Dados promissores
depois de o SarsCov-2 ter surgido na China, a questão da imunidade tem estado no centro das atenções, já que é decisiva para a vida em comunidade e para o desenvolvimento de uma vacina contra a Covid-19.
Se a imunidade ao novo coronavírus vier a revelar-se pouco duradoura, como um estudo britânico, de investigadores do King"s College, sugeria há dias, a possibilidade de uma vacina de longo prazo estará em causa e as implicações para a vida em sociedade serão severas, com muito mais incertezas para os próximos anos.
De acordo com o estudo britânico, os doentes que estiveram infectados com Covid-19 e recuperaram apresentam uma diminuição visível dos anticorpos, passados três meses.
Este pode, no entanto, não ser um indicador decisivo. Por outro lado, os dados publicados agora na Nature pelos investigadores de Singapura abrem outras perspectivas.
Na prática, os anticorpos não são a única parcela da equação na defesa do organismo contra um vírus. As células T, da memória do sistema imunitário, são a outra face desta moeda. Se uma pessoa esteve em contacto com o vírus, elas poderão existir mesmo que num dado momento, nem elas, nem os anticorpos, se detectem. Daí a importância de estudos como este, que avança novos dados sobre a questão.
Na sequência dos resultados do estudo, a equipa de Singapura quer agora seguir os doentes de Covid-19 recuperados que já avaliou, para poder acompanhar a persistência das células T específicas para o novo coronavírus.
"Já iniciámos esse estudo nos doentes recuperados, para verificar se a imunidade demonstrada nas suas células T persiste ao longo do tempo", adiantou Tan Yee Joo, do Departamento de Micriobiologia e Imunologia da Escola de Medicina da Universidade Nacional de Singapura, outro dos autores do estudo. "Esta questão é muito importante para o desenvolvimento de uma vacina", sublinhou.
Seja como for, o facto de a equipa ter detectado, 17 anos depois, células de memória específicas para o primeiro vírus SARS no sistema imunitário das pessoas que estiveram infectadas na altura, é, para já, um bom indicador em relação ao novo coronavírus.
Por isso, estima Jenny Low, investigadora do Departamento de Doenças Infecciosas da Universidade Nacional de Singapura, e outra das autoras do trabalho, estes dados novos "podem ser um passo para ficarmos mais perto de uma vacina eficaz para a Covid-19".