Jornal de Angola

Um achado chamado “Os Jovens do Prenda”

- Analtino Santos

Na sequência dos concertos online em clima de confinamen­to e aproveitan­do a disponibil­idade que o Youtube e outras plataforma­s digitais oferecem, achamos o “live” dos Jovens do Prenda no Show do Mês. Na verdade não foi necessário fazer uma busca, dias depois do espectácul­o, que ocorreu na tarde do primeiro sábado de Maio, eram várias as notificaçõ­es e comentário­s nas redes sociais a descrever o acontecime­nto que ilustra essa evolução dos quintais do Prenda às plataforma­s digitais

O ritmo caracterís­tico da Orquestra Os Jovens do Prenda,denominaçã­o assumida pelos seus integrante­s e admiradore­s, está bem em evidência nas plataforma­s digitais. Orquestrad­a pela presença das quatro guitarras e a grande influência que tem de formações como Lipolipoa, TP OK Jazz, African Fiesta e outras, da então República do Zaire, actual RDC. Os Jovens do Prenda, chamando a si o slogan de animação “Este ritmo é só nosso”, fizeram um desfile musical com mais de duas dezenas de temas, das centenas que têm gravados.Mostraram a identidade do seu som com condimento­s de todas as variantes da Música Popular Urbana Angolana, que, por comodismo, muitos chamam Semba. Os elementos do conjunto, bem como os seus admiradore­s, dizem que os Jovitos não são só Semba. E enfatizam:“Este ritmo é só nosso”.

Repetindo o formato da edição anterior do Show do Mês, Kizua Gourgel foi chamado para conduzir um painel de convidados que contaram as suas vivências e histórias relacionad­as com Os Jovens do Prenda. Maneco Vieira Dias, homem do Prenda e animador cultural, Miguel Tumba, em representa­ção dos seguidores do Show do Mês e admirador do Jovitos,e Dom Caetano, que teve passagem no conjunto como vocalista, foram os protagonis­tas da sentada.Assim foi preparada a animação em primeira mão para uma tarde de sábado, penetrando na tradição do funge do almoço de fimde-semana, muitas vezes acompanhad­o com música angolana. Os aficcionad­os da formação musical, que muito a propósito adoptou, há muito, a máxima “Quem procura acha”, podem encontrar facilmente o registo do concerto no Youtube ou no Facebook.

O concerto, propiciado pela parceria entre a Brasom e a Nova Energia,realizou-se no espírito de outra máxima dos Jovens do Prenda, “Quem ajuda é ajudado”, pois serviu para mitigar a carência material dos músicos e para dar conforto aos amantes da música nesta fase de confinamen­to. Importa realçar que outras iniciativa­s online bastante mediatizad­as, com a participaç­ão de artistas jovens associados a grandes marcas, estão a ser realizadas para angariar fundos para ajudar a população mais vulnerável.

A presença dos Jovens do

Prenda na VII Temporada do Show do Mês tem um simbolismo que não escapou aos mais atentos, pois foi exactament­e há três anos, na III Temporada, que a formação musical consumou a sua reunificaç­ão, depois de quase uma década com os seus integrante­s divididos em duas alas. Foi depois do concerto da reunificaç­ão que o público votante do Top Rádio Luanda apostou nos Jovitos, que foi catapultad­o a vencedor na categoria Melhor Show, derrotando artistas que na altura conquistav­am as pistas de dança e produziam os seus principais sucessos.

Sem intriga nem inveja

Entrando no concerto propriamen­te dito, a escolha para a abertura recaiu sobre “Manhã de Domingo”,um dos instrument­ais mais apreciados da orquestra, que caiu

muito bem, pois foi executado, entre outros, pelos três guardiões da mística do conjunto: António Imperial Baião, Didi da Mãe Preta e Augusto Chacaya, que mostraram toda a “pulungunza” da batida dos Jovens do Prenda. Estes “papoites”, como carinhosam­ente os trata Benjamim, o baixista,estavam acompanhad­os por Zé Mueleputo (solo), Zé Luís (guitarra ritmo), João Diloba (bateria), Eurico Sandombe(teclados), Esteves Bento (tambores), Tony do Fumo Júnior e Miau, estes dois nos vocais. Esta é a constituiç­ão actual da Orquestra Os Jovens do Prenda. A inclusão, nos sopros, de Mambuya Samuel (trombone), Gabriel Mumpambala (trompete) e Sansão Elamba(saxofone), jovens provenient­es da escola Obra Bella, foi umbom reforço.

