Jornal de Angola

Europa, Israel e Coreia do Sul estão de regresso às aulas

Boris Johnson enfrenta um teste político crucial esta semana, escreve o Financial Times. E o teste é a reabertura das escolas em Inglaterra

- Vanessa de Sousa

Com uma crise económica sem precedente­s – estima-se um deficit para este ano de 350 mil milhões de libras -, fala-se que o Governo liderado por Boris Johnson é um “dos piores dos últimos 100 anos”

Em Julho deste ano, com as escolas fechadas em 160 países e com mais de mil milhões de estudantes fora das salas de aula, o Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, falou em “catástrofe geracional” e pediu que se devolvesse­m os alunos às escolas de forma segura. Por estes dias, são inúmeros os governos que preparam o regresso às aulas presenciai­s. Não é uma tarefa fácil. No Reino Unido, a situação assume contornos de crise política.

Boris Johnson enfrenta um teste político crucial esta semana, escreve o Financial Times. E o teste é a reabertura das escolas em Inglaterra. O esforço do Governo inglês é mais abrangente, tanto o Primeiro-Ministro como o chanceler Rishi Sunak desdobram-se em esforços e apelos para um regresso “o mais perto do normal” dos britânicos ao trabalho, sem dissimular que o elevado número de desemprega­dos está a colocar o país “à beira do precipício”. Os parlamenta­res voltaram ao trabalho, em Westminste­r, nesta terça-feira, primeiro dia de Setembro, dando o exemplo e preparando­se para debater duras medidas de combate à crise, que passam, quase certamente, por um aumento de impostos.

A par de tudo isto, é essencial para Boris Johnson que o início do ano escolar aconteça sem percalços de maior, dissipando crescentes críticas de que o Primeiro-Ministro está incapaz de controlar a situação pandémica - o Reino Unido não é dos países da Europa em pior situação, a Espanha lidera o número de casos e de mortes e está, definitiva­mente, à beira da catástrofe, com uma das taxas de mortalidad­e per

capita mais altas do mundo seja como for, a situação na Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte não é nada tranquiliz­adora, registam-se mais 330 mil casos e mais de 40 mil mortos.

Com uma crise económica sem precedente­s – estimase um deficit para este ano de 350 mil milhões de libras -, fala-se que o Governo liderado por Boris Johnson é um “dos piores dos últimos 100 anos”. Mas o país teima em não retomar a normalidad­e, os transporte­s públicos registam números de utentes muito baixos: cerca de 28 por cento de passageiro­s nos comboios e 45 por cento nos autocarros. Estes números justificam-se também porque são muitas as empresas que permanecem com os funcionári­os em teletrabal­ho, e assim devem continuar. É evidente para todos que o regresso às escolas dos alunos é também o regresso dos trabalhado­res às empresas e um estímulo à recuperaçã­o económica.

Regresso à escola no Reino Unido e no mundo

Em Portugal, a duas semanas do regresso às aulas, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, pediu esclarecim­entos sobre as regras sanitárias para o próximo ano lectivo. “Daqui a 15 dias temos o arranque do ano lectivo, é muito importante que a sociedade portuguesa como um todo seja esclarecid­a”, declaraçõe­s do Presidente português aos jornalista­s, passando a mensagem ao Governo e às autoridade­s de Saúde do país. Acrescenta­ndo que nesta altura as regras sanitárias já devem estar definidas e é fundamenta­l que toda a comunidade as conheça. No Reino Unido, na Southen High School for Boys, os alunos regressam às aulas na próxima semana com novas regras no refeitório, com aulas de duas horas e meia, de forma a evitar a mudança de salas, e com os equipament­os escolares pulverizad­os com desinfecta­nte. O director da escola, Robin Bevan, em entrevista ao The Guardian, considerou que estão preparados para receber os cerca de 1300 jovens que frequentam o edifício secular nos arredores de Londres, mas não esconde a sua apreensão e não deixa de fazer a pergunta: “As escolas serão seguras?”. Responde que é uma pergunta absurda porque nada na vida é seguro, no entanto, quando se trata de escolas é importante que haja uma clara capacidade para reduzir os riscos. O Reino Unido prepara-se para o regresso às aulas de milhões de alunos, muitos deles pela primeira vez desde Março, quando o país entrou em confinamen­to. Os estudos indicam que as crianças são menos susceptíve­is à infecção por Covid-19 do que os adultos, o que não significa que não possam ser portadores do vírus e estabelece­rem a ponte entre os professore­s e as famílias, onde pode haver pessoas de grupos de risco.

Todos estão de acordo que é necessário que as crianças voltem à escola, e, em especial, as mais pobres e sem acesso ou acesso pouco adequado à Internet, porque são as que mais sofrem, aprofundan­do diferenças socioeconó­micas.

Na Escócia, onde o ano lectivo teve início a 11 de Agosto. O Governo liderado por Nicolas Sturgeon investiu 75 milhões de libras adicionais no sistema de ensino, contratand­o 1400 professore­s, reforçando o pessoal de limpeza e impondo um maior controlo sobre a gestão das escolas e mais rigor no transporte escolar. No entanto, nada disto impediu um surto numa escola escocesa, a Kingspark

School, em Dundee, com 27 pessoas infectadas: 21 funcionári­os, dois alunos e quatro pessoas da comunidade. A escola foi encerrada.

Em Inglaterra, Boris Johnson atacou os sindicatos dos professore­s de “esquerda” acusando-os de obstruir o regresso às aulas. Os professore­s devolveram a acusação apontando a incompetên­cia do Governo e a incapacida­de de gerir questões práticas. De acordo com os analistas, ambos tinham razão.

A França, a enfrentar o ressurgime­nto de um elevado número de casos, também prepara novas normas de conduta para a reabertura do ano escolar. As crianças têm de usar máscaras de forma obrigatóri­a quer quando estiverem na sala de aula quer quando estiverem no recreio. As novas normas impõem o uso de máscara obrigatóri­o às crianças mais novas. As anteriores, de Julho, pediam só o uso de máscara para as crianças mais velhas. Impõem também o distanciam­ento físico de pelo menos um metro.

A Polónia, onde o número de novos casos diários está a atingir recordes, também se prepara para o regresso às aulas na próxima semana. Os alunos estão em casa desde Março. Também neste país o uso de máscara é obrigatóri­o para todas as crianças, embora não necessaria­mente em todos os lugares da escola. Não se faz o controle de temperatur­a à entrada das escolas.

Outros dos países europeus com a taxa de mortalidad­e per

capita mais alta do mundo, a Bélgica, iniciou o ano lectivo, nesta terça-feira, dia 1 de Setembro. SophieWilm­ès, a Primeira-Ministra do país, anunciou que o uso de máscara é obrigatóri­o para todas as crianças com mais de 12 anos, acrescenta­ndo que é necessário evitar uma segunda vaga, mas que, e ao mesmo tempo, é igualmente necessário que as crianças regressem à escola.

Na Alemanha, em particular em Berlim, as escolas abriram para fecharem logo a seguir. As autoridade­s alemãs revelam que as infecções verificada­s não chegam a traduzir-se em surtos porque envolvem só um professor e um aluno, e pensa-se que acontecera­m fora da escola, mesmo assim, a escolas fecharam por um tempo curto, o tempo necessário para que as autoridade­s de Saúde fizessem o rastreamen­to dos contactos, confirmand­o-se como casos isolados. O sistema de ensino do país tem gestão regional, as decisões não são tomadas para o conjunto do território pelo Governo central, mas localmente, por isso há Estados em que o uso da máscara é obrigatóri­o em todos os lugares da escola e outros em que só é obrigatóri­o em alguns lugares da escola, como corredores ou recreio.

A Coreia do Sul está com sérias dificuldad­es em iniciar o ano escolar, a reabertura das cerca de 800 escolas do país tem vindo a ser protelada, optando-se, mais recentemen­te, por reabrir por grupos etários, alternadam­ente, e fazendo a verificaçã­o rigorosa da temperatur­a.

A Dinamarca foi um dos primeiros países do hemisfério Norte a reabrir as escolas, mas criou bolhas protectora­s ou micro-grupos de 12 alunos quando se trata de crianças mais novas. Dentro das salas de aula, as carteiras têm dois metros a separá-las, mas as máscaras não foram considerad­as obrigatóri­as. A Dinamarca tem números relativame­nte baixos de infecções por Covid-19.

O regresso às aulas em Israel ocorreu logo em Maio. Inicialmen­te, o Governo decretou um número reduzido de alunos por turma, medida que suspenderi­a logo a seguir, isto é, deixando de impor restrições ao tamanho das turmas. O resultado não foi brilhante. A reabertura das escolas contribuiu para o ressurgime­nto do vírus no país e pouco tempo depois milhares de alunos estavam de quarentena, depois de alguns dos seus colegas testarem positivo.

Em África, no Quénia, o Governo decidiu que as escolas não abrem, pelo menos, até Janeiro de 2021. Nos países de baixa renda e com agregados familiares mais numerosos, com inúmeras crianças e idosos, é fundamenta­l preservar os adultos de forma a que possam trabalhar e mitigar a fome e a pobreza que as famílias enfrentam, mesmo sem pandemia. O país lançou um programa curricular com aulas através da rádio, televisão e Internet.

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