A pandemia e o desastre das economias emergentes
Nos países mais ricos, as medidas incluem o chamado distanciamento social, o fecho de negócios não-essenciais e a recomendação ou exigência do uso de máscaras faciais.
A China não arrisca uma previsão de crescimento do PIB e as principais economias do mundo fazem contas aos terríveis custos da pandemia, mas pior estão as economias dos países em de-senvolvimento e emergentes, que, sem ajuda multilateral, dificilmente sairão da crise e prolongarão os efeitos devastadores do novo coronavírus no mundo.
O mundo está perante a terrível crise provocada pela Covid-19. Como surgimento de uma vacina levará pelo menos um ano, ano e meio, os Governos precisam de ganhar tempo e impedir que os seus sistemas de saúde entrem em colapso, ao mesmo tempo que têm de tomar medidas para controlar a taxa de novas infecções e o número de mortes.
Nos países mais ricos, as medidas incluem o chamado distanciamento social, o fecho de negócios não-essenciais e a recomendação ou exigência do uso de máscaras faciais. Os custos económicos são terríveis, e mais ainda numa primeira fase, ainda assim, menores do que os custos de perdas de vidas humanas se o vírus se espalhasse sem qualquer controle.
De uma forma geral, a maior parte dos países asiásticos e europeus estão agora no segundo round do combate à pandemia, que se traduz num número decrescente de novos casos e uma queda no número de mortes, ao mesmo tempo que se deita mão de uma testagem mais massificada e de um maior rastreio dos contactos com recurso à tecnologia. No entanto, e o alerta é de analistas do Project Syndicate, a pandemia nunca estará sob controle enquanto houver taxas crescentes de infecções noutras partes do mundo.
O perigo do ressurgimento
Um contágio viral é como um incêndio: são necessárias apenas algumas faíscas para desencadear um ressurgimento, e não importa o rigor das medidas que os países mais ricos possam tomar para impedir que o vírus entre através das suas fronteiras.Haverá sempre a possibilidade de novos surtos, venham eles de onde vierem e como vierem. E é por isso que se defende, e na ausência de uma vacina universalmente disponível, que o combate à pandemia passa agora pelos países mais pobres, e, inevitavelmente, pensa-se na América Latina e em África. Sendo que a América Latina é o novo epicentro da pandemia, por estes dias, com o Brasil em foco.
Os países mais pobres não só estão menos bem preparados para uma pandemia, uma vez que têm sistemas de saúde muito débeis, mas também porque o distanciamento social e as cercas sanitárias locais se tornam quase impossíveis em áreas urbanas superpovoadas, sem água e condições sanitárias, e onde as famílias metem na boca o que ganham ao dia.
Temos, então, que aos sistemas de saúde mal equipados, subfinanciados e com falta de recursos humanos, se acrescenta a ausência de programas sociais, onde uma má gestão dos sistemas social e fiscal não são capazes de garantir um apoio mínimo aos trabalhadores desempregados e às suas famílias.
Ameaça aos emergentes
Os países emergentes e em desenvolvimento têm duas necessidades gerais: precisam de apoio adicional para os seus sistemas de saúde e precisam de financiamento para evitar a fome e a penúria generalizada. Sendo que há países que têm algum espaço para aumentar a carga fiscal e suportar as suas despesas, outros, e são a maioria, não.
Muitas destas economias, e em termos financeiros, tinham já os seus orçamentos no limite e tiveram que recorrer a novos empréstimos para apoiar o desenvolvimento económico, e isto antes da pandemia. A Argentina, por exemplo, atravessava algum aperto no que tem a ver com os compromissos do serviço da dívida, e outros países estavam já demasiado endividados e com pouca margem para solicitarem novos em-préstimos externos.
Para resolver este problema, pelo menos em parte, os G20 concordaram em permitir que 76 países congelassem o pagamento das dívidas bilaterais até ao final do ano, e apelou aos credores que fizessem o mesmo. Ao mesmo tempo que o Fundo Monetário Internacional (FMI) cancelou, por seis meses, o pagamento das dívidas a 25 países e disponibilizou fundos adicionais de desembolso rápido. O Banco Mundial e os bancos regionais de desenvolvimento também se comprometeram com recursos adicionais para apoiarem este esforço.
Necessidade de novos mecanismos de luta
A crise provocada pela Covid19 mostrou, entre outras coisas, que o mundo precisa de criar novos mecanismos para lidar com as crises das dívidas soberanas, em particular daquelas que se afiguram mais insustentáveis. Por agora pensa-se numa paralisação do serviço da dívida através de um mecanismo que passe pelo FMI, e, dessa forma, libertar recursos para fazer face ao combate à propagação do vírus e impedir desastres humanitários mais profundos. Historicamente, os Estados Unidos e a Organização Mundial de Saúde (OMS), assumiram a liderança no combate a epidemias, como o surto de Ébola em 2014-2016 na África Ocidental, mas agora os Estados Unidos abandonaram essa liderança e declararam “guerra política” à OMS, suspendendo o financiamento à organização das Nações Unidas. Em jeito de resposta, a China anunciou que irá contribuir com dois mil milhões de dólares adicionais.