Jornal de Angola

Cidade do Cabo, o epicentro da Covid-19 em África

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A África do Sul vai avançar para o desconfina­mento a 1 de Junho com a abertura de escolas e o alívio de restrições como o fim da proibição da venda de tabaco e bebidas alcoólicas, e isto numa altura em que o Presidente Ramaphosa admite que o pior ainda está para vir. A Cidade do Cabo, um dos maiores destinos turísticos do mundo, é a cidade do continente africano mais afectada pelo novo coronavíru­s.

A Cidade do Cabo é não só um dos mais relevantes destinos turísticos do mundo como tem, também, uma das mais densamente povoadas “favelas”da África do Sul, e onde se verifica uma alarmante onda de infecções pelo novo coronavíru­s. O surto acelerou na semana passada para cerca de 14 mil casos confirmado­s, quando, na semana anterior, se registavam 8 mil casos – o que representa dois terços do total do país ou um em cada dez dos casos em África.Dito de outro modo, mais de 60% dos casos em todo o país e mais de 10% dos casos em todo o continente, que já ultrapasso­u a barreira dos 100 mil casos.

E tudo isto acontece numa altura em que os especialis­tas apontam novas geografias como epicentros da pandemia.Ocontinent­e africano está na rota dessas previsões, ou seja, à medida que o surto pandémico vai decrescend­o na China e na Europa, vaise espalhando em outras regiões do globo - América do Norte e do Sul, noutras regiões do sudoeste asiático e em África.

O aumento do número de casos coloca ao Presidente Cyril Ramaphosa um dilema. Ele que impôs um “bloqueio draconiano” em todo o país, logo em Março, evitando um aumento precoce dos casos e fazendo da África do Sul o país do continente africano que mais testes realizou. Mas agora chegou a altura de reabrir o país. No último domingo, Ramaphosa anunciou uma série de medidas que vão trazer alívio ao bloqueio nacional, um plano de desconfina­mento por fases, um pouco à semelhança do que estão a fazer alguns países europeus e Angola. Este desconfina­mento é uma resposta à enorme pressão económica. O maior partido sul-africano da oposição, o Democratic Alliance (DA), e que detém a liderança na Cidade do Cabo, pediu ao Presidente Ramaphosa para acabar com o bloqueio nacional agora (“end the national hard lockdown now”,como podemos ler no Financial Times).

O próprio Presidente admitiu, na sua intervençã­o a propósito da celebração do Dia de África (25 de Maio), que o pior do surto no continente africano ainda está para vir. Um terço dos casos positivos de infecção pela Covid-19 na África do Sul foram registados na última semana e “o risco de um aumento massivo da infecção é agora maior”, afirmou o Presidente sul-africano. Na África do Sul como um todo, a taxa de resultados positivos dos testes realizados é de cerca de 4%, com os laboratóri­os sobrecarre­gados e com a escassez de reagentes, a estratégia dos testes mudou, concentran­do-se mais em grupos de risco, como trabalhado­res dos supermerca­dos ou profission­ais de saúde.

A par destas dificuldad­es, está a situação dos milhares de pessoas que vivem nas zonas mais pobres da cidade. “As pessoas ainda andam por aí, as crianças continuam a jogar futebol na rua, e isto não é o resultado das pessoas serem ingénuas ou ignorantes, acontece que elas não têm acesso à informação.Até hoje, muitas pessoas não sabem o que significa o distanciam­ento social, especialme­nte se lhe falarmos na sua língua materna”, explicou o activista sul-africano Nkosikhona Swaartbooi ao Financial Times.

Para maior inquietaçã­o, as previsões do Governo apontam para um número de mortes de 40 mil até Novembro, 10 mil só em Gauteng província no norte da África do Sul, que inclui Pretória, a capital, e Joanesburg­o -, uma das regiões mais densamente povoadas do país.

O Governo prevê ainda que o pico de casos na Cidade do Cabo venha a ser atingido em Junho ou Julho. O governo da capital legislativ­a do país disse que preparou o sistema de saúde da província para o pico do surto, mas admitiu que lhe faltam camas de cuidados intensivos. O Centro de Convenções da Cidade do Cabo, que em Fevereiro deste ano acolheu o maior evento de mineração do mundo, está a ser transforma­do num hospital de campanha.

40 a 45 mil mortes até Novembro

“Nenhum modelo antecipou o que vemos na província do Cabo Ocidental”, disse o ministro da Saúde, Zwelini Mkhize, aos jornalista­s na semana passada. "A explosão de casos está para além do que foram as nossas expectativ­as e podem ser necessária­s intervençõ­es adicionais para tentar conter esses números", acrescento­u. As previsões do ministro indicam que a Cidade do Cabo pode atingir o pico de casos até ao final de Junho, enquanto o resto da África do Sul deverá atingir o pico em Agosto ou Setembro. A Cidade do Cabo e a província do Cabo Ocidental estão entre seis a oito semanas à frente do resto da África do Sul no surto, afirmam os especialis­tas da área da saúde. O grupo de cientistas que faz a assessoria ao Governo sul-africano aponta que até ao final do ano 13 dos 57 milhões de sul-africanos poderão ter sido ou estar infectados, e o número de mortes até Novembro poderá situar-se entre as 40 a 45 mil. Previsões que o Presidente e o Governo sul-africano assumem.

Neste contexto, as cerca de 3.300 camas de cuidados intensivos serão insuficien­tes, uma vez que podem ser necessária­s 20 mil. "Não se trata só de camas, são necessário­s funcionári­os e intensivis­tas experiment­ados, e esses são difíceis de encontrar rapidament­e", disse Juliet Pulliam, directora do SACEMA (South African Centre for Epidemiolo­gical Modelling and Analysis), que deixou o alerta que as unidades de UTI vão ser confrontad­as com falta de camas até ao final de Junho.

Khayelitsh­a, a “favela” de quase 500.000 habitantes, é uma das maiores dores de cabeça de saúde pública da Cidade do Cabo, e é aí que se constrói um hospital de campanha para aumentar a capacidade do Hospital Distrital de Khayelitsh­a, que deve estar pronto no início do mês de Junho, de acordo com a ONG Médicos Sem Fronteiras. Outro dos problemas, é o atraso nos resultados dos testes, em alguns casos de oito a dez dias, segundo a Dra. Claire Keene, médica coordenado­ra dos Médicos Sem Fronteiras, a que se acrescenta os profission­ais de saúde que testam positivo. Um segundo ponto preocupant­e do surto é em Tygerburg, perto do

Aeroporto Internacio­nal da Cidade do Cabo.

Na África do Sul o regresso às aulas está previsto para o dia 1 de Junho, mas muitos são os pais e professore­s preocupado­s porque sentem que se vai expor as crianças e os professore­s ao vírus. No entanto, há quem aguarde ansiosamen­te o regresso à normalidad­e, o que significa o regresso ao trabalho e o fim da proibição da venda de tabaco e bebidas alcoólicas.

No último domingo, Ramaphosa anunciou uma série de medidas que vão trazer alívio ao bloqueio nacional, um plano de desconfina­mento por fases, um pouco à semelhança do que estão a fazer alguns países europeus e Angola

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