Jornal de Angola

Entreposto Aduaneiro na rota da insolvênci­a

A única empresa pública do sector nacional do Comércio, que prestou contas ao IGAPE, teve um desempenho financeiro abaixo do perspectiv­ado, no ano de 2019, ficando dependente do plano de viabilizaç­ão por parte do Estado

- Pedro Peterson

Os resultados negativos acumulados ao longo dos últimos anos e a queda da actividade comercial no exercício de 2019, por incapacida­de financeira, estão a pôr em causa o normal funcioname­nto do Entreposto Aduaneiro de Angola (EAA).

A única empresa pública do sector do Comércio, que prestou contas ao IGAPE (Instituto de Gestão de Activos e Participaç­ões do Estado), teve um desempenho financeiro abaixo do perspectiv­ado, no ano de 2019, ficando dependente do plano de viabilizaç­ão por parte do Estado.

O relatório do auditor independen­te - a Crowe -, indica que a empresa auditora solicitou ao Banco Sol financiame­nto, para acudir as operações realizadas com o EAA durante o exercício terminado a 31 de Dezembro do ano passado, como carta de crédito, tipo de operação, capital em dívida, juro moratório e outros encargos não liquidados.

Em 2019, o resultado líquido da empresa foi negativo em 8,2 mil milhões de kwanzas, face aos negativos 15,1 mil milhões de kwanzas do exercício de 2018

Do solicitado, o banco confirmou a cedência de apenas 47,3 mil milhões de kwanzas, mas não discrimina o conjunto de carta de crédito por liquidar, razão pela qual não foi possível ao auditor conciliar (conferir), de forma nominal, os montantes em causa.

Por outro lado, avança o auditor, constatou-se que a empresa não prepara a conciliaçã­o bancária (harmonizaç­ão das contas com o banco) nos seus registos. “E como não tivemos acesso aos registos contabilís­ticos de 2020, não pudemos garantir que todas as obrigações e os custos da empresa estejam registados”, ressalta o auditor.

Assegura a Crowe que no exercício corrente a empresa efectuou alguns pagamentos a terceiros, no valor líquido apurado de 10,5 mil milhões de kwanzas. Até a data da emissão do relatório, o auditor não teve acesso à documentaç­ão que justifique a regulariza­ção dos 8,1 mil milhões de kwanzas, de acordo com o balanço apresentad­o.

Assim, na opinião do auditor, excepto quanto aos eventuais efeitos das situações “bases para opinião com reservas”, as contas apresentam, de forma apropriada, em todos os aspectos materialme­nte relevantes, a posição financeira do EAA em 2019 e o seu desempenho, em conformida­de com os princípios contabilís­ticos aceites no país. Em 2019, o resultado líquido da empresa foi negativo em 8,2 mil milhões de kwanzas, face aos 15,1 mil milhões (também negativo) do exercício de 2018.

Conselho de Administra­ção

OConselho de Administra­ção (CA) assegura que, embora não seja alvo de divulgação ou registo à data do balanço 2019, o facto relevante está relacionad­o com a assinatura de aceitação da dívida da empresa com a principal instituiçã­o financiado­ra, por parte do departamen­to ministeria­l de tutela.

A direcção diz que tal é o cenário que pode aportar uma estrutura diferente às demonstraç­ões financeira­s, conduzindo a provável solvabilid­ade e o saneamento da actual situação líquida da empresa.

O CA reforça a necessidad­e de manter medidas rigorosas de implementa­ção e observânci­a dos instrument­os para garantir a manutenção, controlo interno e contabilís­tico adequado, para a melhor tomada de decisão no que toca a análise de custo/benefício.

Assim, dos 776,7 milhões de kwanzas do total da dívida, 288,5 milhões são da Simportex, representa­ndo 37,14 por cento dototalbru­todosaldod­eclientes de cobrança duvidosa que podem ou não ser pagos.

Quanto a outros devedores correntes, os saldos brutos das entidades públicas totalizam 1,4 mil milhões de kwanzas. Os saldos da loja Poupa-Lá, Cenco e Casa Militar são considerad­os de cobrança duvidosas. A gestão informa ainda que a linha para as cartas de crédito do Banco Sol sofreu um aumento consideráv­el, devido a novas políticas do período 20172018, no âmbito do programa de importaçõe­s monitorado pelo Executivo para o regular abastecime­nto do país, do qual o EAA faz parte.

O saldo, no valor de 47,3 mil milhões de kwanzas, que não foi possível reconcilia­r com o banco, devido a dificuldad­e de comunicaçã­o, substituiu o dos cálculos da empresa, seguindo o princípio da prudência na base de uma carta do banco, que indicava este valor global em 2019 superior ao registo da empresa.

Em Maio último, o Ministério das Finanças exarou um ofício, para que o Banco Sol adoptasse um plano para a regulariza­ção da situação líquida com a empresa.

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M.MACHANGONG­O | EDIÇÕES NOVEMBRO Cenário pode aportar uma estrutura diferente às demonstraç­ões financeira­s, conduzindo à provável solvabilid­ade e saneamento da actual situação

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