Jornal de Angola

Confinamen­to mudou a rotina no Hoji-ya-Henda e Futungo

- Edivaldo Cristóvão

Fome,

falta de água e de gás são as reclamaçõe­s mais frequentes­dosmorador­esdobairro Hoji-ya-Henda, em Luanda, que cumpre cerca sanitária desde 11 de Maio, devido à pandemia da Covid-19.

Um dos bairros mais bem organizado­s no passado, com ruas devidament­e estruturad­as, Hoji-ya-Henda transformo­u-se hoje numa zona comercial, cuja actividade é exercida, maioritari­amente, por cidadãos oeste-africanos. Muitas residência­s foram transforma­das em armazéns comerciais ou cantinas e os proprietár­ios foram viver noutras zonas da cidade ou partilham a residência arrendando o espaço ao estrangeir­o.

As ruas poeirentas e inacessíve­is, em alguns casos, com o lixo à mistura, revelam as condições em que a maior parte da população vive.

O Jornal de Angola voltou ontem ao bairro Hoji-yaHenda, pseudónimo de um dos heróis da Luta de Libertação Nacional, para constatar como vivem os moradores durante a cerca sanitária, imposta depois da Comissão Multissect­orial ter identifica­do mais de 70 contactos do “caso 31”, associado a um cidadão da República da Guiné que infectou várias pessoas na zona.

Teresa Xavier Coelho, 23 anos, vive na rua Nova Luz. Disse ser difícil viver “nesta situação”, porque mudou a rotina e a comunidade está com problemas de alimentaçã­o. “As autoridade­s apenas distribuír­am duas vezes a cesta básica”, referiu.

A jovem vive com os pais e irmãos e reclama mais apoio no que concerne à distribuiç­ão de alimentos. “Muitas famílias estão a passar mal, queremos que isso termine o mais rápido possível”, acrescento­u. Teresa Xavier Coelho considera que a falta de alimentaçã­o é um dos motivosque­fazcomquea­lguns moradoresv­iolemacerc­asanitária. “Ninguém aguenta ficar em casa com fome, por isso, apelamosàs­autoridade­sareverem esta situação”.

Mais de três mil moradores foram testados na semana passada no bairro Hoji-yaHenda, mas os resultados ainda não são conhecidos.

Teresa é estudante da Universida­de Jean Piaget, em Luanda, onde faz o curso de Enfermagem. Sente na pele o trabalho que os médicos têm feito para salvar vidas, diante da luta contra a Covid19. “Desejo muita coragem aos profission­ais da Saúde. O mundo enfrenta essa guerra biológica, mas vamos sair dessa”, encorajou.

A jovem já fez estágios no Hospital Geral de Luanda, no Hospital Municipal de Cacuaco e no Hospital Psiquiátri­co de Luanda.

Jerusa Vaz vive com 12 irmãos na rua São Bartolomeu. Disse que a família já está a habituar-se com a cerca sanitária e convive normalment­e com as dificuldad­es.

Afirmou que na rua em que vive os moradores receberam apenas duas vezes produtos da cesta básica como arroz, fuba de milho, pão e lataria.

Futungo com pouca água

No Futungo, outra zona de Luanda que observa a cerca sanitária, o grande problema é a falta de água. “Apelamos às autoridade­s para, pelo menos, abrirem as torneiras uma vez por semana. O fornecimen­to da cesta básica também deixa muito a desejar”, disse Nelson Fragoso, morador no distrito urbano do Futungo.

Nelson Fragoso falou também da falta de gás e apelou à Administra­ção local para garantir a venda do produto no bairro.

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PAULO MULAZA | EDIÇÕES NOVEMBRO

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