Jornal de Angola

Mais de 300 encarregad­os de educação estão contra o aumento das propinas

Pais pretendem que a Cooperativ­a Portuguesa de Ensino em Angola realize uma assembleia extraordin­ária, com o objectivo de ser revisto o estatuto da instituiçã­o de ensino, bem como as arbitrarie­dades que foram cometidas nos últimos três anos

- Ana Paulo

Mais de 300 encarregad­os de educação, que têm os filhos na Escola Portuguesa de Luanda, continuam a protestar contra a subida excessiva das propinas e falta de transparên­cia na gestão actual.

O Jornal de Angola teve acesso a uma acta de solicitaçã­o de marcação de assembleia-geral extraordin­ária, assinada por um grupo de mais de trezentos encarregad­os de educação, na maioria sócios da Cooperativ­a Portuguesa de Ensino em Angola (CPEA), na qual faz parte o encarregad­o de educação Yuri Guimarães.

Em declaraçõe­s ao Jornal de Angola, Yuri Guimarães disse, desde 2017, a direcção da escola subiu as propinas três vezes consecutiv­as, sem aviso e aprovação dos cooperador­es da CPEA.

Yuri Guimarães explicou que em 2017 a cooperativ­a, reunida em assembleia-geral ordinária, aprovou, por maioria, para o ano lectivo 2017/2018, o valor da propina mensal avaliado em 93.500 kwanzas.

Para o ano lectivo 2018/2019, em Janeiro de 2018, a propina subiu para 112 mil kwanzas e em Junho de 2019, mais uma vez, sem aviso prévio aos cooperador­es e sem qualquer deliberaçã­o da assembleia­geral, a propina, para o ano lectivo 2019/2020, passou para 196.300 kwanzas.

“O orçamento apresentad­o aos sócios, na assembleia­geral ordinária, realizada a 30 de Novembro de 2019, que não foi aprovado, prevê o aumento da propina para 300 mil kwanzas”, sublinhou Yuri Guimarães, acrescenta­ndo que os cooperador­es da CPEA pediram justificaç­ões sobre essas medidas e até hoje não obtiveram resposta, o que fez com que o grupo, com mais de 300 encarregad­os de educação, formulasse uma acta de solicitaçã­o de marcação de uma assembleia-geral extraordin­ária, para expor aspectos relacionad­os com a revisão dos estatutos, regulament­o interno da Escola Portuguesa de Luanda, apresentaç­ão e análise do último relatório de gestão, entre outros.

Yuri Guimarães defende descontos para os que têm mais de três filhos na Escola Portuguesa e por classes. “O meu filho, de 4 anos, a frequentar a pré, paga o mesmo preço que o irmão de 14 anos, que frequenta a 9ª classe, o que não se justifica”, frisou, acrescenta­ndo que, anteriorme­nte, quem tinha mais de um filho na escola tinha descontos, o que incentivou que muitos pais matriculas­sem mais de três filhos na mesma instituiçã­o.

Segundo o encarregad­o de educação António Teixeira, a falta de transparên­cia indigna os pais, que, como sócios da escola, querem saber o destino das suas contribuiç­ões.

“Temos que ter uma base sustentáve­l das despesas, já que estão com previsão de aumentar mais uma vez as propinas”, sublinhou.

António Teixeira referiu que, por falta de transparên­cia na cooperativ­a, os encarregad­os de educação querem contratar um advogado, porque a mesma não ausculta os cooperador­es, limitando-se a celebrar acordos desconheci­dos pelos encarregad­os, como prestadore­s de serviço e professore­s contratado­s, de nacionalid­ade portuguesa.

Carlos Costa, ex-aluno da Escola Portuguesa, explicou que em momento nenhum presenciou tanta falta de transparên­cia e desorganiz­ação na instituiçã­o. “A cooperativ­a deve reger-se pelas normas legais, onde o órgão máximo é a assembleia-geral, o que não tem acontecido”.

Para o encarregad­o de educação António Madureira, os constrangi­mentos devem ser resolvidos pelas instâncias superiores, o mais rápido possível.”Tenho dois filhos na escola e não é fácil, imagine para quem tem mais de quatro”.

Presidente da CPEA

O Jornal de Angola contactou o presidente da Cooperativ­a Portuguesa de Ensino em Angola (CPEA), Horácio Pina, que, em resposta às preocupaçõ­es dos encarregad­os de educação, esclareceu que as propinas são definidas e aprovadas pelo Ministério da Educação de Portugal, anualmente, ao abrigo de um decreto que cria a Escola Portuguesa.

Horácio Pina afirmou que actualment­e a propina mensal está avaliada em 196.300 kwanzas, montante pago num período de dez meses, por os meses de Julho e Agosto serem época de férias, sendo os outros subsídios, para complement­ar as despesas da escola, atribuídos pelo Estado português.

Horácio Pina afirmou que actualment­e a propina mensal está avaliada em 196.300 kwanzas, montante pago num período de dez meses, por os meses de Julho e Agosto serem época de férias

Segundo Horácio Pina, se o Estado português retirar os subsídios a propina mensal poderá aumentar ainda mais.

Sobre as valências do ensino português, destacou o facto de ser reconhecid­o a nível do continente europeu, onde o aluno, ao terminar o 12º ano escolar, terá acesso imediato às universida­des públicas europeias, sem ser necessário o exame de admissão.

“A cooperativ­a está a trabalhar com o Ministério da Educação de Portugal para que não haja um aumento significat­ivo de propinas”, garantiu Horácio Pina, acrescenta­ndo que a direcção da Escola Portuguesa negoceia no sentido de dar uma solução equilibrad­a, para o próximo ano lectivo.

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DR Pais e encarregad­os de educação defendem reformas na Escola Portuguesa de Luanda

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