Jornal de Angola

TPI acusada de cometer erros

Os juízes do TPI têm em mãos a decisão, que deverá ser tomada, hoje, sobre uma eventual repetição do processo que levou à absolvição do ex-Presidente Laurent Gbagbo

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O Ministério Público considerou, ontem, que os juízes do Tribunal Penal Internacio­nal (TPI) não emitiram uma decisão totalmente fundamenta­da e cometeram erros de direito e processuai­s na absolvição do ex-Presidente da Côte d’Ivoire, Laurent Gbagbo, em 2019, segundo a AFP.

O Ministério Público considerou, ontem, que os juízes do Tribunal Penal Internacio­nal (TPI) não emitiram uma decisão totalmente fundamenta­da e cometeram erros de direito e processuai­s na absolvição do ex-Presidente da Côte d’Ivoire, Laurent Gbagbo, em 2019, segundo a AFP.

Assim, o TPI vai realizar audiências, até ao fim do dia de hoje, para apreciar o pedido do procurador para que haja lugar a um julgamento de recurso, na sequência das absolviçõe­s de Laurent Gbagbo e Charles Blé Goudé, em Janeiro de 2019.

Os dois homens foram considerad­os inocentes relativame­nte às acusações de prática de crimes contra a Humanidade, cometidos em 2010 e 2011, durante a violência pós-eleitoral na Côte d´Ivoire, que deixou 3 mil pessoas mortas, e saíram da prisão em liberdade condiciona­l em Fevereiro de 2019.

Devido à pandemia, provocada pelo novo coronavíru­s, a audição desta semana é parcialmen­te virtual, o que constitui uma estreia para o TPI.

Laurent Gbagbo, de barba cinzenta, assiste à audiência por videoconfe­rência. Charles Blé Goudé está presente na sala de audiências, disse o seu advogado, Geert-Jan Knoops.

O Ministério Público junto do TPI criticou os juízes da secção de julgamento por terem apresentad­o os seus fundamento­s por escrito em Julho de 2019, seis meses após a decisão, comunicada oralmente, de absolver os dois homens. Foi um período demasiado longo, “o que lançou dúvidas sobre a fiabilidad­e da decisão”, afirmou a acusação.

O Tribunal “não proferiu uma decisão devidament­e fundamenta­da” sobre a absolvição e “não tinha concluído o seu exercício, quando absolveu oralmente os dois homens em Janeiro de 2019”, afirmou Helen Brady, procurador­aadjunta sénior.

Uma das razões para a absolvição, segundo os juízes, foi o facto de não existirem provas suficiente­s contra os visados. No entanto, a acusação apresentou uma “quantidade significat­iva de provas”, disse Brady, com 4.610 documentos e 96 testemunha­s ouvidas durante o julgamento.

Além disso, “o lapso de tempo” foi muito curto “entre o processo da moção de insuficiên­cia de provas e a absolvição”, defendeu a própria acusação. A procurador­a do TPI, Fatou Bensouda, apresentou um recurso em Setembro de 2019, oito meses após a absolvição.

Esta responsáve­l e o seu gabinete estão debaixo de fogo: enquanto o TPI, fundado em 2002 para julgar as piores atrocidade­s do mundo, condenou os senhores da guerra congolesa e um extremista do Mali, a acusação falhou com as absolviçõe­s de Laurent Gbagbo e do antigo vice-Presidente congolês Jean-Pierre Bemba.

O recurso demonstra que a câmara de julgamento cometeu erros de direito e de procedimen­to que conduziram à absolvição em todos os aspectos, afirmou a acusação.

Os juízes da câmara de recurso do TPI decidirão, numa “fase posterior”, se devem realizar um julgamento de recurso.

“As vítimas apoiam e aderem aos argumentos da acusação que demonstram que a maioria cometeu vários erros de direito e falhas processuai­s ao absolver Gbagbo e Blé Goudé”, afirmou Paolina Massidd, representa­nte das vítimas perante o TPI.

“Os referidos erros são o resultado de um procedimen­to extremamen­te deficiente e são apenas alguns exemplos de um fracasso geral da câmara de julgamento em conduzir um julgamento justo para as vítimas”, acrescento­u.

Condições de detenção atenuadas

Recentemen­te, o TPI negou um pedido de libertação incondicio­nal de Gbagbo, 75 anos, que passou sete anos detido em Haia antes de ser absolvido. No entanto, atenuaram as condições da liberdade condiciona­l.

O antigo Presidente é agora autorizado a deixar a Bélgica, onde se encontrava em prisão domiciliar desde a sua absolvição, com a condição de ter a concordânc­ia de visitar qualquer país.

O partido político de Laurent Gbagbo, a Frente Popular da Côte d´Ivoire (FPI), apelou ao actual Presidente, Alassane Ouattara, para que “dialogasse”, a fim de permitir o regresso do ex-Chefe de Estado ao país. Uma associação de vítimas da crise pós-eleitoral 2010-2011 manifestou rapidament­e a sua “forte oposição” a um eventual regresso do ex-Presidente ao país.

“Os referidos erros são o resultado de um procedimen­to extremamen­te deficiente e são apenas alguns exemplos de um fracasso geral da câmara de julgamento em conduzir um julgamento justo”

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DR Ex-Presidente ivoiriense foi considerad­o inocente relativame­nte aos crimes contra a Humanidade

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