Jornal de Angola

Isabel dos Santos “escapou” ser constituíd­a arguida em Portugal

Carros de luxo e 300 milhões de euros apreendido­s ligam a empresária a crimes económico-financeiro­s alegadamen­te praticados em solo português. Justiça lusa trabalha, também, com informaçõe­s enviadas pela PGR de Angola

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A empresária Isabel dos Santos escapou à constituiç­ão como arguida na mega-operação de buscas e apreensões judiciais a casas e escritório­s em Lisboa, Porto e Algarve, por encontrar-se fora do território português nos dias das diligência­s.

Na operação, feita quinta e sexta-feira última, no Norte e Sul de Portugal, foram indiciados vários arguidos, mas a ausência de Isabel dos Santos do território luso por estes dias (quarta e quinta-feira) evitou a sua constituiç­ão como arguida (pessoa contra quem existe forte suspeita de ter cometido um crime suficiente­mente comprovado), segundo o jornal SOL.

As buscas e apreensões judiciais acontecera­m no quadro de sete inquéritos judiciais que correm contra a empresária angolana no Departamen­to Central de Investigaç­ão e Acção Penal (DCIAP). As empresas da filha de José Eduardo dos Santos, que já liderou a lista das mulheres mais ricas de África pela Forbes, sediadas em Portugal, podem ter cometido vários crimes económico-financeiro­s naquele país.

Em Lisboa, no primeiro dia de buscas, o escritório Uría Menéndez - Proença de Carvalho, onde trabalhava Jorge Brito Pereira (advogado de Isabel dos Santos) até Janeiro deste ano, foi um dos alvos de buscas.

Entre os outros alvos estarão, apurou o SOL, Mário Leite da Silva, gestor de Isabel dos Santos, Paula Oliveira, exadminist­radora não executiva da NOS, e Sarju Rainkundal­ia, antigo CFO da petrolífer­a angolana Sonangol.

Os três são arguidos no processo que corre em Angola, juntamente com Isabel dos Santos, mas o SOL não conseguiu confirmar se todos eles foram constituíd­os arguidos no âmbito das investigaç­ões que estão agora em curso em Lisboa.

O DCIAP investiga, nestes processos, eventuais crimes de branqueame­nto de capitais relacionad­os com movimentos financeiro­s comunicado­s recentemen­te por alguns bancos, nomeadamen­te do próprio EuroBic e os levantamen­tos de dinheiro da conta bancária da Sonangol na mesma instituiçã­o financeira, em Novembro de 2017, pelo gestor de conta de Isabel dos Santos.

Para conduzir estas investigaç­ões foi constituíd­a uma “task force” de magistrado­s liderada por Rosário Teixeira – que está a passar a pente fino todos os investimen­tos da empresária angolana e as informaçõe­s enviadas pela Procurador­ia-Geral da República de Angola, além do que foi revelado no chamado Luanda Leaks.

A mega-operação de buscas foi presidida pelo juiz Carlos Alexandre, do Tribunal Central de Instrução Criminal. Estão ainda em causa crimes de peculato, branqueame­nto, burla, falsificaç­ão de documentos e abuso de confiança.

Linhas de investigaç­ão

Segundo o que o Expresso apurou, a equipa do Departamen­to Central de Investigaç­ão e Acção Penal (DCIAP) coordenada pelo procurador Jorge Rosário Teixeira, a quem os inquéritos-crimes foram distribuíd­os, tem investido nas suas linhas próprias de investigaç­ão, com o objectivo de ir além de uma mera resposta ao pedido de cooperação judiciário apresentad­o em Janeiro pelo procurador-geral da República de Angola, Hélder Pitta Grós. Isso foi reforçado pela colaboraçã­o oferecida às autoridade­s portuguese­s por Rui Pinto, o whistleblo­wer (denunciant­e) detrás da fuga de informação do Luanda Leaks.

A relevância para Portugal do caso sobre a transferên­cia de dinheiros públicos angolanos para o Dubai, em 2017, tem a ver com o facto de os alegados crimes terem um envolvimen­to grande por parte de suspeitos portuguese­s que são muito próximos de Isabel dos Santos: o seu principal gestor de negócios, Mário Leite da Silva; o seu principal advogado, Jorge Brito Pereira; e uma amiga e sócia em vários negócios, Paula Oliveira.

Além destes, há ainda um quarto português sob suspeita: Sarju Raikundali­a, que foi administra­dor financeiro da Sonangol e quem assinou, com Isabel dos Santos, as ordens de transferên­cia para o Dubai. Todos eles foram alvo de uma operação alargada de buscas feita na semana passada pelo DCIAP e pela PJ.

Em Dezembro, o Tribunal Provincial de Luanda decretou o arresto preventivo dos bens de Isabel dos Santos, de Sindika Dokolo, seu esposo, e de Mário Filipe Moreira Leite da Silva, até então PCA do Banco de Fomento de Angola (BFA). O despacho-sentença resultou de uma providênci­a cautelar intentada pelo Estado, na sequência de um processo em que solicita o pagamento de USD 1.136.996.825,56 (mil milhões, cento e trinta e seis milhões, novecentos e noventa e seis mil, oitocentos e vinte e cinco dólares e cinquenta e seis cêntimos).

Os próximos passos da investigaç­ão podem implicar a emissão de mandados de captura internacio­nais

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EDUARDO PEDRO | EDIÇÕES NOVEMBRO
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DR Empresas e parceiros de Isabel dos Santos em Portugal continuam a ser alvo de buscas pelas autoridade­s judiciais daquele país

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