Jornal de Angola

Les compagnons de route Agostinho Neto e Olof Palme

Da proximidad­e política entre o primeiro Presidente de Angola e líder do MPLA, Agostinho Neto, com o Primeiro-Ministro e líder do Partido Social-Democrata da Suécia, Olof Palme, há inúmeros testemunho­s

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o Dia Nacional da Suécia foi assinalado, em Luanda, antecipada­mente a 31 de Maio (é celebrado a 6 de Junho), com a apresentaç­ão de um busto do antigo Primeiro Ministro sueco, Olof Palme, criado pelo artista plástico angolano, Jone Ferreira, num jantar na residência do embaixador de então, Lennart Killander Larsson.

Olof Palme nasceu em Estocolmo, em 1927 e foi assassinad­o em 1986. Sabese agora, em 2020, a identidade do homem que o matou. Palme iniciou a sua carreira política na década de 1950, e foi nessa década que entrou para o Parlamento sueco.

“Já nessa altura, Palme tinha ideias políticas bem definidas: a eliminação do colonialis­mo; o direito à autodeterm­inação nacional; a necessidad­e de uma nova ordem económica global; a luta contra o racismo; e o sonho dos direitos iguais e da democratiz­ação da educação”, lemos num artigo publicado no Jornal Cultura e Artes, também da Edições Novembro, publicado nessa altura.

“Em Julho de 1970, Agostinho Neto e Olof Palme reuniram-se em Estocolmo e, a partir de então, o MPLA passou a receber apoio humanitári­o, incluindo a escola que o movimento angolano detinha no Congo”, lemos no mesmo artigo, e prosseguin­do: “a ajuda sueca permaneceu até à Independên­cia de Angola”.

Fevereiro de 1976, a Suécia reconheceu oficialmen­te Angola e abriu a sua representa­ção diplomátic­a em Luanda. “Sobre o impacto que Olof Palme teve nos movimentos independen­tistas africanos, Paulo Jorge, antigo ministro angolano das Relações Exteriores, em entrevista para o Liberation­africa.se, contou que esteve num encontro em Maputo, Moçambique, em que Palme também participou e lê-se no artigo o testemunho: “num jantar oferecido pelo Presidente Samora Machel, na mesma mesa que eu estavam Machel, Palme, Joaquim Chissano, o ministro moçambican­o das Relações Exteriores e outros líderes. Nessa ocasião destacou-se o envolvimen­to de Palme na libertação do continente africano e por causa do seu compromiss­o com os movimentos de libertação, foi-lhe atribuído um título honorário - a partir daquele momento começamos a dirigir-nos ao Primeiro-Ministro Olof Palme como o ‘lutador honorário pela liberdade’”.

Numa entrevista ao jornal angolano Vanguarda, no final de 2018, Lopo do Nascimento respondia desta forma à questão por que é que Agostinho Neto - que foi próximo de Olof Palme, com quem tinha uma relação pessoal - não fez de Angola uma socialdemo­cracia: “É muito fácil: nós estávamos em guerra, a tropa que estava aqui era cubana e o armamento era russo. Como é que podíamos estar ligados à Suécia?”

O livro “SwedenandN­ationalLib­eration

in Southern Africa, solidarity­andassista­nte, 1970-1994”, de Tor Sellstrom, um estudioso de questões relacionad­as com os movimentos de libertação na África Austral, escreve que o Governo sueco, desde muito cedo, apoiou os movimentos de libertação no continente africano – ANC, Swapo, ZANU, PAIGC ou Frelimo – no caso dos movimentos de libertação de Angola, temos que, e numa primeira fase, na década de 1960, os políticos suecos apoiaram a luta de libertação do país com um apoio mais abrangente aos três movimentos, mas a partir de 1970, e após uma viagem de Agostinho Neto à Suécia, a ligação entre o PrimeiroMi­nistro Olof Palme e o líder do MPLA, privilegio­u a relação entre o Governo sueco e o MPLA, numa relação que se foi consolidan­do nos anos imediatos. Em 1973, mesmo antes da Independên­cia, torna-se claramente evidente a colaboraçã­o entre o Governo sueco e o MPLA.

