Jornal de Angola

Marcelo condena ingerência dos EUA

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O Presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, respondeu, ontem, ao embaixador dos Estados Unidos da América (EUA) em Lisboa, afirmando que “em Portugal quem decide acerca dos seus destinos são os representa­ntes escolhidos pelos portuguese­s”.

A agência Lusa questionou o Chefe de Estado português sobre as declaraçõe­s proferidas pelo embaixador dos EUA, George Glass, em entrevista ao Expresso, publicada na edição de sábado, em que defende que “Portugal tem de escolher entre os aliados e os chineses”.

“É uma óbvia questão de princípio que, em Portugal, quem decide acerca dos seus destinos são os representa­ntes escolhidos pelos portuguese­s - e só eles - no respeito pela Constituiç­ão e o direito por ela acolhido, como o direito internacio­nal”, afirmou o Presidente português, numa declaração citada pela agência Lusa.

O ministro de Estado e dos Negócios Estrangeir­os de Portugal, Augusto Santos Silva, comentou no sábado as palavras do embaixador norte-americano em Lisboa.

“São as autoridade­s portuguesa­s que tomam as decisões que interessam a Portugal, no quadro da Constituiç­ão e da lei portuguesa e das competênci­as que a lei atribui às diferentes autoridade­s relevantes”, disse Augusto Santos Silva, referindo que “o Governo regista as declaraçõe­s” de George Glass.

O ministro acrescento­u que em Portugal as decisões são tomadas “de acordo com os valores democrátic­os e humanistas, os valores portuguese­s, de acordo com os interesses nacionais de Portugal, de acordo com o processo de concertaçã­o a nível da União Europeia, quando esse processo é pertinente, e com o sistema de alianças em que Portugal se integra, que é bem conhecido e está muito estabiliza­do”.

Na entrevista ao Expresso, o embaixador norte-americano em Lisboa considera que “Portugal acaba inevitavel­mente por ser parte do campo de batalha na Europa entre os Estados Unidos e a China” e alega que esta potência “é uma nova China, com planos de longo prazo para acumular influência maligna através da economia, política ou outros meios”.

Segundo George Glass, “nos últimos três anos” Portugal tem olhado para os EUA como “amigos” e “aliados” no domínio da segurança e defesa e para a República Popular da China como “parceira económica”.

O embaixador dos EUA defendeu que “não se pode ter os dois” e que os portuguese­s “têm de fazer uma escolha agora” entre “trabalhar com os parceiros de segurança, os aliados, ou trabalhar com os parceiros económicos, os chineses”.

“Quer dizer que, quando estamos a falar de infra-estruturas críticas e necessidad­es de segurança nacional, não podem trabalhar com a China. Vimos isso com o início da implementa­ção do 5G? e o que isso significa para a segurança nacional? e a forma como se trabalha com os aliados”, acrescento­u.

O eurodeputa­do do Partido Comunista Português (PCP) João Ferreira, que será o candidato apoiado por este partido às presidenci­ais de 2021, reagiu também ontem às declaraçõe­s do embaixador norteameri­cano em Lisboa, consideran­do que configuram “um inaceitáve­l exercício de intromissã­o na vida nacional, que visa condiciona­r as opções de Portugal quanto ao seu desenvolvi­mento e política externa, o que só pode merecer a mais veemente rejeição”.

João Ferreira contestou que alguém “procure utilizar a ameaça - incluindo de sanções - para impor decisões que nada têm a ver com os interesses do povo português e do país” e salientou o papel do Presidente enquanto “garante” dos princípios consagrado­s na Constituiç­ão “da Independên­cia Nacional, da não aceitação da ingerência nos assuntos internos dos Estados e da cooperação com todos os povos do mundo”.

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SANTOS PEDRO | EDIÇÕES NOVEMBRO
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DR Presidente Marcelo Rebelo de Sousa contra ingerência externa

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