Palanca Negra Gigante está controlada
A conservação da biodiversidade é um sector que pode absorver a mão-deobra local, em grande escala, no entanto são necessários programas, projectos específicos para cada área, que pode apostar
As cooperativas
podem desempenharar
um papel fundamental na recuperação da vida selvagem do país, incluindo a
triplicação da população animal, pois, desde o início dos anos 90 que
alguns países, apostaram neste tipo de iniciativas investindo em
actividades ecoturísticas e a
utilização de outros animais selvagens em áreas
rurais remotas
O director do Instituto Nacional de Biodiversidade, Aistofanes Pontes, disse que uma das metas da instituição é o resgate das espécies dadas como extintas. É a segunda parte da entrevista, cuja primeira saiu, sexta-feira, sem a identificação do entrevistado, falha pela qual nos desculpamos
Qual é a real situação da Palanca Negra Gigante?
Foi construído um santuário turístico para observação deste animal emblemático no Parque Nacional da Cangandala. Os cidadãos, de modo geral, poderão visitar o Parque Nacional da Cangandala e ver de perto a Palanca Negra Gigante. A real situação da Palanca Negra Gigante é estável, porém, ainda se verifica uma certa pressão a nível nacional, sobre as diferentes espécies da nossa fauna.
Qual é o nível de execução do plano de acção nacional de conservação da chita e do mabeco?
A estimativa total de chitas para o País é de 200 indivíduos, sendo 30 para o Parque Nacional do Iona, 100-151 para os Parques Nacionais de Mavinga e Luengue-Luiana. A estimativa populacional de mabecos é de 800 indivíduos, sendo 90 para o Parque Nacional do Bicuar/Mupa, 260-599 para Mavinga e Luengue-Luiana, 20 para a zona Sul do Luando e com vários registos de câmaras trap, no Moxico e Bié.
Está em carteira a implementação do projecto com a comunicação social e artistas, para a divulgação e sensibilização de um top 10 da Lista Vermelha das Espécies Ameaçadas de Extinção em Angola, onde a chita e o mabeco também fazem parte. A realização desta actividade está condicionada pelas medidas de segurança, implementadas no âmbito da Covid-19.Foi realizada recentemente a proposta de revisão da Legislação Nacional e Convenções Internacionais que apoiam a conservação da chita e do mabeco.
A julgar pelo contexto político que o país viveu nos últimos anos, o Instituto Nacional da Biodiversidade e Áreas de Conservação já pensou no resgate das diferentes espécies que deixaram o seu habitat?
Sim. Uma das metas a atingir é o resgate das diferentes espécies que hoje são dadas por extintas e nas diferentes categorias de conservação. Vários são os projectos que estão a ser implementados com este fito como, por exemplo, o projecto de protecção da Palanca Negra Gigante. A reabilitação das áreas de conservação e seus ecossistemas, o estabelecimento das equipas de gestão, a abertura dos corredores ecológicos jogam um papel muito importante no resgate das espécies e são acções que constam dos vários programas e projectos em implementação no Instituto.
Podemos estimar o impacto da Covid-19 na biodiversidade mundial e angolana em particular?
A acção antrópica danosa ao ambiente como a expansão de assentamentos humanos, exploração insustentável dos recursos naturais, a poluição, têm afectado consideravelmente mudança climática e na perda da biodiversidade com a obrigação da humanidade em ficar em casa para conter a disseminação do vírus Sars-Cov-2 e a sua doença, a Covid-19, tem contribuído no regresso da vida selvagem para o seu habitat, na recuperação da vegetação e da saúde dos ecossistemas a nível global e nacional. Em Angola, é notório o aumento da densidade populacional de animais selvagens nos diferentes ecossistemas nas áreas de conservação, o retorno das aves migratórias no seu habitat, devido a sanidade do meio e a ausência humana nos seus habitats, a redução da poluição.
Infelizmente, com o aumento da fauna selvagem nas áreas de conservação e consequentemente a redução de efectivos de fiscalização, não sendo possível cobrir todas as áreas, proporciona o aumento da caça furtiva para fins comerciais. Este impacto negativo pode comprometer os resultados positivos alcançados pela Covid-19 e comprometer a implementação das actividades ecológicas nas áreas de conservação. A pandemia da Covid-19 criou um impacto negativo e profundo para os países no Leste e Sul da África, como resultado da cessação repentina de todas as visitas, no âmbito do desenvolvimento das actividades ecológicas intimamente interdependentes.
