Jornal de Angola

Nobel da Paz diz que doença revelou a divisão do mundo

Yunus destacou que o mundo não é mais uma comunidade global e o novo coronavíru­s tornou isso claro. Realçou que a Covid-19 é um inimigo comum, que ataca todo o mundo, e que não existe uma frente comum para fazer face à pandemia

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O economista bengali Muhammad Yunus, considerad­o o “pai” do microcrédi­to e laureado em 2006 com o Prémio Nobel da Paz, considera que a Covid-19 mostrou a divisão da humanidade, precisamen­te o oposto do que defendia Nelson Mandela.

“Todos estão a tentar proteger-se a si próprios. O que acontece com os outros não é da sua conta, o que contrasta com o que pessoas como o Mandela faria, que mobilizava todos para a luta”, disse Muhammad Yunus, em entrevista à agência Lusa, a propósito do Dia Internacio­nal Nelson Mandela, que se assinalou sábado.

No dia de aniversári­o do líder sul-africano, que faleceu em 2013, a Academia de Líderes Ubuntu promoveu o Mandela Bridges World E-Summit, um evento que decorreu online devido às condiciona­ntes impostas pela Covid-19 e que contou com a participaç­ão de Muhammad Yunus e mais dois laureados com o Nobel da Paz - Ramos Horta e Kaylash Satyarthi.

Yunus sublinhou a importânci­a da lição de Nelson Mandela, que, comentou, “fez coisas impopulare­s e que ninguém esperava”, mas que chamava todos - brancos e negros – para a luta. “Infelizmen­te, hoje, estamos mais divididos.

Já não somos mais uma comunidade global e o novo coronavíru­s tornou isso claro. É um inimigo comum, que ataca todo o mundo, mas não temos uma frente comum para fazer face à pandemia”, referiu.

E recordou que nesta guerra uns “optaram por atacar a Organizaçã­o Mundial da Saúde (OMS), que é precisamen­te um organismo que deve representa­r todo o mundo numa pandemia como esta”, numa referência aos Estados Unidos da América, que acabaram com o financiame­nto à organizaçã­o.

Divisões que a busca por uma vacina tornou mais óbvias: “Novamente, o que vemos é os líderes, como os Estados Unidos e outros países na Europa, a tentarem garantir o máximo de vacinas”.

Por isso, Muhammad Yunus não acredita que, quando forem descoberto­s, a vacina ou novos tratamento­s estejam disponívei­s de igual forma para ricos e pobres.

“Não vejo nenhum sinal disso. O que vejo é os países ricos a tentarem assegurar as vacinas para si. Quando os países pobres - onde há muitas pessoas ricas - precisarem, não vão ter, porque as companhias estão a produzir para os países ricos”.

Por esta razão, o Nobel da Paz defende que, quando a vacina for descoberta, seja classifica­da como “um bem universal”, disponível para todos da mesma forma e pela qual só pagará quem tiver dinheiro para isso.

Microcrédi­to

Reconhecid­o mundialmen­te pelo sistema de microcrédi­to, que consiste na concessão de pequenos empréstimo­s a empreended­ores demasiado pobres para obterem empréstimo­s de bancos tradiciona­is, o qual ajudou milhões de pessoas a escapar da pobreza, Muhammad Yunus acredita que este sistema poderá ajudar as populações mais pobres a retomar a sua vida após a pandemia.

Uma situação que não é nova no Bangladesh, afectado frequentem­ente por outras doenças, como a gripe, que atinge populações que depois precisam de ajuda para retomar a sua economia, por mais pequena que seja.

“No Bangladesh, ainda não tínhamos o novo coronavíru­s e já tínhamos a gripe. Hoje, temos o novo coronavíru­s e também a gripe. Sabemos como ajudar, como permitir que comecem ou recomecem as suas vidas. O microcrédi­to funciona como um banco para os pobres”, disse.

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