Nós e os desafios da pandemia
A mensagem que o Presidente da República, João Lourenço, dirigiu na sexta-feira (17 de Julho) à nação foi uma importante advertência aos cidadãos angolanos, numa altura em que já há no país a circulação comunitária do vírus da Covid-19, com destaque para a província de Luanda. Como sabemos, há segmentos da sociedade que não observam as medidas preventivas, entre elas o uso correcto e obrigatório das máscaras e o distanciamento social entre as pessoas, sobretudo os utentes dos serviços de táxi nas paragens, os vendedores e vendedoras dos mercados informais e ainda os casos que assistimos amiúde de violações sistemáticas da cerca sanitária municipal, provincial e até nacional.
Nas palavras do próprio Presidente da República, “desde os sucessivos períodos de Estado de Emergência à declaração da Situação de Calamidade Pública, todos os nossos esforços foram no sentido de conter ao máximo a possibilidade real de propagação do vírus, ao mesmo tempo que procurámos não penalizar muito a economia nacional e os direitos fundamentais e o bem-estar dos cidadãos, exercício de equilíbrio nem sempre tão fácil de se exercer.” Esta afirmação aponta para a necessidade da manutenção do envolvimento de todos, pois é uma luta onde cada um de nós é potencialmente vítima ou agente da doença nas suas variadas consequências à saúde e à economia.
Ciente de que a pandemia tem produzido um cenário alarmante em diversos países, João Lourenço soube buscar outros exemplos para tocar o coração e a consciência do povo angolano sobre o elevado risco a que todos estamos expostos nestes tempos de desafios contra o novo coronavírus. Antes da pandemia, Angola já estava a trabalhar arduamente no sentido de ampliar leitos hospitalares e permitir aos cidadãos o acesso à saúde. Prova disso está nas recentes inaugurações que confirmam a antecedência das obras em relação ao anúncio da OMS sobre a pandemia.
Ainda assim, o Presidente foi oportuno ao lembrar que de nada adianta ter estruturas se não houver a consciência dos cidadãos. “Tenhamos todos consciência de que não é o investimento em unidades hospitalares, em meios de tratamento e em pessoal médico especializado que nos vai salvar, a julgar pelo que observamos nos países industrializados e mais desenvolvidos do mundo, que mesmo tendo inúmeros recursos financeiros, os mais modernos centros de investigação científica, a mais desenvolvida indústria farmacêutica e outras valências, lamentavelmente têm um número crescente de infectados e de mortos bastante grande”, ponderou o Presidente.
Outro factor de elevada complexidade na abordagem, mas que revelou a ampla e irrestrita atenção do Chefe de Estado aos diversos tentáculos que compõem este delicado momento vivido no planeta, foi a crítica à estigmatização dos pacientes recuperados e também os seus contactos sociais (famílias e amigos). Aqui devemos lembrar que no Ghana, muitos pacientes recuperados da Covid-19 têm sido vítimas de estigma e discriminação. Naquele país africano, o Governo está a enfrentar desafios que impõem a necessidade de mudança da situação e tem feito apelos sistemáticos aos cidadãos para que sejam mais solidários e consequentes no apoio aos ex-doentes.
Países que negligenciaram os riscos da pandemia sofrem hoje consequências desastrosas, até mesmo potências económicas e outros com os quais Angola possui relações de proximidade. É preciso que todos saibamos tirar as melhores lições e possamos compreender a seriedade e complexidade do problema da pandemia. Para isto, João Lourenço explicou a preocupação ao dizer que “o nosso apelo vai no sentido de levarmos muito a sério esta nova realidade com a qual passamos a conviver todos os dias nas ruas e em todos os locais públicos, sobretudo fechados, e com alguma concentração de pessoas.”
Temos sido um exemplo positivo no enfrentamento do novo coronavírus. O êxito dos trabalhos das autoridades de saúde, sanitárias, políticas e todas as frentes criadas para que possamos superar os obstáculos da pandemia depende muito da disciplina e responsabilidade de cada um e de todos os cidadãos. Nunca é demais lembrar que para proteger a maioria, está previsto também o uso das medidas de coerção para salvaguardar a saúde e a segurança das pessoas. Lamentavelmente há pessoas que obrigam à aplicação deste tipo de recurso extremo.
“Desde que se tornaram públicos os primeiros casos de Covid-19 no mundo, no início do corrente ano, que o país se mobilizou e começou a tomar as medidas que na altura se julgavam as mais adequadas para fazer frente à pandemia”, foram as palavras de abertura na mensagem do Presidente. Para esta reflexão elas soam como a provocação que fica para o fomento do importante debate sobre o papel de cada angolano na luta contra os desafios impostos pela pandemia.