A biodiversidade angolana oferece potencial, em termos de plantas medicinais que podem curar diversas doenças como a Covid-19, HIV/Sida, malária e outras?
Segundo o manual de plantas medicinais de Angola (Costa E. & Pedro M. 2013), Angola tem 19 espécies de plantas descritas utilizadas na medicina tradicional, para a cura de diversas enfermidades, no qual podem ser usados os frutos, sementes, folhas, caules e outros constituintes da planta.
A realização de estudos clínicos e científicos são necessários e importantes para se aferir o grau de utilidade que as referidas espécies possam oferecer para o tratamento de diferentes patologias. É importante realçar que Angola é Parte do Protocolo de Nagoya, um instrumento jurídico e legal da Convenção da Diversidade Biológica (CBD), que foi adoptado na 10ª Conferência das Partes em Nagoya, Japão. O objectivo deste Protocolo é de promover a partilha justa e equitativa dos benefícios decorrentes da utilização dos recursos genéticos, definindo as políticas de acesso aos recursos genéticos e de partilha de benefícios promovendo ao mesmo tempo a conservação da diversidade biológica e o uso sustentável dos seus componentes. Proporciona solidez, certeza e transparência jurídica tanto para os provedores, tanto para os usuários de recursos genéticos.
O abate, consumo e comercialização de animais selvagens continua a ser um desafio para as autoridades que cuidam da preservação do meio ambiente?
Sim. O comércio ilegal de espécies da vida selvagem continua sendo a terceira maior actividade ilegal do mundo, perdendo apenas para o comércio de drogas e de armas. A densidade e diversidade de animais selvagens em Angola está em declínio e um dos principais factores é a caça furtiva, favorecida pelo comércio ilegal dos animais selvagens, que desde o período pós conflito armado passou de uma actividade de subsistência para actividade comercial de pequena, média e grande escala.
Quais são as principais acções responsáveis pela perda da biodiversidade um pouco por todo o mundo?
Entre as acções que concorrem para a perda da Biodiversidade podemos destacar a desflorestação, destruição dos solos, poluição do ar dos solos e das águas, queimadas, caça, pesca e tráfico ilegal, sob’ exploração, destruição de habitats, fragmentação dos habitats, introdução de espécies exóticas e as alterações climáticas.
Até que ponto a acção do homem sobre o meio ambiente influência as mudanças climáticas que o mundo regista a cada dia?
Normalmente quando se fala deste tema o mesmo é relacionado a revolução industrial onde se produz mais voltando nos lucros e na satisfação do alto consumo a nível mundial. Neste processo produtivo requer a utilização de maior quantidade de recursos ou matéria-prima e consequentemente cria pressão as florestas, polui a atmosfera e os recursos hídricos, contamina e empobrece os solos e como resultado temos as alterações climáticas. A mudança de atitude e/ou de comportamento estão entre as soluções para a redução dos impactos negativos sobre o ambiente.
Quais são as reais necessidades do sector em termos de recursos humanos face aos desafios?
Capital humano formado e capacitado em diferentes áreas do ambiente, bem como, capital financeiro que compense o árduo trabalho de gestão, conservação e preservação da biodiversidade.
Podemos considerar a biodiversidade um sector que pode absorver a mão-de-obra em grande escala?
Sim. Podemos considerar a conservação da biodiversidade um sector que pode absorver a mão-de-obra, sobretudo local, em grande escala. Para tal são necessários programas, projectos específicos para cada área. Essas cooperativas desempenharam um papel fundamental na recuperação da vida selvagem do país, incluindo a triplicação de sua população de elefantes, desde o início dos anos 90, e catalisando o investimento em actividades ecoturísticas e a utilização de outros animais selvagens em áreas rurais remotas. As cooperativas comunitárias geraram cerca de US $ 11 milhões em retornos e benefícios da vida selvagem e mais de 5.000 empregos, em 2019.