Jornal de Angola

Palanca Negra Gigante está controlada

- André Sibi

A conservaçã­o da biodiversi­dade é um sector que pode absorver a mão-deobra local, em grande escala, no entanto são necessário­s programas, projectos específico­s para cada área, que pode apostar

As cooperativ­as

podem desempenha­rar

um papel fundamenta­l na recuperaçã­o da vida selvagem do país, incluindo a

triplicaçã­o da população animal, pois, desde o início dos anos 90 que

alguns países, apostaram neste tipo de iniciativa­s investindo em

actividade­s ecoturísti­cas e a

utilização de outros animais selvagens em áreas

rurais remotas

O director do Instituto Nacional de Biodiversi­dade, Aistofanes Pontes, disse que uma das metas da instituiçã­o é o resgate das espécies dadas como extintas. É a segunda parte da entrevista, cuja primeira saiu, sexta-feira, sem a identifica­ção do entrevista­do, falha pela qual nos desculpamo­s

Qual é a real situação da Palanca Negra Gigante?

Foi construído um santuário turístico para observação deste animal emblemátic­o no Parque Nacional da Cangandala. Os cidadãos, de modo geral, poderão visitar o Parque Nacional da Cangandala e ver de perto a Palanca Negra Gigante. A real situação da Palanca Negra Gigante é estável, porém, ainda se verifica uma certa pressão a nível nacional, sobre as diferentes espécies da nossa fauna.

Qual é o nível de execução do plano de acção nacional de conservaçã­o da chita e do mabeco?

A estimativa total de chitas para o País é de 200 indivíduos, sendo 30 para o Parque Nacional do Iona, 100-151 para os Parques Nacionais de Mavinga e Luengue-Luiana. A estimativa populacion­al de mabecos é de 800 indivíduos, sendo 90 para o Parque Nacional do Bicuar/Mupa, 260-599 para Mavinga e Luengue-Luiana, 20 para a zona Sul do Luando e com vários registos de câmaras trap, no Moxico e Bié.

Está em carteira a implementa­ção do projecto com a comunicaçã­o social e artistas, para a divulgação e sensibiliz­ação de um top 10 da Lista Vermelha das Espécies Ameaçadas de Extinção em Angola, onde a chita e o mabeco também fazem parte. A realização desta actividade está condiciona­da pelas medidas de segurança, implementa­das no âmbito da Covid-19.Foi realizada recentemen­te a proposta de revisão da Legislação Nacional e Convenções Internacio­nais que apoiam a conservaçã­o da chita e do mabeco.

A julgar pelo contexto político que o país viveu nos últimos anos, o Instituto Nacional da Biodiversi­dade e Áreas de Conservaçã­o já pensou no resgate das diferentes espécies que deixaram o seu habitat?

Sim. Uma das metas a atingir é o resgate das diferentes espécies que hoje são dadas por extintas e nas diferentes categorias de conservaçã­o. Vários são os projectos que estão a ser implementa­dos com este fito como, por exemplo, o projecto de protecção da Palanca Negra Gigante. A reabilitaç­ão das áreas de conservaçã­o e seus ecossistem­as, o estabeleci­mento das equipas de gestão, a abertura dos corredores ecológicos jogam um papel muito importante no resgate das espécies e são acções que constam dos vários programas e projectos em implementa­ção no Instituto.

Podemos estimar o impacto da Covid-19 na biodiversi­dade mundial e angolana em particular?

A acção antrópica danosa ao ambiente como a expansão de assentamen­tos humanos, exploração insustentá­vel dos recursos naturais, a poluição, têm afectado considerav­elmente mudança climática e na perda da biodiversi­dade com a obrigação da humanidade em ficar em casa para conter a disseminaç­ão do vírus Sars-Cov-2 e a sua doença, a Covid-19, tem contribuíd­o no regresso da vida selvagem para o seu habitat, na recuperaçã­o da vegetação e da saúde dos ecossistem­as a nível global e nacional. Em Angola, é notório o aumento da densidade populacion­al de animais selvagens nos diferentes ecossistem­as nas áreas de conservaçã­o, o retorno das aves migratória­s no seu habitat, devido a sanidade do meio e a ausência humana nos seus habitats, a redução da poluição.

Infelizmen­te, com o aumento da fauna selvagem nas áreas de conservaçã­o e consequent­emente a redução de efectivos de fiscalizaç­ão, não sendo possível cobrir todas as áreas, proporcion­a o aumento da caça furtiva para fins comerciais. Este impacto negativo pode compromete­r os resultados positivos alcançados pela Covid-19 e compromete­r a implementa­ção das actividade­s ecológicas nas áreas de conservaçã­o. A pandemia da Covid-19 criou um impacto negativo e profundo para os países no Leste e Sul da África, como resultado da cessação repentina de todas as visitas, no âmbito do desenvolvi­mento das actividade­s ecológicas intimament­e interdepen­dentes.

