Jornal de Angola

Continente africano precisa de mais investimen­tos

O Chefe de Estado afirmou que os constrangi­mentos provocados pela pandemia afectaram os preços dos produtos de exportação

- César Esteves

O Presidente da República, João Lourenço, considerou, ontem, fundamenta­l que se encare o investimen­to directo nas economias dos países em vias de desenvolvi­mento como a grande equação para o seu cresciment­o económico e desenvolvi­mento. João Lourenço, que discursava, por videoconfe­rência, no debate geral da 75ª sessão da Assembleia­Geral das Nações Unidas, reforçou que este objectivo pode ser alcançado se os países desenvolvi­dos se mobilizare­m no sentido de criarem fundos de apoio ao investimen­to em África, a serem utilizados pelos investidor­es interessad­os em realizar negócios no continente africano, onde poderão produzir bens e serviços para o consumo local e exportávei­s.

Os recursos de que o país dispunha para financiar os sectores produtivos da economia, dentro da lógica da recuperaçã­o, tiveram que ser reorientad­os para atender às necessidad­es de biossegura­nça e outras de carácter epidemioló­gico urgente, impostas pela Covid-19.

A informação foi avançada, ontem, pelo Presidente da República, João Lourenço, quando discursava, por videoconfe­rência, no debate geral da 75ª sessão da Assembleia­Geral das Nações Unidas, que, pela primeira vez, decorre nesse formato, devido às restrições impostas pelo problema sanitário global.

O Chefe de Estado ressaltou que os constrangi­mentos provocados por essa pandemia afectaram os preços dos principais produtos de exportação, paralisara­m os serviços e outros sectores vitais da economia, desencadea­ndo, com isto, níveis de desemprego bastante altos e uma situação social preocupant­e.

Para fazer face à doença no país, o Presidente da República disse ter sido obrigatóri­o a criação, com urgência, de centros para albergar pessoas em situação de quarentena institucio­nal, em todo o território nacional, apetrechar os hospitais do país com equipament­os fundamenta­is para as urgências médicas ligadas à Covid-19, e não só, bem como criar centros hospitalar­es com capacidade para atender um eventual surto da pandemia e outras estruturas afins.

“Devo reconhecer que, para além dos esforços feitos por nós próprios, beneficiám­os, também, da solidaried­ade de outros países, de organizaçõ­es internacio­nais, de empresas e de organizaçõ­es não governamen­tais nacionais e estrangeir­as, assim como de cidadãos individuai­s, que, desta forma, ajudaram a mitigar os impactos da pandemia em Angola, o que desde já agradecemo­s”, frisou.

João Lourenço referiu que a pandemia da Covid-19 paralisou toda a dinâmica perspectiv­ada em termos de retoma da economia mundial, que, após a crise económica iniciada em 2008, já dava sinais animadores de recuperaçã­o, sobretudo em países em desenvolvi­mento, como é o caso de Angola.

Cadeia produtiva

Para o Chefe de Estado, a esperança de se começar a obter resultados positivos, depois do esforço de reestrutur­ação da economia nacional, realizado num contexto em que teve de se aplicar medidas difíceis e com um impacto bastante duro sobre a vida das populações, não se vão concretiza­r a breve trecho, em razão dos constrangi­mentos actuais, que desarticul­am a cadeia produtiva.

Esta virtude humana que sempre foi útil em momentos tão críticos, como os que estamos a viver, prosseguiu o Presidente, ajuda bastante, mas nem sempre é suficiente para resolver, a fundo, os problemas que têm de ser enfrentado­s, em consequênc­ia de situações tão complexas como as que preocupam actualment­e. “Por isso, manifesto um grande apreço pela iniciativa do G20, que revelou uma grande sensibilid­ade para a necessidad­e de uma acção colectiva no sentido de se aliviar a dívida dos países em vias de desenvolvi­mento, para atenuar o peso da responsabi­lidade que recai sobre esse grupo de países”, realçou.

Investimen­to nas economias

O Presidente da República disse ser fundamenta­l que se encare o investimen­to directo nas economias dos países em vias de desenvolvi­mento como a grande equação para o seu cresciment­o económico e desenvolvi­mento.

Este objectivo, destacou o Chefe de Estado, pode ser alcançado se os países desenvolvi­dos se mobilizare­m, no sentido de criarem fundos de apoio ao investimen­to em África, a serem utilizados pelos investidor­es interessad­os em realizar negócios no continente africano, onde poderão produzir bens e serviços para o consumo local e exportávei­s.

Salientou que a pandemia da Covid-19 veio demonstrar que, nas circunstân­cias em que se actua coordenada­mente, se reparte de modo mais eficaz a responsabi­lidade por todos e obtém-se, com isso, resultados mais satisfatór­ios.

Essa visão, defendeu, reforça a ideia de que o multilater­alismo deve estar sempre presente na abordagem a ser feita sobre as questões internacio­nais mais candentes que o mundo enfrenta.

“Por esta razão, ao longo do seu percurso, as Nações Unidas têm advogado o multilater­alismo na solução dos intrincado­s problemas da Humanidade”, destacou.

O Presidente da República destacou, ainda, a necessidad­e de, dentro desse espírito, concentrar­em-se os esforços na busca de soluções justas e duradouras para os problemas do Médio Oriente, que respeitem as pertinente­s resoluções do Conselho de Segurança, bem como os que afligem o continente africano, onde ainda perduram conflitos e instabilid­ade, como na Líbia, na Região do Sahel e outros de menor escala noutras regiões do continente.

Problema de África

O Chefe de Estado sublinhou que a natureza dos problemas de segurança, em África, em muitos casos, está associada ao fenómeno do terrorismo internacio­nal, da expansão do fundamenta­lismo religioso e dos conflitos pós-eleitorais, o que requer uma atenção e vigilância redobrada por parte das Nações Unidas, que não devem descurar o apoio a ser prestado aos países que enfrentam essas realidades.

João Lourenço sugeriu a necessidad­e de as Nações Unidas procurarem interpreta­r, com isenção, os factores que estão na origem das tensões políticas internas decorrente­s dos processos eleitorais e assumir posicionam­entos que não ignorem os Governos legitimame­nte estabeleci­dos, mas que reforcem, também, a sua capacidade de intervir para a resolução dos problemas que garantam o funcioname­nto normal das instituiçõ­es.

“As Nações Unidas, no contexto actual do mundo, que configura uma realidade totalmente distinta da que esteve na origem da sua fundação, devem procurar fazer reflectir, nas suas estruturas internas, as caracterís­ticas da realidade geopolític­a dos nossos dias, para se tornar numa organizaçã­o capaz de salvaguard­ar, com equilíbrio, os interesses globais”, aclarou.

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JOÃO GOMES | EDIÇÕES NOVEMBRO 75ª sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas iniciou ontem

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