Pescar bagres e cacussos como alternativa à falta de emprego
O Estado de Emergência e o consequente confinamento tiveram no desemprego uma das consequências. Como alternativa falta de meio de sustento, jovens encontraram em lagoas a alternativa. Pescar cacussos e bagres, para revenda, produz alguma renda
“Pesca no lago é uma actividade que faço para sobreviver”. As palavras são do jovem Sebastião Francisco, ex-militar, que, depois de expulso da Polícia Nacional, faz de tudo para sustentar a família.
A pesca em lagoas é uma prática que tem sido feita em lugares como as imediações da Via Expresso, próximo ao Hotel Vitória Garden, do lado do Kilamba, e no KK500, em Luanda. A actividade junta vários jovens, cada um com a sua história, mas o único objectivo de lutar pela sobrevivência, num negócio clandestino e sem o mínimo de condições sanitárias exigidas.
Os peixes capturados junto ao Hotel Vitória Garden saíram de uma lagoa de criação no mesmo espaço e migraram devido às chuvas intensas. Destas resultaram inundações que fizeram a água transbordar para lá da via expresso.
Sebastião Francisco é um dos novos integrantes do negócio da pesca, numa lagoa que oferece cacusso e bagre. O jovem, que antes fazia serviço de moto-táxi, vive com a família, na zona da Mutamba, nas proximidades da Via Expresso.
Depois de cumprir a “vida militar”, Sebastião optou por fazer o curso para entrar para a Polícia Nacional. Até que sofreu uma tentativa de assalto - o alvo era a motorizada. Como estava andar armado, fez alguns disparos para dispersar os meliantes, sem causar vítimas. Mas foi interpelado em flagrante pela Polícia e acabou detido durante um mês e sete dias.
Depois de sair da cadeia, Sebastião tentou regressar ao curso da Polícia, mas foilhe negada a possibilidade, sob a alegação de que era “delinquente e não podia dar continuidade à formação”. Mesmo tendo justificado, por escrito, aos comandantes, que agiu em situação de legítima defesa, as portas fecharam-se-lhe.
Com quatro filhos e esposa para sustentar, tinha de arranjar um jeito para alimentá-los. A única solução era fazer moto-táxi. Porém, por causa do Decreto do Estado de Emergência, devido à pandemia da Covid-19, os serviços estão suspensos há dois meses. Acabou, assim, por se juntar à pesca na lagoa.
Neves Lemos, de 18 anos, vive na zona do Calemba II, com os pais, e é outro dos pescadores da lagoa, há dois meses. Contou à reportagem do Jornal de Angola que, por dia, é capaz de pescar mais de 100 cacussos e bagres.
Neves disse que, normalmente, chega no local, às 8H00 e só termina a pesca às 17H00. Os clientes já são conhecidos seus e não tem dificuldade para vender o produto. Por cada monte de cinco peixes, o comprador paga 250 kwanzas.
Fernando Óscar tem 32 anos e também pesca no local. Revelou que descobriu a fonte por força do desemprego, no qual caiu desde que foi decretado o Estado de Emergência. Trabalhava na construção civil.
O jovem ficava em casa, sem fazer o que fosse, e a minha família não tinha o que comer. “Com os 50 ou 100 peixes que vendo por dia, chego a facturar até 2.500 kwanzas, que já dão para ajudar na alimentação”, disse.
Fernando contou ainda que foi despedido da empresa chinesa, assim como oito outros colegas com quem trabalhava, sem contrato. Ganhava mensalmente 40 mil kwanzas.
A pesca em lagoas é uma prática que tem sido feita em lugares como as imediações da Via Expresso, próximo ao Hotel Vitória Garden, do lado do Kilamba, e no KK500, em Luanda