Primeiro-Ministro libanês propõe eleições antecipadas
A crise que se vive no país, após explosões que destruiram o porto da capital e alguns bairros de Beirute, está a alimentar a tensão política e social no Líbano
OPrimeiro-Ministro do Líbano, Hassan Diab, disse, no sábado à noite, que vai propor eleições parlamentares no país abalado pelas explosões mortais no porto da capital, Beirute, pelas quais a população culpa a classe política.
No discurso, televisionado, o governante anunciou que apenas “eleições antecipadas podem permitir a saída da crise estrutural”, acrescentando que está disposto a permanecer no poder “por dois meses”, enquanto as forças políticas trabalham nesse sentido e, durante esse período, liderar o processo de antecipação.
“Convido as partes a chegarem a um acordo sobre o próximo passo. Proporei na segunda-feira (hoje), na reunião do Governo a convocação de eleições parlamentares antecipadas”, disse Diab. “Estamos em estado de emergência quanto ao destino e ao futuro do país”, ressaltou.
O anúncio ocorreu, ontem, depois de um dia de confrontos violentos nas ruas da cidade entre manifestantes e agentes da ordem e no mesmo dia em que a ministra da Informação decidiu deixar o cargo.
Manal Abdel Samad foi a primeira baixa no Governo depois da pressão com acusações de negligência e incompetência dos governantes e políticos libaneses.
Em protestos, os manifestantes pedem explicações das autoridades pelos incidentes no porto da capital.
A ministra apresentou a renúncia após a crise instalada no país na sequência das explosões que devastaram Beirute, na terça-feira, que resultaram na morte de 158 pessoas, seis mil feridos, 21 desaparecidos e cerca de 500 mil desabrigados.
“Depois do enorme desastre em Beirute, apresento a minha renúncia do Governo”, declarou a ministra, num breve discurso na televisão. “Peço desculpas aos libaneses, não atendemos às suas expectativas”, acrescentou.
Segundo notícias veiculadas pela “Sky News”, um agente da Polícia morreu e cerca de 200 pessoas ficaram feridas durante os protestos de sábado, enquanto a Cruz Vermelha libanesa, indicava que das duas centenas de feridos, perto de 120 receberam assistência hospitalar e o agente da Polícia morreu após cair no fosso de um elevador, quando estava a ser perseguido pelos manifestantes.
A tensão entre as forças policiais e os manifestantes subiu não muito longe da sede do Parlamento. Grupos de jovens lançaram pedras e paus e a Polícia utilizou gás lacrimogéneo para os dispersar, sem sucesso, tendo-se verificando confrontos violentos entre as duas partes.
Os manifestantes, liderados por oficiais reformados, tentaram invadir vários ministérios mas conseguiram entrar no Ministério dos Negócios Estrangeiros, onde queimaram um retrato do Presidente Michel Aoun.
“Tomámos o Ministério dos Negócios Estrangeiros para quartel-general da revolução”, anunciou o general na reforma, Sami Rammah, diante de cerca de 200 pessoas que gritavam enfurecidas.
Sami Rammah, que falava nos degraus da casa, danificada pelas explosões, apelou aos “países árabes, todos os países amigos, Liga Árabe e às Nações Unidas para considerarem a (sua) revolução. Os manifestantes, que se concentraram no centro de Beirute pediam vingança contra os dirigentes do país e alguns tinham cordas, para simbolizar o seu enforcamento público.
Carga explosiva
A Fábrica de Explosivos de Moçambique (FEM) confirmou este domingo que encomendou as 2,7 toneladas de nitrato de amónio que estiveram na origem das explosões em Beirute, salientando que a carga apreendida pelas autoridades libanesas foi substituída por outra remessa.
A encomenda foi feita pela FEM, em 2013, à empresa Savaro, da Geórgia, e o local de descarga previsto era o porto daBeira,emMoçambique,disse à Lusa fonte oficial da firma moçambicana. No entanto, aquela carga “nunca foi entregue”, uma vez que o navio ficou retido em Beirute, por ordem das autoridades locais.
A carga ficou armazenada no porto da capital libanesa e terá estado na origem das explosões registadas na terçafeira, que devastaram bairros inteiros e causaram 158 mortos e mais de 6 mil feridos.
Até agora as autoridades de Moçambique nunca confirmaram que o país era o destino do nitrato de amónio. Na quinta-feira, a empresa gestora do porto da Beira disse desconhecer essa encomenda e no dia anterior, o Ministério dos Transportes e Comunicações moçambicano referiu que desconhecia este material explosivo.