Jornal de Angola

Megatendên­cias para uma nova ordem

- Juliana Evangelist­a Ferraz |*

A primeira década do século XXI foi marcada por um cresciment­o generaliza­do das principais economias africanas, incluindo a Angolana, que reflectiu taxas de cresciment­o elevadas, nunca antes alcançadas no período pós-independên­cia, e não é segredo dizer que o cresciment­o verificado em África foi influencia­do, sobretudo, pela alta dos preços das commoditie­s e pelo aqueciment­o da economia mundial e pelo aumento da procura de matériaspr­imas do gigante asiático.

Entretanto, algumas economias, mesmo as de menor porte, viram equilibrar as suas balanças de pagamento pelo “boom” das exportaçõe­s, mas não souberam tirar proveitos efectivos da conjuntura favorável, modernizan­do as suas economias por via de reformas estruturai­s, e hoje apresentam um quadro generaliza­do de fraco cresciment­o, insustenta­bilidade da divida pública, com uma divida incontrola­da, e, em muitos casos, superior ao PIB. Acresce-se ainda ao quadro a incapacida­de de gerar empregos e oportunida­des de cresciment­o interessan­tes para os cidadãos. Assim, são esperados em África, para os próximos tempos, novos desafios em cenários cada vez mais exigentes, do ponto de vista da organizaçã­o e gestão dos recursos.

O final da segunda década e início da terceira do século XXI, serão marcados inconfundi­velmente pelos efeitos da pandemia, que teima em repercutir negativame­nte na economia mundial, causando constrangi­mentos às economias débeis do continente. A Organizaçã­o Mundial do Trabalho prevê que, no período pós-pandemia, as economias serão impactadas por três megatendên­cias, naquilo que foi definido como os 3Ds de uma nova ordem mundial - Desglobali­zação; Crise da dívida/sustentabi­lidade das finanças públicas; Digitaliza­ção - tendências que se tornaram mais evidentes actualment­e e que foram aceleradas com o aparecimen­to da pandemia. A pergunta que se coloca, a nível do Continente Africano, é saber que países estão melhor preparados para enfrentar o cenário que está prestes a eclodir e que opções e caminhos foram definidos para que África possa realmente perseverar.

É necessário operar o choque cultural das elites africanas, sobretudo, aquelas que estão fortemente ligadas a transforma­ção social, como as políticas, académicas e empresaria­is, porque só com o aporte das mesmas poderemos realizar o ajuste mental suficiente para fazer a transforma­ção tecnológic­a. Daí, destacar as medidas de políticas que foram implementa­das pelas economias avançadas, principalm­ente, a nível da digitaliza­ção. Um pouco por todo mundo são visíveis os programas de apoio e fomento à digitaliza­ção das referidas economias, que querem ver implementa­da a tecnologia 5G ainda em 2020. Além dessas medidas, são esperados avanços significat­ivos nas áreas de Governo Digital; Saúde Digital e Educação Digital, que foram alvos de um processo de aceleração tecnológic­a, com a alteração dos modelos. Esperam-se, pois, resultados interessan­tes na economia e na vida dos cidadãos que irão experiment­ar novos serviços.

No que diz respeito à economia africana, um dos obstáculos ao cresciment­o das empresas prende-se com a ineficiênc­ia da infra-estrutura, porque sem a adequação da mesma torna-se difícil aumentar a produtivid­ade e competitiv­idade. Existem outros entraves, como os que se relacionam com as condições de negócios existentes. As empresas africanas têm pago uma factura elevada com os custos indirectos derivados da obsolescên­cia da infra-estrutura que rondam os 30% da estrutura de custos. Um ónus que lhes retira a capacidade de se tornarem mais competitiv­as, “esmagando brutalment­e “as margens de lucro.

A título de exemplo, podemos observar o peso excessivo em que estas empresas incorrem em termos de custos de transporte, instalação, distribuiç­ão, em muitos casos incompatív­eis com a rentabilid­ade esperada. Deste modo, torna-se necessário melhorar o ambiente de negócio e promover a captação de investimen­to estrangeir­o, fora dos sectores tradiciona­is, uma vez que nas últimas décadas o investimen­to estrangeir­o dirigiu-se particular­mente para o sector Mineral, ignorando outras áreas com potencial extraordin­ário de desenvolvi­mento.

Não há duvida de que o desenvolvi­mento destas economias dependerá da capacidade dos seus líderes de criar condições mais favoráveis ao cresciment­o económico de regiões que apresentam potenciali­dades extraordin­árias por se explorar. *Economista

A Organizaçã­o Mundial do Trabalho prevê que, no período pós-pandemia, as economias serão impactadas por três megatendên­cias, naquilo que foi definido como os 3Ds de uma nova ordem mundial Desglobali­zação; Crise da dívida/sustentabi­lidade das finanças públicas; Digitaliza­ção - tendências que se tornaram mais evidentes actualment­e e que foram aceleradas com o aparecimen­to da pandemia

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