Junta tem sete dias para nomear Presidente civil
A cimeira de Chefes de Estado da CEDEAO, que terminou segunda-feira à noite, deu um prazo até dia 15 para que a Junta Militar, actualmente no poder no Mali, nomeie um Presidente civil
A Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) pediu à Junta que tomou o poder no Mali que nomeie um Presidente civil de transição até 15 de Setembro, de acordo com o comunicado final da cimeira desta organização, em Niamey, distribuído segunda-feira à noite e ao qual a AFP teve acesso.
“O Presidente da transição e o Primeiro-Ministro da transição devem ser designados o mais tardar até 15 de Setembro de 2020”, disse o presidente da Comissão da CEDEAO, Jean-Claude Brou, que tinha declarado, anteriormente, que a transição deveria ser “liderada por um Presidente e um PrimeiroMinistro civis por um período de 12 meses”.
“A conferência mantém as decisões”, disse JeanClaude Brou, referindo-se às sanções adoptadas pela CEDEAO: encerramento de fronteiras e um embargo às trocas financeiras e comerciais com o Mali.
A organização “toma nota das consultas em curso entre os actores malianos e o Conselho Nacional para a Salvação do Povo (CNSP)” criado pelos golpistas, acrescentou.
De manhã, na abertura da cimeira, o Chefe de Estado nigerino, Mahamadou Issoufou, actual presidente da CEDEAO, tinha insistido numa “restauração rápida de todas as instituições democráticas”.
“A Junta Militar deve ajudar-nos a ajudar o Mali”, disse, sublinhando que “outros parceiros estratégicos do povo maliano têm a mesma esperança”, referindo-se em particular a França.
Sobre outros assuntos, o Presidente Mahamadou Issoufou instou os colegas a elaborarem um novo roteiro, mantendo uma abordagem gradual ao lançamento da moeda comum e salientou as dificuldades em mobilizar fundos para combater o 'jihadismo na região'.
O lançamento da moeda única, o Eco, que deveria eventualmente substituir o franco CFA na África Ocidental, estava previsto para Julho de 2020, mas as críticas da Nigéria e a crise do novo coronavírus perturbaram um calendário considerado ambicioso por muitos observadores e que não foi respeitado.
“Devemos considerar todas as crises sanitárias, de segurança, políticas e económicas como oportunidades. Aproveitemos, portanto, este momentoque nos oferecem para acelerar a integração regional e continental”, concluiu, na altura, o Presidente nigerino.
Oito Chefes de Estado, incluindo o Presidente senegalês, Macky Sall, e o Presidente da Côte d´Iviore, Alassane
Ouattara, bem como o da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló, estiveram presentes na cimeira.
Nana Akufo sucede Issoufou
Como era esperado, a cimeira “elegeu” o Presidente do Ghana, Nana Akufo-Addo para suceder a Mahamadou Issoufou na presidência da organização regional para um mandato de um ano.
Na sequência do golpe de Estado de 18 de Agosto, o então Presidente do Mali, Ibrahim Boubacar Keita, e vários responsáveis do seu Governo foram detidos e posteriormente libertados, após mediação da CEDEAO.
O ex-Presidente deixou a capital, Bamako na noite de sábado a bordo de um voo especial alegadamente para receber tratamento médico no estrangeiro, mas fontes ligadas à Junta Militar no poder asseguram que a CEDEAO defende o regresso ao Mali de Ibrahim Boubacar Keita caso a Justiça e segurança do país o exijam.
A Junta Militar, que se auto-designou Comité Nacional para a Salvação do Povo, está a promover consultas com diversas formações políticas civis do país para preparar o processo de transição.
Além da instabilidade política, o Mali regista uma situação de violência intercomunitária e de frequentes ataques fundamentalistas contra o Exército maliano e as forças estrangeiras, incluindo as francesas, destacadas em extensas regiões do Centro e Norte do país.