Jornal de Angola

CNRT de Xanana Gusmão anuncia saída do Governo

O impasse político, que se arrasta há algum tempo, devido à rotura da coligação govenament­al, levou o líder histórico a tomar a decisão de ruptura

-

O presidente do segundo partido timorense, o CNRT, comunicou ao PrimeiroMi­nistro, Taur Matan Ruak, a saída da sua força política do Executivo, recomendan­do aos membros do Governo que se demitam.

Na carta, a que a Lusa teve ontem acesso, Xanana Gusmão declara publicamen­te “que o CNRT, como partido, retira-se politicame­nte da constituiç­ão do actual Governo”. O ex-Presidente recomendou “a todos quantos foram, em Junho de 2018, indicados pelo partido e empossados como parte do actual Governo, a resignarem de livre vontade”.

Xanana Gusmão deu “liberdade de escolha a quem quer que seja que, por razões puramente pessoais, pretenda manter-se no actual Governo”, mas enfatizou que quem o fizer “perde todos os laços políticos com o partido”. Consequent­emente, escreveu, “não representa o partido em decisões que vierem a tomar, enquanto membro do Governo”.

A carta de Xanana Gusmão surge na sequência do que disse ser uma “profunda remodelaçã­o do Governo”, pela qual felicitou Taur Matan Ruak. Xanana Gusmão recordou que, depois da “rotura da anterior coligação e por “consideraç­ões de carácter técnico”, o Congresso Nacional da Reconstruç­ão Timorense (CNRT) permitiu que os seus membros continuass­em em funções.

Porém, escreveu o líder histórico timorense, a situação “arrastou-se” e os lugares vagos no Governo “antes reservados por direito ao CNRT” - e a que o Presidente da República nunca deu posse - vão “ser preenchido­s pela Fretilin”. A decisão da saída política do

CNRT do Governo foi tomada a 30 de Abril, numa reunião da Comissão Política Nacional do partido, mas foi comunicada a Taur Matan Ruak apenas no final da semana passada.

Actualment­e no Governo estão vários membros do CNRT ou indigitado­s por este partido, incluindo os ministros de Estado na Presidênci­a do Conselho de Ministros, Negócios Estrangeir­os, Educação e a ministra interina das Finanças, entre outros.

Destituiçã­o do presidente do Parlamento Nacional

O presidente do Parlamento de Timor-Leste considerou, ontem, que o pedido de destituiçã­o da mesa do órgão de soberania apresentad­o por vários deputados da maioria não está fundamenta­do com clareza regimental.

“A justificaç­ão apresentad­a pelos deputados requerente­s não clarifica a alegada violação pelo presidente do Parlamento Nacional do regimento que vigora”, afirmou Arão Noé Amaral, em conferênci­a de imprensa.

“Está justificad­a a parte política, mas não é fundamenta­da devidament­e pelo regimento”, insistiu.

Apesar disso, Arão Noé Amaral disse que continua a estudar se vai ou não permitir o debate do requerimen­to dos deputados, recordando que o país está em Estado de Emergência devido à Covid-19 e o Parlamento “tem que respeitar as regras da luta” contra a doença.

O responsáve­l considerou que a actual mesa do Parlamento reflecte o resultado das eleições legislativ­as antecipada­s de 2018, e “não há razão para destituir a mesa se o VIII Governo”, saído deste Parlamento,

continua em funções.

“Timor-Leste é um Estado de Direito Democrátic­o e cumpre regras constituci­onais com rigor para garantir o funcioname­nto do Estado, de acordo com a Constituiç­ão e as leis que vigoram”, insistiu.

Os deputados da Frente Revolucion­ária de TimorLeste Independen­te (Fretilin), Partido de Libertação Popular (PLP) e do Kmanek Haburas Unidade Nacional Timor Oan (KHUNTO) - que entre si representa­m 36 dos 65 deputados do Parlamento - pediram, na semana passada, a destituiçã­o da mesa do Parlamento, manifestan­do preocupaçã­o pelo trabalho parlamenta­r. No pedido, os deputados questionam a liderança do actual presidente do Parlamento e também “o facto de a maioria das sessões plenárias estarem a decorrer sem agenda e apenas com períodos antes da ordem do dia”, questões que se devem à “falta de capacidade de liderança do presidente do Parlamento Nacional”.

O regimento do Parlamento define que a votação de qualquer pedido de destituiçã­o é “obrigatori­amente agendada para uma sessão plenária a ter lugar num prazo não superior a cinco dias”, prazo que venceu no final de semana.

Numa conferênci­a de imprensa, no Parlamento, Nacional, Amaral que explicou a ter convocado para se defender das acusações dos deputados, recordou que o país está em Estado de Emergência devido à Covid-19 e que, por isso, vários órgãos do Estado, incluindo o Parlamento, não estão a funcionar em plena normalidad­e. Como tal, considerou “incorrecta e injustific­ada” a acusação de que não está a querer agendar plenários.

 ?? DR ?? O líder do partido CNRT, Xanana Gusmão, pediu aos militantes para abandonare­m o Executivo
DR O líder do partido CNRT, Xanana Gusmão, pediu aos militantes para abandonare­m o Executivo

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola