ONG denuncia “genocídio” de indígenas
Não-Governamental Survival Internacional denunciou, ontem, a invasão de terras indígenas no Brasil por madeireiros e garimpeiros a pretexto da pandemia de Covid-19, acusando o Governo de “genocídio legislado”.
“Vários territórios dos povos indígenas isolados, os povos mais vulneráveis do mundo, estão a ser invadidos por garimpeiros e madeireiros, aproveitando a pandemia de Covid-19”, denunciou a organização, em comunicado.
Para a directora de campanhas da Survival Internacional, Fiona Watson, o que está a acontecer aos povos indígenas do Brasil é “um ataque genocida”.
“Inúmeras terras indígenas estão a ser invadidas, com o apoio de um Governo que, abertamente, deseja destruir os primeiros povos do país. Nos próximos meses, durante a estação seca da Amazónia, provavelmente haverá outra onda devastadora de incêndios e veremos também os próximos passos do 'genocídio legislado' do Governo Bolsonaro”, disse.
De acordo com a Survival Internacional, no Vale do Javari (Amazonas), região que abriga mais povos indígenas isolados do que qualquer outro lugar do mundo, os garimpeiros invadiram a região do Rio Jutaí, onde vive o povo Korubo.
A Terra Indígena Ituna Itatá (Paraíba) e o território dos Uru Eu Wau Wau (Rondónia) estão também a ser ocupados por grupos de madeireiros e garimpeiros.
Ituna Itatá foi o território indígena mais desmatado em 2019 e um guardião da floresta, no território de Rondónia, foi assassinado no mês passado, segundo a organização, que denuncia, também, a destruição, por “gangues de madeireiros ilegais”, da floresta na Terra Indígena Arariboia, no Maranhão.
“Esta floresta é o lar de indígenas isolados Awá, o povo mais ameaçado do planeta”, refere.
“No meio da pandemia que arrasa o país, estas e outras terras indígenas estão a ser atingidas por um golpe triplo”, acrescenta a Survival Internacional.
A organização acusa o Governo do Presidente Jair Bolsonaro de estar a tentar transformar a Fundação Nacional do Índio (FUNAI), num órgão comandado por militares e missionários, de promover o enfraquecimento dos organismos de protecção das terras indígenas e de, “com o seu discurso racista e acções anti-indígenas”, incentivar “uma onda de invasões”.
A isto junta-se, segundo a Survival Internacional, a “perigosa Medida Provisória 910”, a 'MP da Grilagem', que aguarda votação.
“Se aprovada, possibilitaria um dos maiores roubos de terras da História do Brasil e permitiria o roubo, em grande escala, de terras indígenas”, aponta a ONG.
Para a União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (UNIVAJA), os povos indígenas vivem “um momento de muita angústia” por causa dessa pandemia causada pelo coronavírus.