Desconfinamento e desobediência aumentam casos em Cabo Verde
O aumento da capacidade de testes, o desconfinamento, maior mobilidade das pessoas e a desobediência às normas são os principais factores apontados pelas autoridades de saúde para o aumento do número de casos da Covid-19 em Cabo Verde
Estes factores foram apontados na segunda-feira pelo director nacional de Saúde, Artur Correia, em conferência de imprensa, na Praia, quando fazia o ponto de situação da pandemia do novo coronavírus.
Na análise, Artur Correia disse que o aumento de casos no país começou com o fim do Estado de Emergência, diferenciado por ilhas, de 29 de Março a 29 de Maio, e início do desconfinamento, a 1 de Junho.
No dia 1 de Junho, Cabo Verde tinha 458 casos acumulados da Covid-19 e 21 dias depois esse número é mais que o dobro, com um total de 944 em seis das nove ilhas habitadas. O director nacional de Saúde justificou a subida do número de casos com o aumento de testes, tendo o país realizado até agora mais de oito mil testes de virologia e cerca de 27 mil testes rápidos para detecção de anticorpos.
No que diz respeito aos testes de virologia (PCR), Artur Correia sublinhou que se nas primeiras semanas da pandemia o país realizava cerca de 900, nas duas últimas as autoridades fizeram cerca de 1.400 por semana em todo o país. Artur Correia justificou ainda os números com o desconfinamento, que permitiu mais mobilidade às pessoas, assim como a consequente desobediência às normas instituídas pelas autoridades sanitárias.
Segundo o director, há quase dois meses, durante o período de confinamento, existia “uma estabilização de casos, com um mínimo de 44 e máximo de 84”, tendência que Artur Correia classificou como estacionária, “mas a partir de 1 de Junho começou a haver esses picos”.
O director nacional de Saúde referiu que os picos têm a ver com os dois novos focos de transmissão activa, na Ilha do Sal e no concelho de Santa Cruz, em Santiago, que juntos somam mais de 220 casos, registados praticamente todos em Junho.
“Esses dois é que contribuíram para desequilibrar a evolução normal, uma vez que na Praia tem havido uma certa estabilização”, disse o responsável da Saúde, que prevê um aumento de casos nos próximos dois dias no país, numa média de 15 por dia.
Com o retomar das ligações aéreas e marítimas de passageiros de Santiago para outras ilhas, prevista para o final deste mês, o director disse que não será surpresa o aparecimento de novos casos.
“O país não pode ficar fechado, as ilhas não podem ficar sem comunicação, tem de haver mobilidade de pessoas, trocas comerciais, a economia do país tem de funcionar”, declarou, defendendo que Cabo Verde não pode “ficar eternamente” com “cada ilha fechada em si própria, porque é impossível e o país não aguenta”. Na conferência de imprensa, o director nacional da Saúde abordou ainda a questão da discriminação sofrida por muitas pessoas que foram infectadas, bem como pelos seus familiares, frisando que “não faz sentido nenhum” já que as pessoas estão recuperadas e com testes negativos.
“A Covid-19 não olha a quem infectar, qualquer um de nós pode estar susceptível de ser infectado”, salientou o porta-voz da Saúde em Cabo Verde, para quem sem o cumprimento das normas de protecção qualquer pessoa pode ser infectada pelo novo coronavírus. Do total de casos de Covid-19 no país desde 19 de Março, há a registar oito mortos e dois doentes foram transferidos para os seus países.
Até agora, 440 doentes já foram considerados recuperados, representando 47% do total, permanecendo 494 com infecção, segundo o director nacional da Saúde.