Papa critica o reacender de populismos
O Papa Francisco criticou, ontem, durante a divulgação da nova encíclica, no Vaticano, o reacendimento de populismos, racismo e discursos de ódio, lamentando a perda de “sentido social” e o retrocesso histórico que o mundo está a viver. “A história dá sinais de regressão. Reacendem-se conflitos anacrónicos que se consideravam superados, ressurgem nacionalismos fechados, exacerbados, ressentidos e agressivos”, escreve Francisco no texto divulgado pelo Vaticano.
A nova encíclica papal, intitulada ‘Fratelli Tutti’, que se dedica à fraternidade e amizade social, foi ontem apresentada, na Praça de São Pedro, no Vaticano, pelo Papa Francisco, após a oração do Ângelus.
‘Fratelli tutti’ (aos irmãos de todos, em tradução livre) é a terceira encíclica do pontificado do Papa Francisco, após ‘Lumen Fidei’(A luz da fé), em 2013, e ‘Laudato si’, em 2015, sobre a ecologia integral.
No sábado, Francisco assinou junto ao túmulo de São Francisco de Assis a nova encíclica, o 299.º documento do género na História da Igreja Católica.
A encíclica, tradicionalmente assinada no Vaticano, é o grau máximo das cartas que um Papa escreve e a expressão ‘Fratelli Tutti’ remete para os escritos de São Francisco de Assis, o religioso que inspirou o líder dos católicos na escolha do seu nome.
O Papa Francisco criticou na encíclica o reacendimento de populismos, racismo e discursos de ódio, lamentando a perda de “sentido social” e o retrocesso histórico que o mundo está a viver.
“A história dá sinais de regressão. Reacendem-se conflitos anacrónicos que se consideravam superados, ressurgem nacionalismos fechados, exacerbados, ressentidos e agressivos”, escreve Francisco.
Naquele que é o primeiro documento do género em cinco anos, Francisco identifica o surgimento de “novas formas de egoísmo e de perda do sentido social mascaradas por uma suposta defesa dos interesses nacionais”.
A encíclica associa os discursos de ódio a regimes políticos populistas e a “abordagens económico-liberais”, que defendem a necessidade de “evitar a todo o custo a chegada de pessoas migrantes”.
Sobre o racismo, Francisco diz ser um “vírus que muda facilmente” e “está sempre à espreita”, em “formas de nacionalismo fechado e violento, atitudes xenófobas, desprezo e até maus-tratos”.
“Essas expressões devem envergonhar a todos, porque põem a descoberto o quão pouco a sociedade evoluiu de facto e que esses avanços não estão garantidos”, considera.
Por isso, exorta os países a abandonarem o “desejo de domínio sobre os outros” e a adoptarem uma política “ao serviço do verdadeiro bem comum”, afirmando que os responsáveis políticos se devem preocupar mais em “encontrar uma solução eficaz” para a exclusão social e económica do que com as sondagens.
O Papa defende ainda que o “desprezo pelos vulneráveis” pode esconder-se em formas populistas que, “demagogicamente, se servem deles para os seus fins”, ou em formas liberais “ao serviço dos interesses económicos dos poderosos”, e alerta para a diferença entre populismo e popular.
Francisco considera essencial pensar a participação social, política e económica, de forma a incluírem movimentos populares e lamenta sobretudo a “intolerância e o desprezo perante as culturas populares indígenas”.
Referindo-se especificamente às redes sociais, mostra-se preocupado com as manifestações de ódio e de destruição aí propagadas, e com o visível aumento de “formas insólitas de agressividade, com insultos, impropérios, difamação, afrontas verbais” até destruir a imagem do outro.
O texto realça que a conexão digital pode “isolar o mundo”, alimenta a divulgação e discussões em torno de ‘fake news’ e aniquila a “capacidade de respeitar o ponto de vista do outro”, um pressuposto do “diálogo social autêntico”.
O Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, católico praticante, já comentou esta nova encíclica do Papa.
Segundo o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, o “poder mobilizador” desta encíclica resulta de nela se “apelar à esperança e à luta pela paz contra a guerra e também de se “juntar S. Francisco de Assis a outras figuras, essas contemporâneas, como Gandhi, Luther King ou Desmond Tutu”.