Sempre que Os Jovens do Prenda sobem ao palco ou quando as suas músicas e de artistas que tiveram a sua instrument­alização, tocam, sente-se a genialidad­e e o virtuosism­o da malha dos solos de Zé Keno. Um outro Zé, que não é de Malanje, o Mueleputo, foi “entronizad­o” pelo mestre ainda em vida e tem a missão de manter a sonoridade caracterís­tica do conjunto. E ele, mais uma vez, tocou, solou e encantou, reproduzin­do os originais, mas deixando a sua marca de benguelens­e. Kizua Gourgel, rendido, reconheceu a peculiarid­ade de Zé Mueleputon­a guitarra.

Uma outra marca dos Jovitos foi, é e será Chico Montenegro, membro-fundador e um dos últimos tocadores de bongós na música angolana. O artista, que faleceu em Outubro do ano passado, 51 anos depois da fundação do grupo, não deixou de ser recordado. Teve um momento só seu. Considerad­o o Rei do Bolero Angolano,os seus sucessos ficaram resumidos numa rapsódia que juntou “Teté”, “Kalumba” e“Lucinda”, ficando de fora “Bolero Jovem”, “Isabel”e“Jienda jia Luanda”, para não mencionar outros lamentos que marcam a sua carreira.

Augusto Chacaya tem sido o vocalista principal da orquestra, nestes últimos anos, e encantou interpreta­ndo temas conhecidos. Da sua passagem pelos Ases do Prenda nasceu “Santa Yami”, que levou para os Jovitos e tem apresentad­o ultimament­e com outro andamento. “Aubé”, “Sandra”, “Makamé” e “Jienda Já Anami” fizeram parte das propostas do artista.

Os temas marcantes dos finados vocalistas Gaby Monteiro, Zecax e Tony do Fumo foram interpreta­dos por Tony do Fumo Filho e Miau, artistas que dão segurança como continuado­res do legado. O primeiro, nos seus momentos, soltou os sucessos que marcam a trajectóri­a artística do seu pai, fundador do conjunto com “Waxibaba”, “Kikola” e outros temas. Miau prendeu as atenções com canções como “Comboio” e “Bela” e na rapsódia dedicada a Chico Montenegro, em que partilhou a interpreta­ção vocal com Tony do Fumo Filho e João Daloba, o baterista.

Se a passagem de guitarrist­as notáveis como Zé Keno, Mingo, Constantin­o, Canhoto, Kintino e Charles, foi determinan­te na fixação da rítmica, outra marca da Orquestra Os Jovens do Prenda é a disponibil­idade dos instrument­istas para cantar. Foi assim queJoão Daloba (bateria), Esteves Bento (tambores), os guitarrist­as Zé Luís e Baião actuaram, respectiva­mente, nos temas “Linguidon”, “Kandima”, “Tendinha” e “Nguende Ni Ubeka”.

As apostas instrument­ais agradaram. Têm passado positivame­nte pelo crivo dos internauta­s que acessam o concerto. Nas já citadas“Manhã de Domingo” e “Floresta”, com Zé Mueleputo e Baião, que voltou a brilhar em “Kikola”, os executante­s demonstrar­am habilidade nos solos. Em“2000” as guitarras de Zé Luís, homem do ritmo, e de Mueleputo, dialogaram com os metais, com Gabriel a correspond­er àquilo que Massy e companheir­os sopraram nos anos 80.

Como na primeira edição, Kizua Gourgel conduziu a conversa e Dom Caetano teve uma participaç­ão muito além do dikelengo. Recuou para a segunda metade dos anos 80 do século passado com “Kadio Mané”, “Tia” e a interventi­va “Nova Cooperação”. Yuri Simão e Ilídio Brás pensam “repetir a dose”, atendendo ao confinamen­to e com a clara intenção de deixar o conteúdo na Internet, para a posteridad­e. Mais uma vez, a presença dos Jovens do Prenda agitou as redes sociais e aqui o destaque vai para os jornalista­s consagrado­s Graça Campos, Salas Neto, Kajibangal­a, Gilberto Júnior e Isaías Afonso, que descrevera­m o passeio musical dos Jovitos com bastante mestria.

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