Um empreendedor vindo de uma vida muito difícil
Filho do Sambizanga, Adriano Lopes viveu as dificuldades das gentes do heróico bairro de Luanda, venceu a vida antisocial e é hoje um empresário
Adriano Lopes nasceu em 1973, no Sambizanga, no sector Mota e cresceu na Madeira.
Adriano Lopes, primeiro filho de 5 irmãos, foi criado pelo padrasto, Fernando Kapita, e por uma mãe muito dedicada, Domingas Adão.
“Nos anos 1980 os dias eram iguais para todos porque as pessoas tinham o mesmo padrão de vida. Tínhamos um pouco de tudo. E associando a isso, surgem grandes lembranças do bairro da minha infância, tal e qual retratada na música do nosso mestre, o grande homem do Semba, o eterno Bernardo Jorge “Bangão.”
Aos 11 ano, Adriano Lopes sofre um acidente de viação que o deixou incapacitado, com dificuldades de assimilação e fez com que reprovasse dois anos lectivos consecutivos. “Não conseguia estar com muita gente nem escutar som alto e com isso tive de interromper os estudos.”
E não havia lugar melhor para ficar do que a praia, que passou a ser o refúgio de Adriano Lopes.
Com a frequência da praia, foi conhecendo muitos jovens de outras zonas de Luanda. “Pessoas que devido às suas condutas anormais me levaram a conhecer algumas drogas como a liamba, diazepan e o álcool. E como esses males não vem só, devido à falta de ocupação, acabei por cair na delinquência”.
No início de 1990 tudo mudou, com a privatização das grandes empresas. As lojas do povo deixaram de existir. Aí começaram as dificuldades. “O meu padrasto exercia um cargo de chefia numa grande oficina de automóveis e era muito solicitado porque arranjava as viaturas distribuídas a chefes de muitos departamentos do Estado e em troca lhe davam muitas ofertas.”
Mas com o fim do sistema de partido único, recorda, as ofertas e os outros benefícios desapareceram.
“Daí em diante fomos sobrevivendo com o pequeno salário do pai, que não era suficiente para nos sustentar, e a vida perdeu o rumo”.
As coisas em casa perderam o seu rumo normal.
A mãe de Adriano Lopes começou a vender mufete e bebidas e com isso ajudava um pouco, mas não era o suficiente.
O regresso da guerra em 1992 complicou ainda mais a situação, fazendo com que Adriano Lopes tivesse de ajudar a mãe nas vendas. “A minha mãe meteu-me a vender sumo no mercado do Roque Santeiro que ficava a uns 250 metros da nossa casa.” Mas como ele não conseguia permanecer em locais com muita agitação devido ao barulho, voltava para casa com fortes dores de cabeça e a mãe deixou de o mandar fazer vendas.
“E mais uma vez volto para a praia e começo a praticar pequenos delitos. Como nos confrontos de 92, houve a invasão dos estabelecimentos comerciais de Luanda, principalmente dos estrangeiros e não foi diferente no Sambizanga. “Passado algum tempo eu e alguns jovens continuarmos com essas práticas que já se tinham tornado rotineiras. Entravamos em armazéns da Boavista e pilhávamos as mercadorias. Mas devido ao reforço do policiamento e à morte de amigos e pessoas muito próximas fui-me afastando.”
Na altura o Governo havia decretado que todos os indivíduos encontrados com armas ou enquadrados em grupos de bandidos eram considerados bandos errantes. O que levou posteriormente a uma campanha de eliminação física ou seja, ao fuzilamento e muitas vezes em hasta publica de muitos delinquentes, recorda, com tristeza, Adriano Lopes, que acrescenta: “Conversei comigo mesmo e tomei a decisão de me afastar daquelas práticas.”
Adriano Lopes afastouse das drogas e do crime com muito esforço pessoal. “Tive grandes dificuldades em me adaptar a vida normal.”
E então Adriano Lopes decide refugiar-se na leitura. Mas a sua luta não foi fácil, ele sentia-se muito sozinho e voltou a consumir bebidas alcoólicas e a cair no abismo.
Mas Adriano Lopes é um lutador, não desistiu, diznos. Convocou todas as suas forças e realizou algo que para muitas pessoas, parece algo difícil ou mesmo impossível, venceu o vício.
Como Adriano Lopes tinha bons conhecimentos de pintura, começa a procurar trabalho e encontra ocupação na construção civil, depois, pelo seu bom desempenho, trabalhou como apontador de obras. A função de Adriano Lopes era a de controlo do pessoal.
Entretanto, já em plena viagem de alto mar da vida, aprofunda os conhecimentos técnico-profissionais que o levam a conhecer outras áreas do ramo da construção civil.
Hoje Adriano Lopes é um reconhecido pintor, estucador, aplicador de tectos falsos, aplicador de papel de parede, aplicador de sancas, barrador de tectos, etc.
Tornou-se empreiteiro e constituiu a sua própria empresa de construção civil.