Situação em Moçambique pode conduzir à guerra civil
A degradação da situação no Norte de Moçambique continua a preocupar a comunidade internacional, tendo uma consultora internacional referido que o país pode estar a caminho de uma guerra civil
A consultora EXX África sustentou, ontem, em Joanesburgo, que o Norte de Moçambique está cada vez mais perigoso, com as empresas estrangeiras de gás a serem consideradas hostis e a situação a poder descambar para uma guerra civil.
“É provável que os investimentos estrangeiros que providenciam uma receita substancial ao Governo passem, eventualmente, a ser olhados como uma ameaça e uma presença hostil no Norte de Moçambique”, escrevem os analistas desta consultora numa análise à situação no país, citada pela Lusa.
A análise da EXX África salienta que “a escalada drástica da insurgência e a incapacidade do Governo para suster a violência na província indica que os projectos do gás vão ter um risco maior de ataque, mesmo que, por agora, as petrolíferas não sejam o alvo directo dos militantes”.
Estes rebeldes que operam no Norte de Moçambique, na província de Cabo Delgado, não parecem receber grande financiamento por parte da rede internacional Estado Islâmico.
“Os ataques como os de Mocímboa da Praia indicam que a insurgência está a procurar apoio nas comunidades locais para apoderar-se e controlar o território e, assim, ganhar o controlo dos recursos económicos e das receitas governamentais locais”, lê-se no documento, que lembra que “esta táctica já foi tentada no Norte da Nigéria por um grupo próximo do Estado Islâmico” e poderá resultar em Cabo Delgado “devido ao falhanço das medidas de contra-insurgência e à falta de apoio regional a Moçambique”.
Mocímboa da Praia é uma das principais vilas da província, situada a 70 quilómetros a Sul da área de construção do projecto de exploração de gás natural conduzido por várias petrolíferas internacionais e liderado pela Total.
A violência armada dos últimos dois anos e meio já terá provocado a morte de, pelo menos, 700 pessoas, e uma crise que afecta cerca de 211 mil residentes. As Nações Unidas lançaram, no início de Junho, um apelo de 35 milhões de dólares à comunidade internacional para um Plano de Resposta Rápida para Cabo Delgado para ser aplicado de Maio a Dezembro.
Combate ao comércio ilegal
O Governo moçambicano vai começar a recompensar quem denunciar o contrabando de recursos minerais e combustíveis, visando estancar o comércio ilegal deste tipo de produtos, disse, ontem, uma fonte do sector à Lusa.
Dois denunciantes já estão em vias de receber as primeiras recompensas, disse Obede Matine, inspector-geral do Ministério dos Recursos Minerais e Energia. São duas pessoas que deram conta às autoridades de casos de contrabando e que poderão receber, até final de Agosto, 10 por cento do valor obtido com a venda do produto apreendido.
“Os dois denunciantes serão os primeiros beneficiários da recompensa prevista pela legislação mineira moçambicana, mas que carecia de regulamentação e despacho conjunto do Ministério da Economia e Finanças e Ministério dos Recursos Minerais e Energia”, declarou Obede Matine.
Obede Matine adiantou que, além de recursos minerais, os denunciantes de contrabando de combustíveis também serão contemplados com a recompensa de 10 por cento do valor da venda em hasta pública ou de multa aplicada pelo contrabando do produto.
Crise alimentar
A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) e o Programa AlimentarMundial(PAM)identificaram 27 países, entre os quais Moçambique, a caminho daquela que pode ser a pior crise alimentar das últimas gerações. “A nova análise da FAO e do PAM identifica 27 países que estão na linha da frente da previsível crise alimentar motivada pela pandemia da Covid-19, já que os efeitos agravam as potencialidades anteriormente existentes de fome”, lê-se na análise divulgada pelas duas organizações mundiais.
Os dados mostram que “estes 27 países estão em risco, ou nalguns casos já estão a ver uma significativa deterioração da segurança alimentar, incluindo o aumento do número de pessoas empurradas para a situação de fome extrema”, alerta o relatório.
Na lista, além de Moçambique, estão países asiáticos, da América Latina e do Médio Oriente, num total de 15 dos 27, numa lista que é completada por 12 países africanos, a maioria dos quais na África Subsaariana. Estes países já estavam a liderar com altos níveis de insegurança alimentar e fome extrema mesmo antes da pandemia da Covid-19, devido a choques anteriores, como crises económicas, instabilidade e insegurança, eventos climatéricos, pestes herbívoras e doenças de animais, disse o director-geral da FAO, Qu Dongyu, citado no relatório.
A África Austral teve apenas uma época de chuvas normal nos últimos cinco anos e enfrentou a pior época de insegurança alimentar dos últimos dez anos.