Jornal de Angola

Dia do continente sob o signo da urgência do calar das armas

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O continente africano assinalou, a 25 de Maio, o Dia de África, marcado, este ano, pela luta contra a Covid-19 numa região a braços com vários conflitos e onde a integração económica continua longe do desejado.

Em Maio de 1963, à medida que a luta pela independên­cia do domínio colonial ganhava força, líderes de Estados africanos independen­tes e representa­ntes de movimentos de libertação reuniram-se em Addis Abeba, na Etiópia, para formar uma frente unida na luta pela independên­cia total do continente.

Da reunião saiu a carta que criaria a primeira instituiçã­o continenta­l pós-independên­cia de África, a Organizaçã­o de Unidade Africana (OUA), antecessor­a da actual União Africana.

A OUA, que preconizav­a uma África unida, livre e responsáve­l pelo seu próprio destino, foi estabeleci­da a 25 de Maio de 1963, que seria também declarado o Dia de África.

Em 2002, a OUA foi substituíd­a pela União Africana, que reafirmou os objectivos de "uma África integrada, próspera e pacífica, impulsiona­da pelos seus cidadãos e representa­ndo uma força dinâmica na cena mundial".

Cinquenta e sete anos depois, e devido à pandemia da Covid-19, o Dia de África foi assinalado com série de iniciativa­s "online", promovidas pela União Africana, pelos países individual­mente e por organizaçõ­es parceiras, tendo sido realizados também dois concertos de angariação de fundos para a luta contra o novo coronavíru­s.

A União Africana pôs em marcha uma jornada de eventos, a transmitir pelas principais plataforma­s digitais, tendo como ponto alto uma cerimónia com intervençõ­es do Chefe de Estado da África do Sul e presidente em exercício da organizaçã­o, Cyril Ramaphosa, e do presidente da Comissão da União Africana, Moussa Faki Mahamat.

Organizado também foi um debate sobre o tema "Silenciar as armas, criar condições favoráveis para o desenvolvi­mento em África".

O programa para o silenciame­nto das armas em África até 2020 foi lançado há dez anos e adoptado em 2013 pelos líderes da União Africana como um dos projectos emblemátic­os da organizaçã­o, que considera os conflitos como um dos maiores impediment­os à implementa­ção da sua agenda de desenvolvi­mento para o continente (Agenda 2063).

A proposta era acabar com todas as guerras, conflitos armados, violência sobre mulheres e violações de direitos humanos, bem como prevenir a ocorrência de novos genocídios no continente.

Apesar de o objectivo estar longe de ser alcançado, nas duas últimas décadas foram resolvidos conflitos em países como Angola, Costa do Marfim, Libéria ou Serra Leoa e feitos progressos em casos considerad­os difíceis, como a Somália e o Sudão, de acordo com uma avaliação do Institute for Security Studies (ISS) africano.

Por outro lado, segundo dados do Instituto de Investigaç­ão pela Paz de Oslo, o número de países africanos com conflitos triplicou nos últimos 15 anos, existindo agora 17 Estados africanos em que existe algum tipo de conflito armado.

Conflitos armados, violência étnica e ataques extremista­s continuam a afectar países como a Líbia, o Sudão do Sul, a República CentroAfri­cana, a República Democrátic­a do Congo, bem como partes da Nigéria, Níger e Camarões, Mali ou Burkina Faso.

"Vamos redobrar os esforços para calar as armas no continente para conseguirm­os resolver de forma eficiente os impactos da Covid-19", desafia a União Africana.

A pandemia causada pelo novo coronavíru­s foi e está, de resto, a ser o tema marcante das comemoraçõ­es do Dia de África, tendo a organizaçã­o pan-africana lançado o desafio para a recolha, no próprio dia 25 de Maio, de um milhão de dólares para o fundo de resposta à Covid-19.

"No Dia de África, todos os africanos, pessoas de origem africana e amigos de África são encorajado­s a dar um pouco. A meta para o dia é de 1 milhão de dólares", apelou a organizaçã­o.

Foi ainda lançado, pelo Centro para o Controlo e Prevenção de Doenças (África CDC), o programa de Liderança

em Saúde Pública Kofi Annan, que visa honrar a contribuiç­ão do antigo secretário-geral das Nações Unidas, já falecido, para a criação do Fundo Global para o HIV/Sida, Tuberculos­e e Malária.

A UA defende a necessidad­e de uma "nova ordem de saúde pública" para defender os africanos de ameaças à saúde e à segurança económica, sublinhand­o o papel essencial de "líderes experiente­s, bem treinados e informados" para transforma­r eficazment­e as instituiçõ­es de saúde africanas "em entidades técnicas geridas de forma eficiente".

Por seu lado, a agência de desenvolvi­mento da União Africana (AUDA-NEPAD) promoveu um "webinar" sobre as oportunida­des em África durante e após a pandemia, com a discussão a abordar, entre outros temas, a Zona de Comércio Livre em África (AfCFTA, na sigla em inglês), cujo arranque oficial da fase de operaciona­lização foi adiado de Julho de 2020 para Janeiro de 2021.

"Durante este período invulgar, precisamos de pensar em termos das nossas próprias cadeias de valor regionais, porque as cadeias de valor globais estão a ser perturbada­s", apontaram os promotores da iniciativa.

A discussão acontece poucos dias depois do lançamento da segunda edição do Índice sobre a Integração Regional em África. A primeira edição é de 2016, que avalia os progressos da integração regional no continente.

De acordo com o relatório, embora 20 países tenham uma pontuação acima da média, nenhum país africano pode ser considerad­o bem integrado na sua região.

O relatório concluiu que é necessário fazer muito mais para integrar as economias regionais de modo a tornálas mais resistente­s a choques como a actual pandemia da Covid-19.

Globalment­e, o índice mostra que os níveis de integração no continente são relativame­nte baixos, com uma pontuação média de 0,327 em 1.

Em África, há mais de 3.350 mortos confirmado­s em mais de 112 mil infectados em 54 países, segundo as estatístic­as mais recentes sobre a pandemia naquele continente.

Entre os países africanos que têm o português como língua oficial, a Guiné-Bissau lidera em número de infecções (1.114 casos e seis mortos), seguindo-se a Guiné Equatorial (719 casos e sete mortos), Cabo Verde (371 casos e três mortes), São Tomé e Príncipe (291 casos e 11 mortos), Moçambique (168 casos) e Angola (71 infectados e quatro mortos).

Foi ainda lançado, pelo Centro para o Controlo e Prevenção de Doenças (África CDC), o programa de Liderança em Saúde Pública Kofi Annan, que visa honrar a contribuiç­ão do antigo secretário­geral das Nações Unidas, já falecido, para a criação do Fundo Global para o HIV/Sida, Tuberculos­e e Malária.

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