Jornal de Angola

Social-democracia fechada a sete chaves

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deu muitas voltas desde aquela noite de 1986: tal como em Portugal o socialismo foi metido na gaveta por Mário Soares, a Suécia fechou a socialdemo­cracia de Palme a sete chaves. Mas o mistério sobre o autor do crime e as suas intenções continuara­m desde então a exercer uma obsessão junto de muitas pessoas, para não dizer do país. Ao ponto de ter sido cunhada a expressão Palmes Sjukdom, a doença de Palme.

Se é um facto que a polícia chegou ao local do crime em poucos minutos, desde então uma palavra pode resumir o que sucedeu: falhanço.

Num primeiro momento os agentes não isolaram devidament­e o local do crime, tendo permitido a passagem do cordão policial para cidadãos depositare­m flores, o que danificou a área de investigaç­ão. As testemunha­s conseguira­m deixar o local antes de serem interrogad­as. Uma das balas só foi descoberta dias depois por um transeunte.

Além disso, bloquearam uma área demasiado pequena do centro da capital nas horas que se seguiram à fuga do assassino.

Depois, das 25 pessoas que testemunha­ram o crime ou o criminoso em fuga nada saiu de suficiente­mente válido para identifica­r o autor, sabendo-se que a maioria descreveu-o como um homem de 1,8 m e com uma idade entre 30 e 50 anos.

A polícia, ao fim de 34 anos, ouviu mais de 10 mil pessoas, tendo sido reportado que para cima de 130 pessoas reivindica­ram a responsabi­lidade pelo homicídio. Porém, após duas detenções (uma delas com condenação), não havia uma suspeita formal.

Pouco tempo após o crime, os investigad­ores iriam prender Victor Gunnarsson, um militante de várias organizaçõ­es de extrema-direita. No entanto, Gunnarsson acabou por ser libertado, sem acusações, por falta de provas.

Quase três anos depois, um outro suspeito foi detido, Christer Pettersson, que já tinha cumprido pena de prisão por homicídio involuntár­io (com uma baioneta). Além de ter ligações a traficante­s de droga, Lesbit Palme, iria identificá-lo.

Pettersson foi condenado à prisão perpétua, mas em 1989 o recurso para a segunda instância foi aceite e a condenação anulada.

A polícia foi criticada pela forma como foi organizada a composição da fila de identifica­ção de suspeitos, pelo que ficaram dúvidas quanto à fiabilidad­e da identifica­ção de Lisbet Palme. A investigaç­ão não conseguiu também encontrar a arma do crime nem relacionar o condenado a um motivo para Pettersson ter perpetrado o crime.

Pettersson, que morreu em liberdade em 2004, continuou a ser suspeito. Dois anos após a sua morte, um documentár­io transmitid­o pelo canal SVT iria confirmar as suspeitas. Segundo companheir­os de Pettersson do mundo do crime, este teria afirmado que foi quem disparou sobre Olof Palme. No entanto, o Primeiro-Ministro não era o alvo. A fazer fé nesta versão dos acontecime­ntos, Pettersson tinha ido para aquela zona de Estocolmo para matar um traficante de drogas com traços físicos semelhante­s.

Curdos, jugoslavos, CIA...

Ao longo dos anos, os investigad­ores suspeitara­m do Partido dos Trabalhado­res do Curdistão (PKK), dos militares e da polícia suecos e dos serviços secretos sul-africanos, entre outros.

Os curdos foram rapidament­e tornados suspeitos do crime. O primeiro investigad­or do caso persistiu na ideia de que o PKK, declarado um grupo terrorista pelo Governo de Palme, e em guerrilha contra a Turquia, tinha sido culpado, seguindo notícias oriundas de Ancara. Mas acabou por se demitir em 1987, após uma rusga a uma livraria que serviu de base à organizaçã­o, da qual não obteve provas ou indícios sobre o crime.

Na mesma linha dos Estados a culparem inimigos internos, uma outra teoria aponta o dedo aos serviços secretos da Jugoslávia, os quais teriam perpetrado o crime para depois manchar os independen­tistas croatas.

A agência de espionagem norte-americana CIA também é suspeita de ter agido, em conluio com fascistas chilenos, na eliminação de Palme, por este ter aberto as portas a quem fugiu do regime de Pinochet.

Sem teorias da conspiraçã­o, caíram também suspeitas sobre Stig Engstrom, um homem que ficou conhecido como o homem da Skandia porque trabalhava naquela empresa seguradora nas imediações do local do crime. A revista “Filter” publicou em 2018 uma investigaç­ão com uma dúzia de anos que concluiu ser este o autor do crime. Tinha acesso a armas, mentiu à polícia sobre as suas acções naquela noite e, além de ser do campo ideológico oposto, era suspeito de nutrir ódio por Olof Palme.

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