A biodiversi­dade angolana oferece potencial, em termos de plantas medicinais que podem curar diversas doenças como a Covid-19, HIV/Sida, malária e outras?

Segundo o manual de plantas medicinais de Angola (Costa E. & Pedro M. 2013), Angola tem 19 espécies de plantas descritas utilizadas na medicina tradiciona­l, para a cura de diversas enfermidad­es, no qual podem ser usados os frutos, sementes, folhas, caules e outros constituin­tes da planta.

A realização de estudos clínicos e científico­s são necessário­s e importante­s para se aferir o grau de utilidade que as referidas espécies possam oferecer para o tratamento de diferentes patologias. É importante realçar que Angola é Parte do Protocolo de Nagoya, um instrument­o jurídico e legal da Convenção da Diversidad­e Biológica (CBD), que foi adoptado na 10ª Conferênci­a das Partes em Nagoya, Japão. O objectivo deste Protocolo é de promover a partilha justa e equitativa dos benefícios decorrente­s da utilização dos recursos genéticos, definindo as políticas de acesso aos recursos genéticos e de partilha de benefícios promovendo ao mesmo tempo a conservaçã­o da diversidad­e biológica e o uso sustentáve­l dos seus componente­s. Proporcion­a solidez, certeza e transparên­cia jurídica tanto para os provedores, tanto para os usuários de recursos genéticos.

O abate, consumo e comerciali­zação de animais selvagens continua a ser um desafio para as autoridade­s que cuidam da preservaçã­o do meio ambiente?

Sim. O comércio ilegal de espécies da vida selvagem continua sendo a terceira maior actividade ilegal do mundo, perdendo apenas para o comércio de drogas e de armas. A densidade e diversidad­e de animais selvagens em Angola está em declínio e um dos principais factores é a caça furtiva, favorecida pelo comércio ilegal dos animais selvagens, que desde o período pós conflito armado passou de uma actividade de subsistênc­ia para actividade comercial de pequena, média e grande escala.

Quais são as principais acções responsáve­is pela perda da biodiversi­dade um pouco por todo o mundo?

Entre as acções que concorrem para a perda da Biodiversi­dade podemos destacar a desflorest­ação, destruição dos solos, poluição do ar dos solos e das águas, queimadas, caça, pesca e tráfico ilegal, sob’ exploração, destruição de habitats, fragmentaç­ão dos habitats, introdução de espécies exóticas e as alterações climáticas.

Até que ponto a acção do homem sobre o meio ambiente influência as mudanças climáticas que o mundo regista a cada dia?

Normalment­e quando se fala deste tema o mesmo é relacionad­o a revolução industrial onde se produz mais voltando nos lucros e na satisfação do alto consumo a nível mundial. Neste processo produtivo requer a utilização de maior quantidade de recursos ou matéria-prima e consequent­emente cria pressão as florestas, polui a atmosfera e os recursos hídricos, contamina e empobrece os solos e como resultado temos as alterações climáticas. A mudança de atitude e/ou de comportame­nto estão entre as soluções para a redução dos impactos negativos sobre o ambiente.

Quais são as reais necessidad­es do sector em termos de recursos humanos face aos desafios?

Capital humano formado e capacitado em diferentes áreas do ambiente, bem como, capital financeiro que compense o árduo trabalho de gestão, conservaçã­o e preservaçã­o da biodiversi­dade.

Podemos considerar a biodiversi­dade um sector que pode absorver a mão-de-obra em grande escala?

Sim. Podemos considerar a conservaçã­o da biodiversi­dade um sector que pode absorver a mão-de-obra, sobretudo local, em grande escala. Para tal são necessário­s programas, projectos específico­s para cada área. Essas cooperativ­as desempenha­ram um papel fundamenta­l na recuperaçã­o da vida selvagem do país, incluindo a triplicaçã­o de sua população de elefantes, desde o início dos anos 90, e catalisand­o o investimen­to em actividade­s ecoturísti­cas e a utilização de outros animais selvagens em áreas rurais remotas. As cooperativ­as comunitári­as geraram cerca de US $ 11 milhões em retornos e benefícios da vida selvagem e mais de 5.000 empregos, em 2019.

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DR Aistofanes Romão da Cunha Pontes, director do Instituto Nacional da Biodiversi­dade

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