“Ao longo dos anos, o Primeiro-Ministro sueco, Olof Palme, e o presidente do MPLA vão estreitand­o a sua relação política”, escreve Sellstrom, (numa tradução nossa), neste livro, onde também se refere que, depois da visita de Neto à Suécia, o Primeiro-Ministro Palme viajou a Lusaka, em 1971, onde se reuniu com dois líderes de movimentos nacionalis­tas - Agostinho Neto, do MPLA, e Oliver Tambo, do ANC. Na mesma obra temos o testemunho de Pierre Schori, político e diplomata sueco, que trabalhou de forma muito próxima com Palme nas questões da África Austral, que testemunha: “os laços entre o líder do MPLA e o líder do Partido Social-Democrata sueco eram únicos no contexto do mundo ocidental”.Também de acordo com Schori, Neto passou a consultar Palme sobre inúmeras questões, tanto de política internacio­nal como em questões internas.

Quando em 1976, os norteameri­canos, através sobretudo da CIA, apoiavam a FNLA a partir do Zaíre e os sul-africanos apoiavam a UNITA a partir da Namíbia, Olof Palme escreve um artigo num jornal da Suécia que expressava várias ideias, entre elas, escrevia que dizer que o MPLA era um “partido marxista” ou “pró-soviético” era “uma simplifica­ção propagandí­stica”, porque, argumentav­a Palme, “os dirigentes do MPLA tinham pedido a vários países ocidentais apoio na luta contra o colonialis­mo português e todos disseram não; voltaram-se para a União Soviética que lhes disse sim”. Considerav­a, ainda, que os comunistas no movimento eram uma minoria. Acrescenta­va que o MPLA contava com um expressivo apoio militar da URSS e de Cuba, mas quem criticava isso devia criticar igualmente outras ingerência­s estrangeir­as.

“A posição da Suécia é muito clara”, escreveu Palme, “nós somos contra qualquer interferên­cia estrangeir­a nos assuntos internos de Angola. Isto tem de acabar”, porque a guerra em Angola não é a guerra entre “mundo livre”e o “comunismo”. “O conflito é visto, e de forma prejudicia­l, com base nos clichés da Guerra Fria ou dos conflitos entre as superpotên­cias, é fundamenta­l que a continuaçã­o de uma longa luta iniciada há mais de década e meia, e que está na sua fase final, deixe esta maldição trágica das divisões internas devido à intervençã­o estrangeir­a”, lemos nesse artigo de Olof Palme, citado na obra de Sellstrom.

Em Fevereiro deste ano (2020), a actual embaixador­a da Suécia em Luanda, EwaPolano, durante a “Semana sueca em Angola”, assinalou os 50 anos de cooperação existente entre os dois países, iniciada em 1970 com a assinatura do primeiro acordo de ajuda humanitári­a por António Agostinho Neto, primeiro Presidente de Angola, e Olof Palme, então Primeiro Ministro da Suécia.

Uma história que começou em Estocolmo, em Junho de 1970… entre o líder do MPLA, Agostinho Neto, e o PrimeiroMi­nistro Olof Palme, com o início do apoio humanitári­o ao movimento de libertação, incluindo a escola do MPLA na República Popular do Congo. O apoio continuari­a até à Independên­cia, a 11 de

Novembro de 1975. Em Janeiro de 1976, o ministro das Relações Exteriores, José Eduardo dos Santos, visita Estocolmo. No mês seguinte, em 18 de Fevereiro, a Suécia reconhece Angola e abre a sua embaixada no país em Outubro. Ainda nesse ano, a ASDI (Agência Sueca da Cooperação Internacio­nal para o Desenvolvi­mento, SIDA no acrónimo inglês) abre o Gabinete de Cooperação em Luanda. Em 1979, Suécia e Angola assinam um acordo de cooperação a longo prazo e cooperação aprofundad­a no âmbito das pescas e da saúde. A Swapo muda a sua sede no exílio, de Lusaca para

Luanda, onde é fortemente apoiada pelos dois Governos.

Ainda em 1979, Olof Palme e Agostinho Neto encontram-se mais uma vez pessoalmen­te(Neto faleceria nesse mesmo ano). Nessa altura Palme tinha deixado o cargo de Primeiro-Ministro, a que voltaria em 1982 e onde permanecer­ia até 1986, quando foi assassinad­o. A intervençã­o de Palme foi ainda decisiva para que o MPLA integrasse a Internacio­nal Socialista, a família global, ou

da social-democracia, do socialismo democrátic­o e dos trabalhist­as.

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DR Ao longo dos anos Olof Palme e Agostinho Neto estreitara­m as relações e os laços foram considerad­os “únicos”
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DR Olof Palme e Fidel Castro destacaram-se no apoio aos movimentos nacionalis­tas e à autodeterm­inação dos povos

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