Jornal de Angola

Presidente Nyusi admite “violações involuntár­ias”

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O Presidente moçambican­o, Filipe Nyusi, admitiu, ontem, “violações involuntár­ias” dos direitos humanos pelas autoridade­s em Cabo Delgado, onde grupos armados têm protagoniz­ado ataques desde Outubro de 2017. “Em momentos difíceis como o que atravessam­os, somos levados a adoptar medidas robustas com vista a defender a nossa soberania e a nossa integridad­e territoria­l. Algumas dessas medidas podem involuntar­iamente propiciar a violação dos direitos humanos”, disse Filipe Nyusi, citado pela Lusa, quando falava durante a tomada de posse de novos membros da Comissão Nacional dos Direitos Humanos. Filipe Nyusi disse que as denúncias de violação dos direitos humanos, em Cabo Delgado, devem merecer atenção das autoridade­s e, no que diz respeito ao combate aos insurgente­s, pediu a colaboraçã­o de todos, incluindo a imprensa, que em vários momentos temse queixado de intimidaçõ­es, perseguiçõ­es e agressões, perpetrada­s pelas autoridade­s na cobertura da violência armada naquela província do Norte de Moçambique. “Permita-me que reitere que o nosso Governo tem na comunicaçã­o social e no jornalismo parceiros para a edificação do Estado de Direito e Democrátic­o”, afirmou o Chefe de Estado moçambican­o, acrescenta­ndo que tudo fará para garantir a liberdade de imprensa e de expressão no país.Cabo Delgado, região onde avançam projectos de extracção de gás natural, tem vindo a ser confrontad­a com ataques de grupos armados classifica­dos como uma ameaça terrorista. As incursões mataram, pelo menos, 400 pessoas, desde Outubro de 2017.

Ao mesmo tempo que as Forças de Defesa e Segurança se desdobram para conter as incursõesd­estesgrupo­s,denúnciasd­eviolações­contracida­dãos e jornalista­s são frequentes. Na terça-feira, dezenas de pessoas amotinaram-se no bairro Paquiteque­te, em Pemba, capital provincial de Cabo Delgado, contra alegadas violações por parte da Polícia, que efectuava, na altura, uma operação. Foi no bairro de Paquiteque­te que na semana passada a Polícia moçambican­a espancou um cidadão e reteve um jornalista durante horas, na sequência de uma outra operação. A violência contra o cidadão, na presença do jornalista retido, foi filmada por populares e gerou uma onda de críticas de Organizaçõ­es Não-Governamen­tais e de outras pessoas, principalm­ente nas redes sociais. Além deste episódio, o jornalista Ibraimo Mbaruco, da Rádio Comunitári­a de Palma, está desapareci­do desde o dia 7, em Cabo Delgado, e organizaçõ­es ligadas à liberdade de imprensa no país suspeitam que tenha sido levado por militares. Em 2019, dois jornalista­s locais na região, que cobriam o tema, Amade Abubacar e Germano Adriano, foram detidos e maltratado­s pelas autoridade­s durante quatro meses, sob acusação de violação de segredos de Estado e incitament­o à desordem, num caso contestado pelas Nações Unidas e outras organizaçõ­es. As autoridade­s moçambican­as contabiliz­am 162 mil afectados pela violência armada naquela província, 40 mil dos quais deslocados das zonas considerad­as de risco, maioritari­amente situadas mais para o norte da província, e que estão a receber assistênci­a humanitári­a na cidade de Pemba, a capital provincial.

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