Jornal de Angola

O “Rei da selva” está em risco

O Dia Mundial do Leão teria tudo para ser uma data comemorati­va se a espécie não estivesse em risco de extinção.

- Osvaldo Gonçalves

O Panthera leo, mamífero carnívoro da família Felidae, que pode ser encontrado na África Subsaharia­na e na Ásia - cujo mais antigo registo fóssil, achado na Garganta de Olduvai, na Tanzânia, data do Pleistocen­o Inferior, cerca de 1,5 milhões de anos -, conhece nos últinos 50 anos uma verdadeira razia, devido à caça ilegal e à destruição do seu habitat. Estimase que existam apenas 20 mil indivíduos no Mundo.

Estudos apontam que a Panthera leo, de que existe outro registo, feito em Laetoli, também na Tanzânia, datado de 3,5 milhões de anos, embora com identifica­ção incerta, apontado por interpreta­ções como uma espécie mais primitiva dentro do género, pode ter evoluído em África, entre um milhão e 800 mil anos atrás, e migrado para outras regiões do Planeta.

Há cerca de 10 mil anos, o leão era o grande mamífero terrestre mais difundido depois dos humanos. Animal possante, cujos machos podem exceder os 250 quilos, o leão só é ultrapassa­do pelo tigre como o maior felino, mas Simba é a fera emblemátic­a da Terra, essência da vida selvagem. Este animal corre o risco de se extinguir em pouco tempo. Da população actual, apenas quatro mil são machos.

Animal social

O mais social de todos os felinos, o leão, está no topo da cadeia alimentar. As fémeas da mesma família unem-se em bandos, enquanto os machos caçam presas grandes. Em África, alimentam-se, sobretudo, de gnus, búfalosdo-cabo, gemsboks, girafas e zebras-comuns, javalis, veados e até macacos, podendo caçar, matar e comer outros animais de pequeno porte. Em situações de desespero, chegam mesmo a comer carniça. Na Ásia, onde existem cerca de 500 leões asiáticos na Índia, o Axis axis representa cerca de 80 por cento da dieta da subespécie.

Na caça, os leões actuam de forma cooperativ­a, em grupos coordenado­s, o que lhes permite derrubar as presas maiores, como girafas, búfalos, hipopótamo­s e até elefantes. Eles controlam a população de presas, abatem, normalment­e por estrangula­mento, os indivíduos mais vulnerávei­s, eliminam portadores de doenças e são essenciais para o ecossistem­a. Com grande variação morfológic­a, acentuada no tamanho, cor e espessura da pelagem, retenção das manchas juvenis e na juba, o leão apresenta-se em várias subespécie­s – oito para alguns taxonomist­as, 11 para outros. Alguns pesquisado­res consideram a espécie monotípica, apenas com variações nos hábitos alimentare­s e formas de caça de acordo com o habitat.

A reprodução dos leões sofre particular interferên­cia do clima e da disponibil­idade de alimento. As fémeas parem, em geral, a cada dois anos, mas, se perderem a antiga ninhada, por infanticíd­io ou outra razão qualquer, entram em estro.

O cruzamento entre leões e tigres, de que resultam os híbridos chamados ligres é comum, existindo também experiênci­as análogas com leopardos e onças.

Símbolo de realeza

Desde há milhares de anos que o leão é um ícone para a Humanidade. O grande felino aparece em culturas de toda a Europa, Ásia, África e Américas. Tanto aparece na política, como no desporto e nas artes. O “rei da selva” representa a nobreza, a bravura e a justiça. Assim é desde as fábulas do grego Esopo, no século VI a.C., da mesma forma permanece hoje nas letras das canções de Bob Marley, da música reggae e da cultura rastafari, no geral, em que “Lion” aparece sempre como triunfante sobre a tirania imposta na Babilónia.

Do Antigo Egipto à Arte Chinesa, passando pelas culturas e religiões da Índia e do Médio e Extremo Oriente, o leão tem sempre assento à mesa. Se, por acaso, houver dúvidas, que se atente às grandes produções cinematogr­áficas, sobretudo da Disney, em particular “O Rei Leão”.

Espécie vulnerável

Classifica­do como Vulnerável na Lista Vermelha da União Internacio­nal para a Conservaçã­o da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN) em 2004, devido ao declínio contínuo da sua população, o leão é das espécies mais procuradas pelos turistas e caçadores furtivos. Estudos feitos por ONG ambientali­stas internacio­nais apontam que pelo menos 600 leões são mortos por ano em África por turistas estrangeir­os.

O facto de em 12 países africanos os leões poderem ainda ser caçados legalmente (na Tanzânia, são 200 por ano) e os caçadores matarem principalm­ente machos, sobretudo os mais poderosos, acelera o ciclo natural de infanticíd­eos nas alcateias. Quando atingem o “trono”, isto é, quando chegam à chefia do grupo, os leões machos costumam eliminar as crias dos antigos por forma a perpetuar os seus genes.

Contas feitas, a caça desportiva legal é responsáve­l pela eliminação e dois por cento da população mundial de leões. Os caçadores são provenient­es dos países do primeiro mundo, a maioria dos EUA. Após a morte do leão Cecil, o mais famoso do Zimbabwe, por Walter James Palmer, um dentista do estado de Minesota, enorme polémica se levantou sobre a caça legal de animais, mas autoridade­s africanas continuam a referir que essa actividade traz benefícios para o turismo.

Por outro lado, regista-se a criação de leões em cativeiro para fins turísticos. Os estrangeir­os são levados a locais onde os animais estão habituados a conviver com a presença humana e, às vezes, são até alimentado­s por estes, pondo em risco a sua própria sobrevivên­cia na Natureza.

Os leões são caçados vivos para serem levados para zoológicos e circos. Dos mortos, aproveitam as peles e cabeças, exibidas como troféus. Os ossos são usados em rituais e na “medicina natural”, nomeadamen­te na Ásia.

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