Discoteca Valódia sobrevive à crise
Nos dias de hoje, em Luanda, praticamente já não existem casas de comercialização de obras discográficas, quiçá em Angola, fruto da adesão de muitas pessoas às plataformas de músicas digitais e o fenómeno pirataria.
Numa ronda por algumas artérias da cidade de Luanda, a equipa de reportagem do
Jornal de Angola constatou que há anos que as principais casas de música deixaram de exercer o seu verdadeiro papel na sociedade.
O desaparecimento destes estabelecimentos deixou os músicos sem espaços para a comercialização dos seus trabalhos, depois da sessão de venda e assinatura de autógrafos. Entre as casas de referência, que contribuíram para o sucesso de vários cantores nacionais, destacam-se a Sony Music, RMS, Stromp, Made in Angola e Discoteca Valódia, esta última uma das poucas que está a sobreviver à crise.
Maria da Cruz, responsável da Discoteca Valódia, disse à reportagem do Jornal
de Angola que em relação à década de 1990, os números de vendas de CD baixaram muito, devido às novas tecnologias de informação.
Para a responsável, actualmente, a adesão pelo disco físico já não é como antigamente, porque as pessoas preferem descarregar as música na internet do que comprar discos.
Maria da Cruz disse que apesar de muitas pessoas optarem por descarregar músicas nas plataformas digitais, nos dias de hoje a Discoteca Valódia ainda é visitadas por consumidores à procura de CD de cantores da actualidade.
A Discoteca Valódia, desde a sua abertura, vendeu mais discos de cantores nacionais, por ser a grande aposta da casa, disse Maria Cruz, acrescentando que o estabelecimento nunca teve muito interesse em comercializar CD de músicos estrangeiros.
A responsável estima que nos primeiros três meses deste ano, a casa tenha vendido mais de 150 discos, razão pela qual afirma que as vendas baixaram muito, mas a casa vai sobrevivendo à crise financeira e de clientes, com o objectivo de manter a tradição no mercado.
Apesar da pouca procura dos produtos que comercializa, Maria da Cruz garantiu que o segredo para manter a casa aberta é a fidelidade para com os clientes e ter nas bancas as produções mais procuradas no mercado.
Paulo Flores, Matias Damásio, Dom Caetano, Yola Araújo, Yola Semedo, C4 Pedro, Rui Orlando, Pérola, Ary, Puto Português, Gerilso Insrael, Halison Paixão e Ndaka yo Wini constam da lista dos músicos mais procurados na Discoteca Valódia, segundo Maria da Cruz.
Casas fechadas
As tradicionais casas de comercialização de disco na capital do país não resistiram aos efeitos das novas tecnologias de informação e, neste momento, encontram-se encerradas, apurou a nossa reportagem.
A loja RMS, localizada no Bairro da Vila Alice, foi em tempos idos uma casa de música na qual os artistas nacionais se socorriam para a venda dos seus CD’s, mas encontra-se fechada há anos.
A apresentar um estado avançado de degradação e abandono das instalações, a RMS Vila Alice funcionava das 8h00 às 18h00 de segunda a sexta-feira, enquanto aos sábados abre das 8h00 ao meio-dia. A RMS tinha uma outra loja localizada no Belas Shopping.
A nossa equipa de reportagem apurou que outra casa de música que também tem as portas fechadas à música, há mais de oito anos, é a Stromp Music, localizada no Largo Serpa Pinto, passando a funcionar no local a Farmácia Central.
A Sony Music é outra loja que deixou boas recordações aos amantes e apreciadores da boa música. Localizada na rua Rei Katyavala, a única referência que existe e identifica o espaço é o letreiro luminuso “Sony Music” e uma placa na entrada principal a informar que o espaço está fechado.
A “Made in Angola”, inicialmente instalada na rua Cónego Manuel das Neves, em São Paulo, defronte à escola Anangola, e posteriormente transferida para a Centralidade do Kilamba, está encerrada. Esta casa foi das responsáveis pela produção do disco de estreia de Kristo, intitulado “Astros da minha vida”.
As opções para a compra de obras discográficas, em Luanda, são as grandes e pequenas superfície comerciais, livrarias e quiosques. A título de exemplo, o hipermercado Kero não comercializa CD’s de forma regular, apenas quando há um acordo com um músico para promover uma sessão de venda e assinatura de autógrafos, à semelhança do que aconteceu com o músico e compositor Teta Lágrimas.