Dirigentes pedem cautelas na transferência de atletas
Clubes angolanos são chamados a apostar na qualidade da formação para responder à saída de jovens talentosos
em Angola e ser presença assídua em África, José Muacabalo vê mais-valia na saída de jogadores para o exterior, “por capitalizar o clube e o próprio atleta”, sem deixar de assinalar os eventuais ganhos a serem colhidos pelos Palancas Negras.
“Mas para a concretização destas duas hipóteses, em meu entender, o atleta que desponta deve permanecer pelo menos duas épocas no clube, para ter mais endurance. A abordagem competitiva no continente deve partir dos próprios clubes. A criação de escolas, para terem mais activos que, lançados no nosso campeonato, terão uma verdadeira valorização. Se pautarmos por esta vertente, não haverá risco para os clubes”, recomendou.
Processo estratégico
Comprometido com a devolução do título do Girabola ao Petro de Luanda, recordista de conquistas, 15 troféus, porém a atravessar um jejum de mais de dez anos, Tomás Faria, presidente recémreconduzido na presidência dos tricolores, prefere analisar a questão em várias vertentes.
“A saída de atletas para o exterior é um processo inevitável, mas também estratégico. No nosso caso, atende a um objectivo estratégico que é a autonomia financeira. A curto prazo não me parece que fortalece a Selecção. A longo prazo sim, mas aí um treinador experiente será fundamental. A saída de atletas também pode significar a melhoria na qualidade da formação no nosso país, assim como a melhoria na qualidade táctica dos nossos atletas”.
Em relação ao possível enfraquecimento dos clubes angolanos, sobretudo nas Afrotaças, Faria não vê uma ligação directa, “pois tudo depende do processo de substituição adoptado”. Lembra que os exemplos no mundo mostram que uma coisa não implica outra. Afastou o risco de os clubes angolanos ficarem sem argumentos competitivos em África. “Não está a sair metade da equipa, logo, é extremamente pacífico cobrir as saídas. No nosso caso, a participação em duas fases grupo, em dois anos consecutivos, deu-nos alguma experiência que permite gerir as saídas com cautelas, para aumentar a qualidade da nossa equipa, por isso não será linear o processo de saída e a baixa de qualidade”.
O exemplo das equipas dos países do Oeste de África, defende o dirigente, não serve de paralelo, por terem optado por exportar atletas com idade de escolinhas em diante para a Europa. “Perderam qualidade porque a saída foi massiva. Não é neste momento o nosso caso”.
O Brasil e a Argentina são exemplos de países que perdem muitos atletas para a Europa e as suas equipas continuam fortes no seu continente. “Do meu ponto de vista, a situação não irá alterar muito. Poderá até melhorar. Em relação à venda sem a verdadeira valorização, no nosso caso a estratégia passa por ganhar a médio e a longo prazo, tal como sucedeu com o Bastos”.
Estrela de poucas palavras
Referência obrigatória na história do 1º de Agosto e do futebol nacional, Ndungidi Daniel, vogal no elenco encabeçado por Carlos Hendrick da Silva, colocou o foco nos jogadores, numa espécie de economia de palavras. “Que se adaptem profissionalmente aos novos clubes”.
A antiga estrela realçou o facto de os jogadores serem activos dos clubes, de modo que têm de ser vendidos. Apontou o forte investimento na formação como o caminho para colmatar a possível saída de atletas.
“O futebol mudou muito. Tens de acompanhar o ritmo, se não desapareces. Os nossos clubes não têm poder financeiro”, sustentou.
A legalização