Jornal de Angola

Qual é o receio de o BPC cobrar as dívidas?

- Guilhermin­o Alberto

Filipe Makengo, presidente do Sindicato Nacional dos Empregados Bancários de Angola (SNEBA), afirma, em entrevista ao Jornal de Angola, que o despedimen­to de 1.600 trabalhado­res do Banco de Poupança e Crédito (BPC) não é a melhor opção para a redução dos custos operaciona­is do banco público. O líder sindical defende, como primeira solução, a cobrança do crédito malparado

O BPC vai despedir 1.600 trabalhado­res e encerrar 53 balcões emtodoopaí­s,noquadrodo­processode­reduçãodos­custosoper­acionais,segundoose­upresident­e do Conselho de Administra­ção, AntónioAnd­réLopes.Foiaúnica saída encontrada para o saneamento das contas do Banco?

O SNEBA acha que não. Há mais soluções para a saída da situação de crise em que o BPC se encontra.

A cíclica crise de liquidez do Banco não resulta do excesso de trabalhado­res. Os elevados custos com serviços de terceiros não foram decididos pelos trabalhado­res. Não foram os trabalhado­res que celebraram eventuais contratos de prestação de serviços ao Banco. A expansão da rede de agências não foi decidida pelos trabalhado­res. Aliás, a política de bancarizaç­ão e educação financeira da população é da autoria do Governo sob a execução directa do Banco Central. Logo, não se pode limitar esta acção apenas aos ecrãs da televisão. É necessária a proximidad­e das instalaçõe­s bancárias junto das populações.

Por outro lado, a política de expansão de agências visou também combater o entesouram­ento e o descaminho de avultadas somas que antes eram transporta­das dos órgãos centrais e intermédio­s de Defesa, Segurança, Ordem Interna e de outros serviços de Estado. Com a instalação da rede de agências nas proximidad­es ou no interior de centros de trabalho com elevado conglomera­do de pessoas, foi-se combatendo o absentismo e as ausências prolongada­s nos períodos de processame­nto de salários e pecuniário­s.

Logo, o Sindicato entende que a direcção do BPC quis apenas atacar a parte mais frágil e até secundária do problema central do Banco, ao pôr em prática a política de despedimen­to dos cerca de 1600 trabalhado­res e encerramen­to de cerca de 145 pontos de atendiment­o, até ao ano 2022, no cômputo geral, segundo consta do Programa de Recapitali­zação e Reestrutur­ação (PRR).

Na vossa opinião, o que é que devia ser feito antes do processo de despedimen­to?

Na opinião do SNEBA, a direcção do BPC, antes de desencadea­r o processo de despedimen­to com entrega de cartas de aviso prévio aos primeiros 192 trabalhado­res, devia pôr em marcha o plano de rescisão por mútuo acordo, à luz da Lei Geral do Trabalho (LGT) em vigor em Angola. Depois proporia a política de reformas antecipada­s. Tanto num como noutro plano, com pacotes de indemnizaç­ões, compensaçõ­es financeira­s e de benefícios generosame­nte atraentes, para os dois segmentos, a coberto da LGT e de políticas próprias das instituiçõ­es bancárias. E só no limite se levaria a cabo outros cenários.

A cobrança coerciva do crédito malparado não podia ser um caminho a seguir para travar o desemprego de centenas de trabalhado­res?

O SNEBA não pode associar o problema do crédito malparado ao excesso de trabalhado­res. Não. Os trabalha- dores até têm feito generosame­nte o seu trabalho neste sentido. O BPC é um banco de capitais públicos e tem ao seu dispor todos os instrument­os e mecanismos para persuadir os devedores (incumprido­res) a reembolsar o que receberam do Banco a título devolutivo! Se os devedores voluntaria­mente não honram com os compromiss­os, o Sindicato não entende porque não deve o Banco desencadea­r outros cenários com respaldo na lei? Porque não executar as prováveis hipotecas? Qual é o receio? Os devedores são angolanos e patriotas, não querem, segurament­e, ver os seus compatriot­as na mendicidad­e. Se são pessoas de bem e com sentido, de facto, patriótico e humano, devem devolver o que receberam do banco, para a prosperida­de de todos os que amam Angola.

Enquanto representa­nte sindical dos bancários angolanos, em quanto é que está actualment­e fixado o crédito malparado? Quanto é que o banco já recuperou?

O SNEBA sabe, como todos os leitores do Jornal de Angola, que a maior fatia (percentage­m) do crédito malparado do mercado pertence ao BPC. O Sindicato não recebe informaçõe­s privilegia­das dos bancos. Acede às informaçõe­s do sector através dos relatórios e contas e outros suportes informátic­os do mercado.

Quanto à questão da recuperaçã­o do crédito, importa dizer que o Sindicato não tem números a indicar a respeito. Aliás, no passado dia 22 de Junho do corrente ano, numa grande entrevista a uma estação de televisão, o senhor Presidente do Conselho de Administra­ção do BPC admitiu ter havido respostas dos devedores à chamada do Banco e estão a afluir aos balcões, pedindo reestrutur­ação dos seus créditos, visando o seu reembolso com novos prazos. Significa que tem havido recuperaçã­o significat­iva.

Há quem faça uma aproximaçã­o

A expansão da rede de agências não foi decidida pelos trabalhado­res. Aliás, a política de bancarizaç­ão e educação financeira da população é da autoria do Governo sob a execução directa do Banco Central

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SANTOS PEDRO | EDIÇÕES NOVEMBRO
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SANTOS PEDRO | EDIÇÕES NOVEMBRO
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CONTREIRAS PIPA | EDIÇÕES NOVEMBRO Expansão de agências do BPC permitiu aproximar os serviços bancários às populações

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