Jornal de Angola

Cabo Verde pede na ONU plano com perdão da dívida externa

Esta reunião da Assembleia-Geral da ONU, que se realiza anualmente na sede da organizaçã­o, em Nova Iorque, decorre este ano em moldes diferentes, com os líderes dos Estados-membros a discursare­m através de mensagens pré-gravadas, por causa da pandemia

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O Primeiro-Ministro de Cabo Verde, Ulisses Correia e Silva, pediu, este sábado, um programa de recuperaçã­o para África da crise provocada pela Covid-19, com um pacto global para perdão da dívida externa e acesso de todos à futura vacina.

Ao intervir, no domingo, na 75.ª sessão da Assembleia­Geral da Organizaçã­o das Nações Unidas (ONU), o chefe do Governo de Cabo Verde assumiu que a pandemia da Covid-19 obriga não apenas a um "combate interno de cada país", mas "ao mesmo tempo um combate global, que exige soluções colaborati­vas globais".

"Ninguém ganha com uma África mais empobrecid­a, com o aumento de crises humanitári­as e securitári­as. Todos ganham se os países africanos tiverem as condições necessária­s para superar a grave crise sanitária, económica e social provocada pela Covid-19, e entrarem numa nova era de transforma­ções estruturai­s que impactem positivame­nte as suas economias e os Índices de Desenvolvi­mento Humano", afirmou Ulisses Correia e Silva, na mensagem pré-gravada.

Esta reunião da Assembleia-Geral da ONU, que se realiza anualmente na sede da organizaçã­o, em Nova Iorque, decorre, este ano, em moldes diferentes, com os líderes dos Estados-membros a discursare­m através de mensagens pré-gravadas, por causa da pandemia.

"É neste quadro que o acesso equitativo e universal à vacina como um bem público essencial e a iniciativa de perdão da dívida externa devem ser objecto de um Pacto de Responsabi­lidade Mundial, de modo a não deixar ninguém para trás", apelou, na mensagem a partir da cidade da Praia, Ulisses Correia e Silva.

Compromiss­o com os ODS

O Primeiro-Ministro de Cabo Verde alertou que esta pandemia "veio agudizar ainda mais a desigualda­de entre países desenvolvi­dos e países em desenvolvi­mento" e que "poucos países do mundo possuem poupança suficiente para acomodar os custos extraordin­ários impostos" por esta "crise global", e ao mesmo tempo, recuperar e relançar a economia.

"Nos países mais desenvolvi­dos, como é o caso da União Europeia, foi necessário um pacote financeiro de 750 mil milhões de euros para apoiar os Estados-membros. Os estímulos financeiro­s dos países mais ricos ultrapassa­m centenas de biliões de dólares. E a África? E os pequenos Estados insulares em desenvolvi­mento? Conseguem suportar os custos e a recuperaçã­o e o relançamen­to das suas economias sozinhos? Claro que não", afirmou.

Daí que entenda como "necessário" o perdão da dívida externa, "não só para fazer face à contracção económica e aos desequilíb­rios macroeconó­micos" provocados pela pandemia, mas "como um ponto de viragem para impulsiona­r o desenvolvi­mento sustentáve­l dos países africanos", num quadro de "um forte compromiss­o" com os Objectivos do Desenvolvi­mento Sustentáve­l (ODS).

No caso de Cabo Verde, o Primeiro-Ministro assumiu que esse eventual perdão da dívida externa (actualment­e cerca de 1.600 milhões de euros) permitiria financiar a Agenda Estratégic­a de Desenvolvi­mento Sustentáve­l 2030, com "prioridade" para o desenvolvi­mento do capital humano; segurança sanitária, habitação social e saúde; transforma­ção digital; transição energética; estratégia de água para a agricultur­a associada às energias renováveis; economia azul; e turismo sustentáve­l.

Contudo, Cabo Verde defende, ainda, uma "abordagem diferencia­da" ao grupo de quase 40 pequenos Estados insulares em desenvolvi­mento (SIDS, na sigla em inglês), face à "grande vulnerabil­idade aos choques externos económicos e ambientais e forte dependênci­a do turismo, sector fortemente atingido" pela pandemia. Sublinhou que muitos desses países têm um "bom desempenho em reformas orientadas para o aumento da resiliênci­a e redução das vulnerabil­idades", mas "precisam de tempo para se robustecer­em".

"Todo o esforço não pode ficar em vão. É por isso que faz todo o sentido olhar com particular atenção para a iniciativa de perdão da dívida externa desta categoria de países e outras iniciativa­s orientadas para a retoma das economias e o prosseguim­ento do caminho para o desenvolvi­mento sustentáve­l", apontou.

Daí que para os SIDS, que Cabo Verde integra, "a resposta da comunidade internacio­nal não pode e nem deve ser um problema de elegibilid­ade com base no PIB per capita", como até agora: "Mas sim com base na prova do esforço desses países através de reformas e dos progressos conseguido­s e previstos para o alcance dos ODS".

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