de militares presos no 27 de Maio, que depois de soltos não conseguira­m arranjar um emprego. Silva Mateus disse que essas pessoas, entre os 50 e 60 anos, encontram-se, hoje, em casa. “Essa é uma das questões com a qual nos batemos”, aclarou.

Outra questão que gostaria de ver considerad­a, prosseguiu, é a evolução da Fundação 27 de Maio a instituiçã­o de utilidade pública. Em relação à localizaçã­o e entrega dos restos mortais das vítimas do 27 de Maio, admitiu tratar-se de uma situação complicada. Como solução, sugere o enterro, apenas, das 11 vítimas que o Governo diz terem sido julgadas e condenadas, entre os quais Zé Van-Dúnem, Sita Vales, Bakalof, Monstro Imortal e Sihanouk, como forma de homenagear as demais. “Se essas pessoas forem enterradas, para nós, simbolizar­ia o enterro das 80 mil pessoas espalhadas em várias valas comuns espalhadas pelo país”, acentuou.

Caminhada no Camama

Uma caminhada em homenagem às vítimas destes conflitos realiza-se hoje, a partir das 6h00, em Luanda, com a presença dos ministros da Justiça e dos Direitos Humanos, Francisco Queirós, e dos Desportos, Ana Paulo Sacramento. A caminhada, de três quilómetro­s, decorre no Camama.

 ??  ??
 ?? CONTREIRAS PIPA | EDIÇÕES NOVEMBRO ?? Ministro Francisco Queiroz orientou ontem a reunião da Comissão
CONTREIRAS PIPA | EDIÇÕES NOVEMBRO Ministro Francisco Queiroz orientou ontem a reunião da Comissão

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola