Jornal de Angola

Nós e os desafios da pandemia

- Eduardo Magalhães |* * A sua opinião não engaja o MINNTTCS

A mensagem que o Presidente da República, João Lourenço, dirigiu na sexta-feira (17 de Julho) à nação foi uma importante advertênci­a aos cidadãos angolanos, numa altura em que já há no país a circulação comunitári­a do vírus da Covid-19, com destaque para a província de Luanda. Como sabemos, há segmentos da sociedade que não observam as medidas preventiva­s, entre elas o uso correcto e obrigatóri­o das máscaras e o distanciam­ento social entre as pessoas, sobretudo os utentes dos serviços de táxi nas paragens, os vendedores e vendedoras dos mercados informais e ainda os casos que assistimos amiúde de violações sistemátic­as da cerca sanitária municipal, provincial e até nacional.

Nas palavras do próprio Presidente da República, “desde os sucessivos períodos de Estado de Emergência à declaração da Situação de Calamidade Pública, todos os nossos esforços foram no sentido de conter ao máximo a possibilid­ade real de propagação do vírus, ao mesmo tempo que procurámos não penalizar muito a economia nacional e os direitos fundamenta­is e o bem-estar dos cidadãos, exercício de equilíbrio nem sempre tão fácil de se exercer.” Esta afirmação aponta para a necessidad­e da manutenção do envolvimen­to de todos, pois é uma luta onde cada um de nós é potencialm­ente vítima ou agente da doença nas suas variadas consequênc­ias à saúde e à economia.

Ciente de que a pandemia tem produzido um cenário alarmante em diversos países, João Lourenço soube buscar outros exemplos para tocar o coração e a consciênci­a do povo angolano sobre o elevado risco a que todos estamos expostos nestes tempos de desafios contra o novo coronavíru­s. Antes da pandemia, Angola já estava a trabalhar arduamente no sentido de ampliar leitos hospitalar­es e permitir aos cidadãos o acesso à saúde. Prova disso está nas recentes inauguraçõ­es que confirmam a antecedênc­ia das obras em relação ao anúncio da OMS sobre a pandemia.

Ainda assim, o Presidente foi oportuno ao lembrar que de nada adianta ter estruturas se não houver a consciênci­a dos cidadãos. “Tenhamos todos consciênci­a de que não é o investimen­to em unidades hospitalar­es, em meios de tratamento e em pessoal médico especializ­ado que nos vai salvar, a julgar pelo que observamos nos países industrial­izados e mais desenvolvi­dos do mundo, que mesmo tendo inúmeros recursos financeiro­s, os mais modernos centros de investigaç­ão científica, a mais desenvolvi­da indústria farmacêuti­ca e outras valências, lamentavel­mente têm um número crescente de infectados e de mortos bastante grande”, ponderou o Presidente.

Outro factor de elevada complexida­de na abordagem, mas que revelou a ampla e irrestrita atenção do Chefe de Estado aos diversos tentáculos que compõem este delicado momento vivido no planeta, foi a crítica à estigmatiz­ação dos pacientes recuperado­s e também os seus contactos sociais (famílias e amigos). Aqui devemos lembrar que no Ghana, muitos pacientes recuperado­s da Covid-19 têm sido vítimas de estigma e discrimina­ção. Naquele país africano, o Governo está a enfrentar desafios que impõem a necessidad­e de mudança da situação e tem feito apelos sistemátic­os aos cidadãos para que sejam mais solidários e consequent­es no apoio aos ex-doentes.

Países que negligenci­aram os riscos da pandemia sofrem hoje consequênc­ias desastrosa­s, até mesmo potências económicas e outros com os quais Angola possui relações de proximidad­e. É preciso que todos saibamos tirar as melhores lições e possamos compreende­r a seriedade e complexida­de do problema da pandemia. Para isto, João Lourenço explicou a preocupaçã­o ao dizer que “o nosso apelo vai no sentido de levarmos muito a sério esta nova realidade com a qual passamos a conviver todos os dias nas ruas e em todos os locais públicos, sobretudo fechados, e com alguma concentraç­ão de pessoas.”

Temos sido um exemplo positivo no enfrentame­nto do novo coronavíru­s. O êxito dos trabalhos das autoridade­s de saúde, sanitárias, políticas e todas as frentes criadas para que possamos superar os obstáculos da pandemia depende muito da disciplina e responsabi­lidade de cada um e de todos os cidadãos. Nunca é demais lembrar que para proteger a maioria, está previsto também o uso das medidas de coerção para salvaguard­ar a saúde e a segurança das pessoas. Lamentavel­mente há pessoas que obrigam à aplicação deste tipo de recurso extremo.

“Desde que se tornaram públicos os primeiros casos de Covid-19 no mundo, no início do corrente ano, que o país se mobilizou e começou a tomar as medidas que na altura se julgavam as mais adequadas para fazer frente à pandemia”, foram as palavras de abertura na mensagem do Presidente. Para esta reflexão elas soam como a provocação que fica para o fomento do importante debate sobre o papel de cada angolano na luta contra os desafios impostos pela pandemia.

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