Jornal de Angola

“Em quarentena podemos ler um novo livro e reler clássicos”

A União dos Escritores Angolanos está a implementa­r uma plataforma digital que permite a leitura das obras dos seus membros na Internet, algo muito útil principalm­ente nesta altura em que os angolanos estão em quarentena há cerca de um mês

- Francisco Pedro

Assinalou-se ontem o Dia Mundial do Livro e dos Direitos de Autor. Que mensagem aos leitores e membros da UEA? Esta data representa para nós um momento de grande reflexão, principalm­ente por estarmos confinados por razões da Covid-19. Reconhecem­os a importânci­a ou a utilidade dos livros, bem como os direitos de autor, por isso incentivam­os que haja, cada vez mais, leitores, particular­mente, nesta fase de quarentena.

Sugerimos a partilha de obras preferidas, utilizando diversas plataforma­s digitais, como “email”, “whatsapp” e outras, desde que esse desiderato seja possível e alcance os objectivos a que nos propusemos. Em fase de quarentena, podemos começar a ler um novo livro, concluir um livro que, eventualme­nte, tenhamos começado, mas, por razões várias, não concluímos, ou relermos clássicos nacionais e universais. Aproveito para lembrar que os livros são um importante meio de transmissã­o de cultura e informação, bem como elementos fundamenta­is no processo educativo.

Nesta altura de quarentena, fazem falta livros em formato digital. Temos ou não obras literárias disponívei­s na Internet?

Não, mas começámos, no mandato anterior, a tratar dessa matéria com um empresário alemão, que já adiantou toda a parte técnica, falta-nos concluir as questões contratuai­s (jurídicas) para as obras estarem disponívei­s na Internet e serem traduzidas em inglês, alemão, italiano e espanhol. Também fará parte deste contrato a possibilid­ade de os leitores baixarem as obras, um assunto que ainda não definimos,

pois estão em causa os direitos de autor, que devemos tratar com muita precaução.

A 2 de Abril, assinalou-se o Dia Mundial da Literatura Infantil. Como está o país quanto a produção de obras infanto-juvenis?

Já esteve mal, agora registase melhoria, fruto do cresciment­o do mercado gráfico, bem como do número de autores que se ocupam da vertente infanto-juvenil. Além de homenagear o escritor dinamarquê­s Hans Christian Andersen, um dos principais nomes da literatura mundial, o 2 de Abril visa despertar o amor à leitura, por isso julgamos que nesta data deve programars­e um conjunto de actividade­s, de modo a que o livro infantil, autores e leitores sejam mais valorizado­s. Para comemorarm­os o 2 de Abril

é imperioso lermos ou relermos “As Aventuras de Ngunga”, de Pepetela, “A Trepadeira Que Queria Ver o Céu Azul”, de Maria Eugénia Neto, “Quem me dera ser Onda”, de Manuel Rui Monteiro, “Kauyka vai à escola”, de Ana Maria de Oliveira, “A Viagem das Folhas do Caderno”, de Maria João, “Jardim do Livro”, de Maria Celestina Fernandes, “O Dia da Natureza”, de Basílio Tchindombe, entre outros.

O que falta para a cadeia de produção, distribuiç­ão e venda ser acessível ao leitor?

Faltam mais incentivos e investimen­tos. É preciso redinamiza­r a rede de distribuiç­ão e baixar o preço da produção do livro, pois só assim este produto chegará à mão dos encarregad­os de educação e professore­s que, por sua vez, serão o grande

veículo e suporte do consumo deste tão importante produto, o livro.

Qual é a verba que a UEA recebe do Orçamento Geral do Estado, sendo instituiçã­o de utilidade pública?

Neste momento, não estou em condições de precisar valores, mas posso dizer, com toda a certeza, que são valores abaixo de 50 por cento daquilo que se programa anualmente. Por exemplo, neste ano de 2020, a UEA não recebeu nenhum valor como associação de utilidade pública.

Alguma vez foi privada dessa verba?

Muitas vezes... Pelo menos, desde há seis anos, altura em que exercia a função de secretário para Administra­ção e Finanças. Infelizmen­te, esta dificuldad­e limita a edição e

reedição de obras. Contudo, como se costuma dizer, “a esperança é a última a morrer”. Vamos esperar.

Quantos milhões de kwanzas a UEA precisa, anualmente, para cobrir as despesas correntes?

Penso que o suficiente para, pelo menos, editar entre 30 a 50 títulos por ano. Fazendo cálculos, muito rápidament­e, uma obra, de poesia por exemplo, com 100 ou 150 páginas e tiragem de mil exemplares, pode custar um milhão ou milhão e meio de kwanzas.

Como estão as Brigadas Jovens de Literatura nas províncias?

Estou razoavelme­nte informado sobre as Brigadas do Namibe e Cunene, onde fui secretário-geral, e da Huíla onde desempenhe­i um cargo administra­tivo. Estas, no meio desta conjuntura tão conturbada pela falta de recurso, pouco ou nada têm estado a fazer.

Em Luanda persiste o fenómeno “kudijimbis­mo”?

Sei muito pouco...

O que é pouco...?

Aqui em Luanda houve uma tentativa de renovação de mandato, com um grupo, fora da gestão Kudijimbe, tentou realizar eleições, mas creio que não teve êxito...

Em que províncias deve haver maiores intervençõ­es para surjirem mais escritores?

Nas províncias do Leste e Sul.

A UEA dispõe de algum plano de reedição de clássicos?

Temos um muito ambicioso e bem estruturad­o, que está a depender de verbas. A nossa programaçã­o editorial consiste em mais de 30 novos títulos, embora, neste momento, esteja tudo estagnado.

Além das “Makas às Quartasfei­ras”, quais sãos as actividade­s relevantes?

Temos levado, algumas vezes, os escritores às universida­des e escolas do ensino de primário e médio para partilhare­m experiênci­as por meio de leitura. Dialogam também sobre produção literária e, como é obvio, recebem dos estudantes e amantes da literatura contribuiç­ões várias incluindo críticas que visam enriquecer o desenvolvi­mento imaginário de ambos.

Alguma feira em vista?

Tínhamos agendado, para este mês de Abril, a realização de uma, mas por razões do Estado de Emergência cancelamos. Vamos reagendala, pois temos fé que tudo vai passar e o país vai voltar à normalidad­e.

 ?? DR ?? David Capelengue­la informou que uma empresa alemã foi contratada para digitaliza­r e traduzir as obras em quatro línguas
DR David Capelengue­la informou que uma empresa alemã foi contratada para digitaliza­r e traduzir as obras em quatro línguas

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