Cresce risco de exploração de refugiados em África
A maioria dos refugiados das zonas urbanas perdeu trabalhos com o fecho dos negócios causado pelas medidas tomadas para combater a pandemia da Covid-19
O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) alertou, ontem, para o risco das dificuldades económicas causadas pela pandemia estarem a empurrar os refugiados urbanos de África para a exploração laboral e sexual.
Em regiões da África Oriental, no Corno de África e na Região dos Grandes Lagos, os refugiados das zonas urbanas perderam os empregos com o encerramento dos negócios motivados pelas medidas de combate à pandemia da Covid-19.
A maioria ganhava ao dia em sectores da economia informal e enfrentava grandes dificuldades financeiras mesmo antes da crise.
"Tememos que se não receberem mais apoio, muitos refugiados urbanos se tornem extremamente vulneráveis à exploração, contraiam dívidas significativas e possam ser forçados a situações desesperadas para sobreviver, como trabalho infantil ou sexo transaccional", disse o porta-voz do ACNUR, Charlie Yaxley, durante uma conferência de imprensa virtual.
Muitos refugiados urbanos vivem em lugares altamente massificados e com pouca higiene, a que se soma o facto de estarem fora das redes de segurança social, pelo que são particularmente vulneráveis à propagação do novo coronavírus. No Quénia, milhares de refugiados vivem nos bairros pobres de Nairobi com pouco acesso a água potável, o que impossibilita a frequente lavagem das mãos, e no Rwanda, a maioria dos 12 mil refugiados registados perderam o trabalho.
Nestes países, o ACNUR deu uma ajuda em dinheiro aos mais afectados e no Ugan-da cerca de 80 mil pessoas recebem apoio financeiro da agência das Nações Unidas para pagar a renda e comprar comida e outros bens essenciais. No entanto, estas são medidas temporárias que serão insuficientes para fazer face à deterioração das condições que se estima ocorrerá nos próximos meses, segundo o ACNUR.
O impacto nas crianças está igualmente a revelar-se grave, com o fecho de escolas e a impossibilidade de muitas delas seguirem cursos à distância por falta de computadores, ligação à Internet e mesmo rádios e televisões. Perante este cenário, o ACNUR lançou um apelo para a mobilização de fundos dirigidos aos poderes públicos, mas também a empresas e particulares.
Perante uma vaga de despejos por falta de pagamento, a agência desafia os Governos e os senhorios a estabelecerem moratórias de pagamento das rendas durante a crise e a doarem rádios, telemóveis e computadores a estas comunidades.
Pede ainda às operadoras de telecomunicações que forneçam dados móveis às famílias refugiadas para que os seus filhos possam acompanhar as aulas à distância.
O número de mortos pela Covid-19 em África aumentou para quase quatro mil nos últimos dias, em mais de 115 mil casos de infecção em 54 países, de acordo com dados sobre a pandemia no continente. Segundo dados divulgados pelo Centro de Controlo e Prevenção de Doenças da União Africana (África CDC), o número de mortos subiu para cerca de 3.470, até ontem, enquanto os casos de infecção aumentaram de 111.348 para 115.346. A nível global, a pandemia da Covid-19 provocou mais de 344 mil mortos e infectou mais de 5,4 milhões de pessoas.