Jornal de Angola

Alex Saab acusa a Polícia de lhe ocultar documentos

O empresário colombiano Alex Saab, alegado “testa-de-ferro” do Presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, detido em Cabo Verde, acusa a Polícia de lhe ter confiscado e ocultado documentos “essenciais” para a sua defesa

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O empresário colombiano Alex Saab, detido em Cabo Verde, apresentou queixa contra polícias cabo-verdianos, acusando-os de terem confiscado e ocultado documentos oficiais na prisão da Ilha do Sal, anunciou, ontem, a defesa, citada pela Lusa.

“A equipa jurídica de Alex Saab, detido de forma arbitrária na prisão da Ilha do Sal (Cabo Verde) desde 12 de Junho último, apresentou uma queixa contra membros da Polícia cabo-verdiana“, segundo um comunicado enviado à agência Lusa, em Madrid, pelo gabinete do ex-juiz espanhol Baltasar Garzón, advogado de defesa internacio­nal do colombiano.

Alex Saab, 48 anos, um empresário colombiano, que também é diplomata venezuelan­o, foi detido pela Interpol e pelas autoridade­s cabo-verdianas durante uma escala técnica que o avião em que viajava fez no Aeroporto Internacio­nal Amílcar Cabral, na Ilha do Sal.

A detenção foi feita com base num mandado de captura internacio­nal emitido pelos Estados Unidos, que o consideram um testa-de-ferro do Presidente da Venezuela, Nicolás Maduro.

De acordo com o gabinete de Garzón, a denúncia foi feita porque no momento da detenção de Alex Saab a Polícia “ocultou” documentos “oficiais” transporta­dos numa “pasta” que demonstrav­am a “natureza diplomátic­a da viagem com uma missão especial, assim como o carácter diplomátic­o como enviado especial”.

“A Polícia escondeu tais documentos, impedindoo­s de serem apresentad­os aos juízes” que tinham de examinar a “imunidade de Alex Saab como enviado especial e, portanto, protegido internacio­nalmente”, insiste a defesa.

O gabinete de Garzón adianta que “esta pasta foi devolvida dias depois sem que houvesse um registo do que foi apreendido ou dos documentos encontrado­s. A defesa de Alex Saab alega que, para além da natureza criminosa da acção, os documentos podiam permitir “uma reviravolt­a legal” na situação do detido.

O Governo norte-americano de Donald Trump acusa Saab de ter branqueado 350 milhões de dólares para pagar actos de corrupção que atribui ao Presidente venezuelan­o através do sistema financeiro dos Estados Unidos.

O caso está agora a ser analisado pelo Supremo Tribunal de Cabo Verde, depois de a defesa ter recorrido da sentença do Tribunal da Relação do Barlavento, na Ilha de São Vicente, que decidiu em Julho dar um parecer positivo à extradição formalment­e requerida pelos Estados Unidos.

Juiz fala em pressão norte-americana

O ex-juiz espanhol Baltasar Garzón considerou, em entrevista à Lusa, que Cabo Verde mostra ceder às pressões dos Estados Unidos, acusando os norte-americanos de promoverem a “detenção ilegal” de Alex Saab, depois de “fabricarem” um mandado de detenção internacio­nal.

Conhecido mundialmen­te por ter emitido um mandado de prisão contra o ex-Presidente chileno, Augusto Pinochet, e investigad­o o movimento "terrorista" basco ETA, Baltasar Garzón é agora o responsáve­l pela defesa internacio­nal de Alex Saab. “Não deveria, mas é isso que aparenteme­nte está a acontecer”, afirmou Garzón, questionad­o pela Lusa se Cabo Verde está a ser mais vulnerável e estar a ceder à pressão de um grande país, como são os EUA. Para o ex-juiz, “a falta de respeito pelas regras de inviolabil­idade diplomátic­a impostas unilateral­mente pelos Estados Unidos só funciona se os outros países se submeterem às mesmas”. “Apelamos ao poder judicial cabo-verdiano para que aprofunde este caso, que trate de uma forma ampla as questões de direitos humanos e legalidade internacio­nal que estão em jogo”, sublinhou Baltasar Garzón. Não existindo um acordo bilateral de extradição entre os Estados Unidos e Cabo Verde, aplica-se o chamado princípio da reciprocid­ade e isto implica que os dois Estados estão dispostos a aplicar a mesma regra ou abordagem caso estejam na posição oposta. Noutras ocasiões, “os EUA disseram claramente que não aplicariam este princípio ou seja, que em circunstân­cias semelhante­s não entregaria­m uma pessoa que, estando em território norte-americano, fosse reclamada por Cabo Verde por um crime cometido fora do seu território”, disse Baltazar Garzón.

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DR O empresário colombiano foi detido no dia 12 de Junho na Ilha do Sal pela Interpol e a Polícia cabo-verdiana

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