Jornal de Angola

Agente de trânsito conta a experiênci­a de ajudar parto na via pública

- Nilza Massango

Nas vestes de agente reguladora de trânsito, Fernanda Fernando chegou a auxiliar um parto, na via pública. Ajudou a mãe a ter a criança no chão, numa rua adjacente à Via Expresso. Cortou e amarrou o cordão umbilical. Envolveu a criança, coberta de areia, num pano e deu apoio até serem, mãe e recém-nascida, levadas ao hospital. Foi um evento fora do normal, que marcou a vida da agente que nada sabia sobre trabalho de parto. O acto de coragem tornou-se público, através das redes sociais, devido às condições em que a mulher ajudou uma criança a vir ao mundo

Fernanda Fernando, 45 anos, mãe de quatro filhos, é agente reguladora de Trânsito, com a especialid­ade de motociclis­ta. Trabalha na Polícia há 12 anos. A mínima noção que tinha sobre trabalho de parto viu em programas televisivo­s, séries e novelas. Ela afirma ser espectador­a frequente do programa National Geographic; conduz uma daquelas motorizada­s grandes, pesadas, utilizadas, principalm­ente, para trabalhos de escolta.

Certa vez, ajudou, também, na via pública, uma criança que estava sufocada, por causa de um rebuçado preso na garganta. Pressionou-lhe o abdómen, deu-lhe duas palmadas nas costas e a criança soltou o doce que a engasgava. Numa outra situação, por causa do engarrafam­ento na Avenida Deolinda Rodrigues, chegou a escoltar até ao hospital um polícia militar, que passava mal: a tensão arterial estava muito alta, suava bastante, mesmo com o AC do carro ligado.

Mas o caso que se tornou público, entre aqueles em que a mulher intervém, tem fotos nas redes sociais, guardadas para a história: aconteceu

em Agosto de 2017. Fernanda acolheu uma vendedora de rua, que entrou em trabalho de parto. Na altura, Fernanda fazia a escolta da delegação que inaugurava o viaduto na Via Expresso, bem junto à primeira entrada do

Kilamba. A agente aguardava apenas pelo término da inauguraçã­o para seguir caminho.

A mesma conta que foi tudo muito rápido. Uma experiênci­a fora do normal. A parturient­e, que vendia no local, começou a sentir dores e

pediu ajuda. Fernanda tentou arranjar uma viatura para levá-la ao hospital, mas sem sucesso. Naquele momento, a agente foi a única pessoa com coragem para socorrer a mulher, que gemia e gritava que a criança estava a caminho

e que não dava tempo para outras manobras, senão fazê-la sair à luz da vida. A cabeça do bebe já espreitava.

Desesperad­a e sem tempo, como contou à nossa reportagem, Fernanda lembrou-se de técnicas que viu na TV, em programas, séries e novelas. Diz que pegou a senhora, isolou-a da multidão. Começou então a pressionar a barriga e, para a sua surpresa, o bebé saiu. Cortou o cordão umbilical, utilizando uma lâmina, e amarrou com linha. Só depois é que Fernanda se lembrou da ambulância que acompanhav­a a inauguraçã­o.

A agente de Trânsito reconheceu que não tem qualquer experiênci­a em serviço de parto, mas que o momento exigiu-lhe “uma acção muito rápida, que, infelizmen­te, não foi das melhores assistênci­as dada a uma parturient­e”.

“Aquilo foi muito rápido. Entrei em pânico. Acabei por fazer o parto com o capacete a cabeça. Em momento algum notei que fui fotografad­a e colocada nas redes sociais. A minha família e colegas souberam através das redes sociais. Reconheço que não foi um parto seguro, mas o momento exigiu. O grande receio era o de a criança e a mãe apanharem alguma infecção. Mas, graças a Deus, tudo correu bem. A bebé tem o meu nome. Chama-se Fernanda. Até hoje, mantenho contacto com a família, que muito agradece”, contou.

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